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JANIO DE FREITAS
À procura de estilhaços
O governo brasileiro comete
perigosa imprudência ao admitir, como fez ao emissário
americano general Barry
McCaffrey, tentar o papel de
mediador na crise colombiana,
por sugestão do governo dos
Estados Unidos.
Mediador, em qualquer caso,
só pode ter possibilidade de eficácia se escolhido pelas partes
opostas. Apenas uma iniciativa das guerrilhas e do governo
colombianos deveria ser examinada pelo Brasil. Já por um
dever de respeito diplomático
e, ainda, pela conveniência de
não trazer para o Brasil estilhaços problemáticos de um
drama exterior.
O governo da Colômbia vive
um estado de sujeição disfarçada aos Estados Unidos, e isso
torna ainda mais impróprios,
considerada a possível eficácia
de uma intermediação, o papel
americano de convidante e a
aceitação em princípio do Brasil. As guerrilhas sabem que
seu principal inimigo não é
mais o governo colombiano,
mas os militares americanos, e
jamais negociarão a sério com
um mediador indicado por
eles.
A terrível encrenca colombiana chegou a um ponto em
que o entendimento dos opostos é quase possível, se esse entendimento pretender preservar a unidade territorial do
país. A dificuldade de mediação começa em que há, com diferentes objetivos, a guerrilha
política e várias guerrilhas ligadas a produção e tráfico da
cocaína. Mais do que isso, a entrega às guerrilhas, feita pelo
atual presidente Andrés Pastrana, do controle administrativo de metade do território
nacional revela-se, agora, um
obstáculo a mais para qualquer acordo. Com tamanha vitória reconhecida pelo governo, as guerrilhas só poderiam
ambicionar ainda maiores
conquistas, sem se interessar,
para valer, por acordo de paz.
A formalização da partilha
territorial, como item de um
acordo, ofereceria aos Estados
Unidos a melhor perspectiva
estratégica. Embora isso não
seja divulgado com sonoridade, levas de soldados americanos estão descendo na Colômbia. Há poucas semanas, foram
mais mil fuzileiros navais. Mas
entrar em guerra franca no território colombiano teria alto
custo político para os Estados
Unidos. Ao passo que um território a parte, um país possuído
por guerrilheiros e narcotraficantes, seria um convite para
mais uma ação de benemerência dos fuzileiros pela civilização ocidental e cristã.
Sejam esses ou outros os desdobramentos da crise colombiana, o dever do governo brasileiro é evitar todo comprometimento que possa lançar, em
território do Brasil, estilhaços
do confronto. Por mais que essa posição contrarie a linha representada pelo general Alberto Cardoso, chefe do Gabinete
Militar da Presidência, e a
comprovação de que o governo
americano já conseguiu o que
tanto tentara em vão: envolver
os militares brasileiros no problema do tráfico de drogas
O governo já criou ao país, e
tem pela frente, bastante complicação. Não há motivo para
buscar também no exterior.
Tanto mais que isso, se for feito, não o será pelo interesse nacional.
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