São Paulo, Segunda-feira, 25 de Outubro de 1999
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Dono diz que gasto passa de US$ 1,2 mi

da Reportagem Local

Quando alguém duvida de suas boas intenções, o médico José Farani, dono da Academia de Tênis, mostra uma pilha de encadernações.
Dentro há fotos de crianças brincando, participando de festas e jogando tênis, além de anotações de tudo o que o hotel teria gasto com ajuda a famílias carentes.
Essa é a prova, segundo Farani, de que a Academia trabalha em benefício da sociedade. Pelas suas contas, entre 1992 e 1995, a Academia gastou mais de US$ 1,2 milhão em benefícios.
O problema de Farani, segundo o Ministério Público, é que as informações de seu álbum de benfeitorias não são confirmadas pelos livros diários do hotel, que são a contabilidade oficial. O único sinal de filantropia, uma conta chamada "despesas com habitação de famílias carentes" seria uma enganação, de acordo com a fiscalização da Receita Federal.
"Eu tirei crianças da rua, ensinei-as a jogar tênis e lhes dei uma profissão. Muitas dessas crianças hoje são professores de tênis", afirma o médico.
Na avaliação do Ministério Público, pode-se dizer que Farani tem sido um bom patrão, mas não que ele faz filantropia. Desde que foi criada, 22 anos atrás, a Academia construiu cerca de 80 casinhas numa vila colada ao hotel, onde os empregados e suas famílias moram de graça.
Eles também não pagam água nem luz. As casas e o terreno pertencem a Farani.
Na lista de benfeitorias do hotel, aparecem café da manhã, almoço e jantar gratuito para os funcionários solteiros e plano de saúde particular. Farani diz também que dá creche para os filhos de seus empregados, o que não é nenhum favor já que isso é uma exigência legal para empresas que empregam mais de 30 mulheres.
Funcionários do hotel também já receberam cursos de especialização nas áreas de culinária, hotelaria e computação, por exemplo. Alguns desses cursos foram abertos também a pessoas que não têm ligação com a Academia.
Como a filantropia da Academia se resume à comunidade que gira em volta do hotel e parte dos benefícios mais parece investimento na qualidade da mão-de-obra, a Receita e o Ministério Público entendem que a sociedade ganhará mais se a Academia de Tênis pagar seus impostos.
A investigação na Academia de Tênis começou em 1996, por iniciativa do procurador José Leovegildo Oliveira Morais. Na época, o procurador estranhou a presença da Academia de Tênis numa lista de entidades que tinham conseguido o certificado de filantropia do CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social).
Esse certificado habilita seus portadores a deixar de pagar a contribuição previdenciária patronal, que pode chegar a 27% da folha salarial, e a importar automóveis e aviões com isenção de imposto. Com o início da investigação, Farani desistiu do certificado. E diz que nada disso foi idéia dele.
"Foi coisa de uma ex-funcionária do CNAS, que veio aqui, fez o processo, conseguiu a aprovação e me deu o certificado. Não pedi nada disso. Acho que ela queria agradar um advogado meu por quem estava apaixonada", diz Farani. (DF)

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