São Paulo, quinta-feira, 25 de agosto de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONEXÃO RIBEIRÃO

Defensor do ex-assessor de Palocci diz que depoimento à polícia foi prestado sob pressão

Advogado de Buratti sugere que ele pode recuar na CPI

HUDSON CORRÊA
LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

Ex-assessor do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), Rogério Tadeu Buratti, 42, decidiu depor hoje na CPI dos Bingos no Senado para explicar aos senadores o que ele "quis dizer" quando prestou o primeiro depoimento à Polícia Civil de Ribeirão Preto.
A confirmação do depoimento foi feita ontem pelo presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), e pelo advogado de Buratti, Roberto Telhada, que aproveitou para desqualificar o depoimento de seu cliente prestado na semana passada, em Ribeirão.
"Eu desqualifico completamente aquele depoimento, que foi prestado em condições absolutamente impraticáveis, desfavoráveis", afirmou Telhada, dando a entender que Buratti pode mudar as versões apresentadas em seu primeiro depoimento.
Segundo o advogado, Buratti depôs sob pressão, algemado e com o uniforme de presidiário. Sem entrar em detalhes, Telhada disse que "naquele momento que ele falou lá [em Ribeirão Preto], aquilo não é maneira de um ser humano tratar de assunto dessa magnitude. Agora vai explicar o que ele quis dizer. Se é que falou daquele jeito. Terá oportunidade de explicar linha a linha o que ele quis dizer com aquilo."
Buratti afirmou na Polícia Civil que a empresa Leão Leão, da área de coleta de lixo, pagava R$ 50 mil de propina por mês em 2001 e 2002 a Palocci, então prefeito de Ribeirão. Em 1993 e 1994, na primeira gestão do ministro, Buratti foi secretário de Governo. Em entrevista no último domingo, Palocci negou a acusação de Buratti.
A CPI suspeita que, no governo Lula, Buratti atuava como lobista em favor de empresários. Por isso os senadores convocaram, anteontem, o chefe-de-gabinete de Palocci, Juscelino Dourado, que seria o contato de Buratti na intermediação com os empresários.
Telhada disse ainda acreditar que, na CPI, Buratti poderá depor com calma. "Apesar da dureza dos integrantes da CPI, em nenhum momento [no seu primeiro depoimento à comissão] ele foi coagido e ameaçado. Foi tratado com respeito", afirmou.
A CPI havia marcado para ontem o depoimento. Buratti apresentou atestado. "Ele está abatido sob o impacto de tudo isso. Fez eletrocardiograma para ver se tinha problema cardíacos e outros exames. Mas, se Deus quiser, amanhã [hoje], mesmo contundido, ele estará aí para acabar com essa pressão", disse o advogado.
Efraim Morais, após receber a informação de que Buratti não compareceria ontem, remarcou o depoimento para hoje.
Antes de Buratti depor em Ribeirão, Telhada chegou a desistir de defender seu cliente. "Eu realmente me afastei do caso porque não concordei com o que ocorreu em Ribeirão Preto", disse. Ao ser indagado sobre o retorno do advogado, Efraim Morais foi lacônico. "Acho estranho, só isso."
"Na segunda-feira, ele [Buratti] me procurou e me pediu que pelo menos eu o acompanhasse na CPI, porque não teria tempo para contratar outro advogado que pudesse se inteirar de caso", acrescentou o advogado.
Telhada disse ontem que pode não continuar no caso. Vai esperar o depoimento na CPI "para ver se [Buratti] reenquadra-se nos princípios [do advogado] ou se prefere continuar num caminho determinado por ele próprio". Anteontem, o advogado de Buratti se reuniu com senadores para tentar adiar para a próxima semana o depoimento.


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