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PROTESTO
Presidente cita Joaquim Nabuco e afirma que a democracia é a melhor arma na luta contra a pobreza
FHC diz que diálogo deve prevalecer
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique
Cardoso defendeu
ontem que o diálogo prevaleça sobre
a intransigência e
disse que o "congraçamento democrático" é a melhor arma contra a pobreza. Na quinta-feira,
chega a Brasília a "Marcha dos 100
Mil", organizada pela oposição.
A manifestação tem sido atacada por FHC, que anteontem classificou o ato como "marcha dos
sem-rumo". O presidente considera antidemocráticos slogans
como "Fora FHC", que pedem
sua saída do governo.
FHC fez a afirmação durante cerimônia no Itamaraty pelos 150
anos de nascimento do diplomata, escritor e político pernambucano Joaquim Nabuco (1849-1910). Nabuco é uma das figuras
mais importantes do abolicionismo, tendo sido o principal líder
parlamentar em sua época a defender a abolição da escravatura.
"Nada conflita mais com o legado de Nabuco do que deixar que a
intransigência prevaleça sobre o
diálogo, do que aceitar que as paixões (...) abafem o respeito à diferença. Que saibamos fazer do
congraçamento democrático a
melhor arma contra a pobreza,
contra a indesculpável indigência
material em que continuam a viver milhões de brasileiros", disse.
O melhor tributo à memória de
Joaquim Nabuco, disse o presidente, é continuar "apostando no
método democrático para a superação de nossas mazelas sociais".
Ao falar de impunidade e desrespeito aos direitos humanos e
citar a crítica que Nabuco fazia ao
tráfico de escravos, o presidente
disse que, "se até hoje encontramos apóstolos da barbárie, podemos imaginar a oposição que sofreu Nabuco em um momento
em que se consolidava o Estado-nação".
Segundo FHC, Joaquim Nabuco contestava o uso do princípio
da soberania nacional na defesa
do tráfico de escravos.
"Atualizados à linguagem atual,
os preceitos enunciados por Nabuco ainda encontram resistência. Incomodam os que desejam
fazer da soberania uma garantia
de impunidade, um amparo que
permita o desrespeito a direitos
básicos da pessoa humana."
O presidente lembrou que Nabuco defendia reformas sociais e
políticas e criticava os partidos da
época.
FHC lembrou que o escritor
paulista Mário de Andrade (1893-1945) contrapunha seu nacionalismo ao "cosmopolitanismo" de
Nabuco. O presidente tomou partido do abolicionista.
"A intensificação do diálogo entre as culturas nos tem feito perceber a relevância da dupla inscrição histórica do brasileiro, de que
tanto fala Nabuco", disse.
"Pertenceríamos à América pelo "sedimento novo do seu espírito", mais afeito ao coração, e à Europa por suas "camadas estratificadas", mais afinadas à razão, ao
espírito", completou.
O historiador Evaldo Cabral de
Mello fez conferência durante a
solenidade. "No regime presidencialista, cobra-se do presidente os
últimos quatro anos. No Brasil,
cobra-se os últimos 400 anos de
história do país", disse Cabral de
Mello.
(AUGUSTO GAZIR)
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