São Paulo, quarta-feira, 25 de setembro de 2002

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NO AR

Da histeria ao terror

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

- Este país não é uma Argentina.
Era Lula, que com a frase "virou manchete dos principais jornais argentinos" na web, segundo a Jovem Pan. Virou manchete e mordeu a língua.
Em toda parte, no início da noite, os telejornais brasileiros bradavam que o real agora está valendo menos do que o peso argentino.
E ainda assim o presidente Eduardo Duhalde, que chega hoje e ontem falou à Band, respondia, questionado sobre uma vitória do petista:
- Eu creio que o triunfo de um partido de esquerda não desencadearia nenhuma situação especial.
Lula nem triunfou ainda, mas a especulação sobre a nova pesquisa Ibope (além do vencimento de parcela da dívida) levou à "histeria", uma das expressões ouvidas ontem.
A histeria foi alimentada por FHC, que saiu pela televisão declarando que o Brasil "pode se perder em poucos meses" se o futuro governo não seguir as diretrizes atuais.
FHC que sublinhou, com destaque no Jornal Nacional, que a alta do dólar não tem nada a ver com a economia e sim com "outros fatores".
Pedro Malan também surgiu no JN para o "terror", outra expressão do dia, cobrando que Lula tem que se comprometer ainda mais com a política econômica atual.
Lula, de seu lado, reativou a teoria da conspiração usada em ocasiões anteriores.
Lembrou que meses atrás avisou "a sociedade que o governo não devia brincar com coisa séria, dizer que o dólar subia por causa da eleição".
A responsabilidade pelo dólar seria da economia "fragilizada" por FHC, jamais das especulações eleitorais.
Não se ouviu nada disso no JN, quase todo ele voltado para José Serra. Mas Aloizio Mercadante e o assessor econômico de Lula, Guido Mantega, apareceram no telejornal, distribuindo calma -sem conspiração.
Mantega chegou a admitir na CBN que "o dólar deve recuar ao patamar de R$ 3 depois do processo eleitoral".
 
Foi um dia inteiro de terror e histeria -e no fim a pesquisa Ibope, sempre no JN, apresentou números os mais contidos. Lula não passou dos 41%, Serra não caiu dos 18%.
Mas o que importava ontem no telejornal era a entrevista do tucano. Como no primeiro dia, com Ciro, também nada de mais agressivo se viu.
Serra falou livremente, diante da simpatia dos apresentadores, sorridentes. Respondeu com facilidade ao sumiço de FHC de sua propaganda.
Falou de emprego, tráfico, agropecuária. E que, para fazer cair o dólar, só ele.


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