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JANIO DE FREITAS
A reunião dos desunidos
Afora um, os vários (e curtos) encontros de Luiz Inácio Lula da Silva com presidentes e chefes de governo, em Nova York, tiveram o mesmo objetivo: angariar apoio à pretensão brasileira, já um tanto idosa, de se tornar integrante permanente do Conselho de Segurança da ONU. Mas importante, mesmo, foi aquele que fugiu
à regra. Até pelo que custou a
Lula.
A cadeira vazia de Néstor
Kirchner, que ficou acintosamente no hotel enquanto Lula
discursava na ONU, se não teve
a mesma dimensão política da
falta de solidariedade brasileira no embate da Argentina
com o FMI, foi bastante para
motivar um apressado pedido
de encontro com o presidente
argentino. As duas agendas
presidenciais reviram-se para
reconsiderar o descaso mútuo
que quiseram exibir. Um lado,
porém, piscou primeiro. Era o
lado que devia essa atitude.
O constrangimento que se pôde depreender da fisionomia de
Lula, ao chegar para a visita a
Kirchner no hotel, foi o contraponto para suas desnecessárias
demonstrações, à vista das câmeras, de desprezo pelo discurso de Bush na ONU. Isso podemos fazer nós outros, cidadãos
comuns, e talvez raramente devamos fazê-lo. Melhor fez Bush,
com ironia certeira que negou o
caubói, ao procurar Lula na recepção do presidente da ONU
para dizer-lhe que "o acordo da
Argentina com o FMI foi bom
para o Brasil" (Este instante
não foi captado pelas câmeras,
mas relatado pelas repórteres
Cátia Seabra e Helena Celestino, do "Globo"). O acordo em
que a linha Palocci levou o governo Lula a preferir o silêncio
favorável ao FMI (Fundo Monetário Internacional) do que
uma palavra de compreensão
para com a atitude altiva da
Argentina.
Ao que se pode presumir, a
pretensão brasileira ao Conselho de Segurança continua na
mesma. De apoios certos ou
quase, na América Latina, conta com Venezuela e Peru, porém não com os apoios do México, da Argentina e do Chile,
que seriam os de maior peso político na região. Em relação aos
demais continentes, o Brasil já
tinha simpatias como a da Alemanha e a da Rússia, e já havia
a possibilidade de permuta de
apoio com Índia e África do
Sul. Sempre no caso de serem
acrescentados ao Conselho de
Segurança pelo menos novos
integrantes permanentes. O
que, de qualquer maneira, não
é para já.
É provável que o saldo concreto de toda a movimentação
com a reabertura da Assembléia Geral da ONU fique só por
conta do seu secretário-geral,
Kofi Annan, cujo discurso comunicou a próxima criação de
um grupo para estudar, no prazo de um ano, a reforma da organização. Em português claro,
isso quer dizer: estudar uma
tentativa de salvar da ONU. Ou
esta salvação ou salve-se quem
puder.
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