São Paulo, Segunda-feira, 25 de Outubro de 1999
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DIPLOMACIA

País quer atenuar conflitos entre EUA e União Européia antes de reunião sobre comércio mundial

Brasil tenta evitar impasse comercial

CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Lausanne

O Brasil inicia hoje um esforço de mediação entre a UE (União Européia) e os Estados Unidos para tentar evitar que o atual impasse entre os dois grandes leve ao fracasso o novo ciclo de negociações para liberalização do comércio que levará o nome de Rodada do Milênio.
A rodada deve ser convocada em Seattle (EUA), no mês que vem, durante a 3ª Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio), que é uma espécie de xerife do comércio planetário.
Antes dela, no entanto, realiza-se a partir de hoje em Lausanne, na Suíça, uma reunião mais restrita entre ministros de 25 países auto-batizados de "amigos da nova rodada".
Ontem, a delegação brasileira passou o dia reunida, em encontro chefiado pelo chanceler Luiz Felipe Lampreia e para o qual foram convocados os embaixadores do Brasil nas principais potências, a saber: Rubens Barbosa (EUA), Sérgio Amaral (Reino Unido), Marcos Azambuja (França), Clodoaldo Hugueney (União Européia), além do anfitrião Celso Amorim, que chefia a missão brasileira em Genebra, sede da OMC.
Além deles, também participou o embaixador José Alfredo Graça Lima, principal negociador brasileiro para assuntos comerciais internacionais.
O elenco de participantes dá uma idéia da importância que o Brasil atribui ao novo ciclo comercial e, também, da angústia em torno da perspectiva de que "ou a rodada não seja convocada ou o seja em termos tão vagos que não levem à expectativas de resultados significativos", como diz Graça Lima.
Pode parecer pretensão o fato de o Brasil -responsável por apenas 1% do comércio mundial, tanto em exportações como em importações- pretender o papel de mediador entre UE e EUA, os dois maiores comerciantes do planeta.
Mas o Brasil é respeitado na OMC, um tanto pela qualidade de sua diplomacia e muito pelo fato de estar entre as dez maiores economias do mundo, apesar de seu relativamente reduzido comércio internacional.
A natureza do impasse, ao menos pelo que detectou a reunião de ontem dos brasileiros, pode ser assim resumida: os europeus exigem uma agenda muito ampla, que seria a melhor forma de obter contrapartidas para vender a seu público interno concessões no setor agrícola, fortemente protegido.
Os EUA, em um momento de baixa popularidade interna da liberalização comercial, preferem uma agenda limitada.
Para o Brasil, é vital abrir o mercado agrícola europeu (e também o norte-americano). Sem a perspectiva de obter concessões em outras áreas, no entanto, os europeus resistirão ainda mais do que já estão fazendo à abertura agrícola.
Pior, do ponto de vista brasileiro: a agenda norte-americana inclui o que o jargão diplomático batiza de ATL (liberalização comercial acelerada, das iniciais em inglês) para alguns setores (brinquedos, químicos, produtos florestais etc).
Para o Brasil, não interessa acelerar abertura alguma em qualquer setor, antes de ter certeza de que vai obter concessões na área agrícola.


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