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FOLCLORE POLÍTICO
Milton Campos, Lacerda e os três chineses
RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES
Ao ceder à reclamação de Wilson Figueiredo -a exclusividade para recordar os "casos" do Milton Campos- perdi um pouco
o caminho. Por isso, e com as minhas escusas ao bravo Figueirô,
voltarei ao meu personagem de
eleição: o Milton Campos. Sutil e
malicioso, firme e suave, nas atitudes na atribulada fase da política brasileira na qual foi, ao mesmo tempo, ator e observador.
No fragor dos acontecimentos
que se seguiram à deposição do
presidente João Goulart, a polícia
da Guanabara prendeu três chineses de uma missão comercial
que visitava o Brasil. A prisão foi
apresentada como prova de presença de agentes maoístas no país
em conspiração subversiva.
Presos num quartel do Exército,
os chineses foram denunciados como incursos na Lei de Segurança
Nacional, processo em torno do
qual se fez alarido estrepitoso. O
Sobral Pinto, sempre ele, foi contratado para defender os chineses,
missão que desempenhou com a
sua costumeira paixão e veemência. Na primeira audiência pública Sobral Pinto conseguiu trazer
para o Brasil ciosos observadores
da Anistia Internacional. O caso
acabou fervendo com ampla repercussão internacional incomodando o governo. O presidente
Castello Branco incumbiu o seu
ministro da Justiça, Milton Campos, de encontrar uma saída para
o caso que estava arranhando a
imagem do Brasil no exterior.
Prudente, como sempre, Milton,
antes de encerrar o caso -o que
fez soltando os chineses para que
voltassem à China- resolveu
consultar o Carlos Lacerda, cuja
polícia efetuara a prisão.
O governador ouviu-lhe os argumentos. Mas, em lugar de concordar com o encerramento do caso,
Carlos Lacerda propôs que o governo brasileiro trocasse os três
chineses pela liberdade de três
missionários católicos prisioneiros
no Vietnã do Norte. O Milton ouviu, considerou a idéia interessante e imaginou o tempo necessário
para iniciar os entendimentos diplomáticos. Desconversou como
era de seu temperamento. E no
dia seguinte acertou o embarque
dos chineses de volta à China. E, a
propósito da sugestão de Lacerda,
companheiro de partido pelo qual
nutria especial admiração, comentou: "É curioso o nosso Carlos.
Inventou uma complicação dos
diabos para o caso dos três chineses. É surpreendente esse seu empenho em privar a China de mais
três chineses..."
RAPHAEL DE ALMEIDA MAGALHÃES,
71, ex-governador da Guanabara e ex-ministro da Previdência do governo Sarney,
escreve às quartas nesta seção
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