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RIO
Cúpula do PT avalia que as acusações de fisiologismo forçam ruptura
Petistas decidem entregar
seus cargos a Garotinho
CHICO SANTOS
da Sucursal do Rio
LETÍCIA KFURI
free-lance para a Folha
Militantes do PT decidiram ontem à noite que os membros do
partido deverão entregar os cargos que ocupam no governo de
Anthony Garotinho (PDT). A decisão foi tomada por aclamação
na convenção regional.
Os petistas ocupam a vice-governadoria, com Benedita da Silva, e quatro secretarias: Planejamento (Jorge Bittar), Transportes
(Raul de Bonni, indicado pelo líder da corrente Opção Popular),
Ação Social, Esporte e Lazer (Antonio Pitanga) e Trabalho (Gilberto Palmares). Segundo o governo,
o PT tem cerca de 200 cargos.
A decisão foi tomada depois de
muita discussão. Por volta das
20h, delegados ligados à corrente
Articulação (de Benedita e Bittar)
decidiram deixar o plenário.
A corrente, favorável à permanência do PT no governo, queria
que a votação sobre os cargos fosse secreta, alegando que o voto
aberto constrangeria os militantes. Refazendo e Opção Popular,
que defendiam a entrega dos cargos, queriam o voto aberto.
Com o impasse, os militantes da
Articulação deixaram o plenário.
Foi feita a contagem e constatado
que havia quórum (mais de 471
dos 940 delegados). A proposta de
entrega dos cargos foi aprovada.
"O que houve foi apenas uma
indicação para que se coloquem
os cargos à disposição, mas quem
decide se aceita ou não é o governador", disse Jorge Bittar. "Essa
interpretação é um casuísmo de
Bené e Bittar", disse o deputado
estadual Chico Alencar, um dos
líderes da corrente Refazendo.
Durante o dia, a Articulação havia apresentado um texto criticando as declarações recentes de
Garotinho sobre o PT. No texto, o
grupo defendeu a permanência
no governo, mas disse que "não
admitirá que o governo se refira
ao partido com desrespeito".
"Boquinha"
Na última sexta-feira, o governador disse que o PT deveria mudar o nome para "Partido da Boquinha", numa referência, segundo Garotinho, à frequente reivindicação por cargos no governo.
A direção nacional do PT considerou "inaceitáveis" as declarações de Garotinho. A avaliação da
cúpula petista é que as afirmações
podem levar a um rompimento
da aliança dos partidos no Rio.
O fato de a acusação ter sido feita às vésperas da convenção do
PT, que discutiria a eventual saída
do partido do governo, seria um
sinal de que Garotinho, na verdade, quer o rompimento.
O governador cancelou os compromissos ontem à tarde. Segundo sua assessoria, ele estava muito
cansado após o culto realizado sábado em Brasília (leia texto abaixo) e de ter passado a manhã em
inaugurações no interior. A Folha
apurou que ele resolveu ficar no
Palácio Laranjeiras, onde mora,
para evitar falar sobre o caso.
No entanto, no sábado, em Brasília, Garotinho havia minimizado as críticas às suas declarações.
Ele disse que não está "satisfeito"
com a atuação do PT na aliança e
que, se o partido decidir sair do
governo, não haverá prejuízos.
"As portas do meu governo estão abertas para quem quiser sair.
Nem tanto para os que querem
entrar. Mas para os que queiram
sair, podem sair. Ninguém pode
obrigar ninguém a ficar no governo", afirmou Garotinho.
Ainda no sábado à noite, o presidente nacional do PT, deputado
José Dirceu (SP), telefonou para
Garotinho e disse que as críticas
foram um "agravo" ao partido.
"Não liguei para fazer cobranças e sim para conversar sobre a
reunião dos governadores, a
aliança no Rio e também sobre
suas declarações", contou.
A Folha apurou que, no telefonema, Dirceu falou que, se Garotinho tem queixas, que cite quem
pratica o fisiologismo e não o partido. Ele insistiu em que Garotinho fizesse uma retratação mais
ampla. O assunto deverá ser discutido nesta semana.
Ontem, Dirceu afirmou à Folha
que, no dia seguinte às acusações,
Garotinho explicou que, na verdade, falava de setores do PT e
não do partido como um todo.
"Isso me basta. Quero dizer, no
entanto, que repudio as acusações
de que o PT seja fisiológico. O PT
nunca ficou num governo por
cargos, não faz parte da história
do partido esse tipo de procedimento", declarou Dirceu.
O líder petista na Câmara, José
Genoino (SP), um dos defensores
das alianças do partido, disse ontem que "o PT não pode ficar em
um governo a qualquer preço" e
que "toda aliança tem limite".
"No pé em que chegou a relação
entre o PT e o governador, é melhor deixar o Garotinho à vontade
e preservar a unidade do partido
no Rio. Essa situação não pode
respingar no PT nacional", disse.
Para Genoino, "se a afirmação
de Garotinho é verdadeira, o PT
tem que tomar providências contra os petistas. Se não é, o governador não poderia ter dito aquilo,
é inaceitável. A relação então fica
deteriorada e o PT precisa mudar
o relacionamento partindo até
para um divórcio amigável".
Imaturidade
Desde o início da convenção, os
líderes da Articulação no Rio se
negavam a considerar a hipótese
de afastamento do governo. "Seria uma imaturidade sair do governo na primeira rusga que
aconteceu", disse Bittar.
Devido aos desentendimentos
entre as diversas correntes petistas na convenção, Benedita da Silva chegou
a chorar. "Meu Deus, eu não estou
vendo isso. Que loucura é essa?
Que revolucionários são esses?",
dizia, em meio ao tumulto.
Pelo segundo dia consecutivo o
clima ficou tenso durante a convenção. O presidente do diretório
municipal do partido William
Campos, da corrente Articulação
acabou levando um tapa do representante da corrente Refazendo, Antonio Neiva.
As discussões na convenção foram acirradas devido à denúncia
de dois integrantes da corrente
Ação Popular, de que teriam recebido oferta de emprego na Fundação Leão 13 (administrada pelo
Estado), com recebimento de R$
400 reais mensais.
A oferta teria sido feita pelo assessor da Secretaria de Planejamento Ernani Coelho, da corrente
Articulação, em troca de votos na
convenção municipal. A denúncia será investigada pela comissão
de ética do PT.
Colaboraram a Reportagem Local
e a Sucursal de Brasília
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