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São Paulo, quinta-feira, 25 de setembro de 2003

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JANIO DE FREITAS

A reunião dos desunidos

Afora um, os vários (e curtos) encontros de Luiz Inácio Lula da Silva com presidentes e chefes de governo, em Nova York, tiveram o mesmo objetivo: angariar apoio à pretensão brasileira, já um tanto idosa, de se tornar integrante permanente do Conselho de Segurança da ONU. Mas importante, mesmo, foi aquele que fugiu à regra. Até pelo que custou a Lula.
A cadeira vazia de Néstor Kirchner, que ficou acintosamente no hotel enquanto Lula discursava na ONU, se não teve a mesma dimensão política da falta de solidariedade brasileira no embate da Argentina com o FMI, foi bastante para motivar um apressado pedido de encontro com o presidente argentino. As duas agendas presidenciais reviram-se para reconsiderar o descaso mútuo que quiseram exibir. Um lado, porém, piscou primeiro. Era o lado que devia essa atitude.
O constrangimento que se pôde depreender da fisionomia de Lula, ao chegar para a visita a Kirchner no hotel, foi o contraponto para suas desnecessárias demonstrações, à vista das câmeras, de desprezo pelo discurso de Bush na ONU. Isso podemos fazer nós outros, cidadãos comuns, e talvez raramente devamos fazê-lo. Melhor fez Bush, com ironia certeira que negou o caubói, ao procurar Lula na recepção do presidente da ONU para dizer-lhe que "o acordo da Argentina com o FMI foi bom para o Brasil" (Este instante não foi captado pelas câmeras, mas relatado pelas repórteres Cátia Seabra e Helena Celestino, do "Globo"). O acordo em que a linha Palocci levou o governo Lula a preferir o silêncio favorável ao FMI (Fundo Monetário Internacional) do que uma palavra de compreensão para com a atitude altiva da Argentina.
Ao que se pode presumir, a pretensão brasileira ao Conselho de Segurança continua na mesma. De apoios certos ou quase, na América Latina, conta com Venezuela e Peru, porém não com os apoios do México, da Argentina e do Chile, que seriam os de maior peso político na região. Em relação aos demais continentes, o Brasil já tinha simpatias como a da Alemanha e a da Rússia, e já havia a possibilidade de permuta de apoio com Índia e África do Sul. Sempre no caso de serem acrescentados ao Conselho de Segurança pelo menos novos integrantes permanentes. O que, de qualquer maneira, não é para já.
É provável que o saldo concreto de toda a movimentação com a reabertura da Assembléia Geral da ONU fique só por conta do seu secretário-geral, Kofi Annan, cujo discurso comunicou a próxima criação de um grupo para estudar, no prazo de um ano, a reforma da organização. Em português claro, isso quer dizer: estudar uma tentativa de salvar da ONU. Ou esta salvação ou salve-se quem puder.


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