São Paulo, Quarta-feira, 25 de Agosto de 1999
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PROTESTO
Presidente cita Joaquim Nabuco e afirma que a democracia é a melhor arma na luta contra a pobreza
FHC diz que diálogo deve prevalecer

da Sucursal de Brasília


O presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu ontem que o diálogo prevaleça sobre a intransigência e disse que o "congraçamento democrático" é a melhor arma contra a pobreza. Na quinta-feira, chega a Brasília a "Marcha dos 100 Mil", organizada pela oposição.
A manifestação tem sido atacada por FHC, que anteontem classificou o ato como "marcha dos sem-rumo". O presidente considera antidemocráticos slogans como "Fora FHC", que pedem sua saída do governo.
FHC fez a afirmação durante cerimônia no Itamaraty pelos 150 anos de nascimento do diplomata, escritor e político pernambucano Joaquim Nabuco (1849-1910). Nabuco é uma das figuras mais importantes do abolicionismo, tendo sido o principal líder parlamentar em sua época a defender a abolição da escravatura.
"Nada conflita mais com o legado de Nabuco do que deixar que a intransigência prevaleça sobre o diálogo, do que aceitar que as paixões (...) abafem o respeito à diferença. Que saibamos fazer do congraçamento democrático a melhor arma contra a pobreza, contra a indesculpável indigência material em que continuam a viver milhões de brasileiros", disse.
O melhor tributo à memória de Joaquim Nabuco, disse o presidente, é continuar "apostando no método democrático para a superação de nossas mazelas sociais".
Ao falar de impunidade e desrespeito aos direitos humanos e citar a crítica que Nabuco fazia ao tráfico de escravos, o presidente disse que, "se até hoje encontramos apóstolos da barbárie, podemos imaginar a oposição que sofreu Nabuco em um momento em que se consolidava o Estado-nação".
Segundo FHC, Joaquim Nabuco contestava o uso do princípio da soberania nacional na defesa do tráfico de escravos.
"Atualizados à linguagem atual, os preceitos enunciados por Nabuco ainda encontram resistência. Incomodam os que desejam fazer da soberania uma garantia de impunidade, um amparo que permita o desrespeito a direitos básicos da pessoa humana."
O presidente lembrou que Nabuco defendia reformas sociais e políticas e criticava os partidos da época.
FHC lembrou que o escritor paulista Mário de Andrade (1893-1945) contrapunha seu nacionalismo ao "cosmopolitanismo" de Nabuco. O presidente tomou partido do abolicionista.
"A intensificação do diálogo entre as culturas nos tem feito perceber a relevância da dupla inscrição histórica do brasileiro, de que tanto fala Nabuco", disse.
"Pertenceríamos à América pelo "sedimento novo do seu espírito", mais afeito ao coração, e à Europa por suas "camadas estratificadas", mais afinadas à razão, ao espírito", completou.
O historiador Evaldo Cabral de Mello fez conferência durante a solenidade. "No regime presidencialista, cobra-se do presidente os últimos quatro anos. No Brasil, cobra-se os últimos 400 anos de história do país", disse Cabral de Mello.
(AUGUSTO GAZIR)


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