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GOVERNO
Em discurso, presidente reconhece de modo indireto eventual vitória da oposição
FHC afirma que seu legado evitará mudanças radicais
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu ontem,
ainda que de modo indireto, a
possibilidade de vitória da oposição na eleição de domingo. Deixou claro, porém, que o legado de
seu governo impedirá que o próximo presidente faça mudanças
radicais na condução do país.
"Nós [o Brasil] vamos vencer,
vença quem vença", disse o presidente, ao encerrar o discurso no
22º Enaex (Encontro Nacional de
Comércio Exterior), no Rio.
A uma platéia de empresários
do setor exportador, FHC questionou a capacidade de um novo
governo de oposição alterar as
mudanças promovidas por seu
governo. Atacou ainda o pessimismo do mercado financeiro,
afirmando que o país reduziu sua
vulnerabilidade externa e que não
está "indo para o buraco". Ele criticou o discurso "insensato" de
que o acordo da Alca (Aérea de
Livre Comércio das Américas)
significa perda de soberania.
Medo do Novo - "Tento fazer
com que aos 70 anos mantenha a
vivacidade de espírito. Posso captar o que é novo. Posso não ficar
com medo do que é novo, senão
[fico] com medo de envelhecer
mentalmente. Como os brasileiros são um povo novo, não vão
querer ficar com medo do que é
novo. E, portanto, [o povo] vai
continuar acreditando no Brasil.
Nós [o Brasil] vamos vencer, vença quem vença [as eleições]."
Força das mudanças - "Prova
maior [da estabilidade] não pode
haver do que a liberdade em que
estamos levando adiante este
processo eleitoral e a tranquilidade com que estamos assistindo ao
que pode vir a ser uma mudança
bastante forte. Será que vai ser?
Talvez nem seja tão forte assim.
Tal força têm as mudanças que
nós fizemos em nosso país que fica difícil depois de assumir, se alguém assumir com pensamento
contrário a cadeira presidencial,
de cumprir aquilo que disse que
faria ou de ser consequente com
as críticas que têm feito. A realidade vai se impor."
Vulnerabilidade - "Se estamos
assistindo à diminuição imensa
do que se chamava a nossa vulnerabilidade externa por que continuar com essa cantilena? Por que
continuar o Brasil a ter medo de
participar ativamente do processo de transformação da economia global. Por que imaginar que
essa abertura de mercados de lá e
de cá terá como consequência a
asfixia da economia brasileira? A
chamada brecha [déficit corrente] que existe nos pagamentos
globais do Brasil caiu para US$ 12
bilhões a US$ 13 bilhões. Em 99,
era US$ 33 bilhões. O investimento estrangeiro direto neste ano
(ano ruim) pelo último cálculo,
que foi pessimista, do Boletim
Focus é de US$ 14 bilhões ou R$
15 bilhões. Ou seja: mais alto do
que o déficit das contas correntes.
Então de onde inventaram, e lá
fora repercute, essa idéia que temos um estrangulamento da economia brasileira (...)? Nós já tomamos as medidas.
Recado aos pessimistas -
"Não vamos nos iludir outra vez e
não ver o que está acontecendo. E
imaginando que estamos indo
para o buraco, para o caos, para a
impossibilidade de fazer qualquer coisa, para uma dominação
que nos vai sufocar. Tem dominação, sim. Tenta sufocar muitas
vezes. Mas temos a nossa força e
temos de valorizar o que é nosso."
Alca - "Tenho ouvido, com
franqueza, muita insensatez sobre a Alca. Muito desconhecimento (...). Conseguimos criar
uma idéia que nós na Alca iríamos discutir tudo simultaneamente, que não haveria avanço de
um só setor em detrimento de
outro setor. E que não haveria,
portanto, a possibilidade dos países mais poderosos colocarem na
mesa de discussão só aquilo que
interessa a eles. Queremos, sim,
participar de uma zona de livre
comércio, que é necessária para
nós (...). Mas queremos participar
sem que sejamos surpreendidos
por medidas unilaterais antidumping, de picos tarifários. É
com esse espírito que se tem que
encarar a Alca. E não como equivocadamente ainda pensam alguns que é discutir soberania.
Francamente, um país que se dá
ao respeito não deveria nem cogitar a falar [isso], porque soberania não se discute."
Câmbio e Exportações - "É
claro ninguém pode negar que há
uma influência muito grande do
câmbio, que facilita a exportação.
Mas é muito simplista imaginar
que o câmbio seja responsável,
sozinho, pela exportação. E mais:
os que têm mais noção do que seja uma economia moderna e do
que seja a economia brasileira sabem que o câmbio tem efeitos
que são perigosos e negativos.
Não queremos que os efeitos
eventualmente maléficos sejam
os únicos responsáveis para a exportação. Os maléficos são para o
custo das importações e para o
controle da inflação. Não é verdade que nossas exportações tenham crescido só porque houve
taxa de câmbio mais favorável."
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