São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 2002

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GOVERNO

Em discurso, presidente reconhece de modo indireto eventual vitória da oposição

FHC afirma que seu legado evitará mudanças radicais

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu ontem, ainda que de modo indireto, a possibilidade de vitória da oposição na eleição de domingo. Deixou claro, porém, que o legado de seu governo impedirá que o próximo presidente faça mudanças radicais na condução do país.
"Nós [o Brasil] vamos vencer, vença quem vença", disse o presidente, ao encerrar o discurso no 22º Enaex (Encontro Nacional de Comércio Exterior), no Rio.
A uma platéia de empresários do setor exportador, FHC questionou a capacidade de um novo governo de oposição alterar as mudanças promovidas por seu governo. Atacou ainda o pessimismo do mercado financeiro, afirmando que o país reduziu sua vulnerabilidade externa e que não está "indo para o buraco". Ele criticou o discurso "insensato" de que o acordo da Alca (Aérea de Livre Comércio das Américas) significa perda de soberania.

Medo do Novo -
"Tento fazer com que aos 70 anos mantenha a vivacidade de espírito. Posso captar o que é novo. Posso não ficar com medo do que é novo, senão [fico] com medo de envelhecer mentalmente. Como os brasileiros são um povo novo, não vão querer ficar com medo do que é novo. E, portanto, [o povo] vai continuar acreditando no Brasil. Nós [o Brasil] vamos vencer, vença quem vença [as eleições]."

Força das mudanças -
"Prova maior [da estabilidade] não pode haver do que a liberdade em que estamos levando adiante este processo eleitoral e a tranquilidade com que estamos assistindo ao que pode vir a ser uma mudança bastante forte. Será que vai ser? Talvez nem seja tão forte assim. Tal força têm as mudanças que nós fizemos em nosso país que fica difícil depois de assumir, se alguém assumir com pensamento contrário a cadeira presidencial, de cumprir aquilo que disse que faria ou de ser consequente com as críticas que têm feito. A realidade vai se impor."

Vulnerabilidade -
"Se estamos assistindo à diminuição imensa do que se chamava a nossa vulnerabilidade externa por que continuar com essa cantilena? Por que continuar o Brasil a ter medo de participar ativamente do processo de transformação da economia global. Por que imaginar que essa abertura de mercados de lá e de cá terá como consequência a asfixia da economia brasileira? A chamada brecha [déficit corrente] que existe nos pagamentos globais do Brasil caiu para US$ 12 bilhões a US$ 13 bilhões. Em 99, era US$ 33 bilhões. O investimento estrangeiro direto neste ano (ano ruim) pelo último cálculo, que foi pessimista, do Boletim Focus é de US$ 14 bilhões ou R$ 15 bilhões. Ou seja: mais alto do que o déficit das contas correntes. Então de onde inventaram, e lá fora repercute, essa idéia que temos um estrangulamento da economia brasileira (...)? Nós já tomamos as medidas.

Recado aos pessimistas -
"Não vamos nos iludir outra vez e não ver o que está acontecendo. E imaginando que estamos indo para o buraco, para o caos, para a impossibilidade de fazer qualquer coisa, para uma dominação que nos vai sufocar. Tem dominação, sim. Tenta sufocar muitas vezes. Mas temos a nossa força e temos de valorizar o que é nosso."

Alca -
"Tenho ouvido, com franqueza, muita insensatez sobre a Alca. Muito desconhecimento (...). Conseguimos criar uma idéia que nós na Alca iríamos discutir tudo simultaneamente, que não haveria avanço de um só setor em detrimento de outro setor. E que não haveria, portanto, a possibilidade dos países mais poderosos colocarem na mesa de discussão só aquilo que interessa a eles. Queremos, sim, participar de uma zona de livre comércio, que é necessária para nós (...). Mas queremos participar sem que sejamos surpreendidos por medidas unilaterais antidumping, de picos tarifários. É com esse espírito que se tem que encarar a Alca. E não como equivocadamente ainda pensam alguns que é discutir soberania. Francamente, um país que se dá ao respeito não deveria nem cogitar a falar [isso], porque soberania não se discute."

Câmbio e Exportações -
"É claro ninguém pode negar que há uma influência muito grande do câmbio, que facilita a exportação. Mas é muito simplista imaginar que o câmbio seja responsável, sozinho, pela exportação. E mais: os que têm mais noção do que seja uma economia moderna e do que seja a economia brasileira sabem que o câmbio tem efeitos que são perigosos e negativos. Não queremos que os efeitos eventualmente maléficos sejam os únicos responsáveis para a exportação. Os maléficos são para o custo das importações e para o controle da inflação. Não é verdade que nossas exportações tenham crescido só porque houve taxa de câmbio mais favorável."


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