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NO AR
Da histeria ao terror
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
- Este país não é uma
Argentina.
Era Lula, que com a frase "virou manchete dos principais jornais argentinos" na web, segundo a Jovem Pan. Virou manchete e mordeu a língua.
Em toda parte, no início da
noite, os telejornais brasileiros
bradavam que o real agora está
valendo menos do que o peso argentino.
E ainda assim o presidente
Eduardo Duhalde, que chega
hoje e ontem falou à Band, respondia, questionado sobre uma
vitória do petista:
- Eu creio que o triunfo de
um partido de esquerda não desencadearia nenhuma situação
especial.
Lula nem triunfou ainda, mas
a especulação sobre a nova pesquisa Ibope (além do vencimento de parcela da dívida) levou à
"histeria", uma das expressões
ouvidas ontem.
A histeria foi alimentada por
FHC, que saiu pela televisão declarando que o Brasil "pode se
perder em poucos meses" se o futuro governo não seguir as diretrizes atuais.
FHC que sublinhou, com destaque no Jornal Nacional, que a
alta do dólar não tem nada a
ver com a economia e sim com
"outros fatores".
Pedro Malan também surgiu
no JN para o "terror", outra expressão do dia, cobrando que
Lula tem que se comprometer
ainda mais com a política econômica atual.
Lula, de seu lado, reativou a
teoria da conspiração usada em
ocasiões anteriores.
Lembrou que meses atrás avisou "a sociedade que o governo
não devia brincar com coisa séria, dizer que o dólar subia por
causa da eleição".
A responsabilidade pelo dólar
seria da economia "fragilizada"
por FHC, jamais das especulações eleitorais.
Não se ouviu nada disso no JN,
quase todo ele voltado para José
Serra. Mas Aloizio Mercadante
e o assessor econômico de Lula,
Guido Mantega, apareceram no
telejornal, distribuindo calma
-sem conspiração.
Mantega chegou a admitir na
CBN que "o dólar deve recuar
ao patamar de R$ 3 depois do
processo eleitoral".
Foi um dia inteiro de terror e
histeria -e no fim a pesquisa
Ibope, sempre no JN, apresentou
números os mais contidos. Lula
não passou dos 41%, Serra não
caiu dos 18%.
Mas o que importava ontem
no telejornal era a entrevista do
tucano. Como no primeiro dia,
com Ciro, também nada de
mais agressivo se viu.
Serra falou livremente, diante
da simpatia dos apresentadores,
sorridentes. Respondeu com facilidade ao sumiço de FHC de
sua propaganda.
Falou de emprego, tráfico,
agropecuária. E que, para fazer
cair o dólar, só ele.
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