|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TV
Lula e Serra vão passar duas horas, em pé, cercados por 150 pessoas hoje na Globo
Vantagem de Lula esvazia único debate no 2º turno
LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a pesquisas apontando
ampla vantagem de Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), o único debate
do segundo turno, hoje, às 21h40,
na Globo, perdeu parte da importância política atribuída ao duelo
após a votação de 6 de outubro.
Apesar disso, os candidatos se
prepararam ontem para o confronto, que terá formato inédito:
os dois ficarão de pé, em uma arena, cercado por 150 pessoas, e não
farão pergunta um ao outro. As
questões serão elaboradas por
eleitores indecisos, selecionados
pelo Ibope para participar do programa.
José Serra (PSDB), além de gravar o último programa eleitoral,
passou o dia ensaiando respostas
para o debate e até o comportamento diante das câmeras.
"Tenho boa expectativa para o
debate. É pena que tenha havido
um só. Seria muito melhor, não
para mim e para o Lula, mas para
os eleitores ter tido mais", afirmou o candidato ontem.
Serra gostaria de fazer perguntas diretamente a Lula. Quando
concordou com a regra da Globo,
o tucano acreditava que debateria
com o petista em outras emissoras, como chegou a ser sinalizado
pelo PT. Por isso, a propaganda
do PSDB disse que Lula só havia
aceitado o duelo da Globo porque
não haveria confronto direto.
O petista, com 32 pontos de
vantagem, segundo o último Datafolha, se recusou a participar de
debates em outras emissoras.
Ontem, pela primeira vez nesta
campanha, não utilizou toda a
véspera para se preparar. Pela
manhã e no início da tarde, gravou o último programa eleitoral.
Às 17h, reuniu-se com o marqueteiro Duda Mendonça, em SP. Segue hoje ao Rio e, no debate, pretende manter uma atitude vitoriosa -avalia que o programa terá pouca influência nas urnas.
Performance
Nesse contexto, a maior expectativa do telespectador para a noite de hoje talvez se desloque para a
estréia do novo formato -já usado nas campanhas dos EUA.
Para o cientista político Fernando Abrucio, professor da PUC-SP
e da Fundação Getúlio Vargas, esse formato norte-americano de
debate valoriza a performance
dos candidatos diante do cidadão
comum. "No último debate presidencial dos EUA, a imprensa norte-americana avaliou que Al Gore
foi muito técnico e ficou distante
dos eleitores. Já Bush soube se
aproximar do público e, por isso,
teve um desempenho melhor."
Segundo Abrucio, o esquema é
saudável para o processo democrático. "É importante avaliar a
reação do candidato ao cidadão.
Nem todos vão bem. Lembra-se
do Ciro [Gomes] chamando o
eleitor de burro no rádio?"
Abrucio acredita que não seja
um esquema ideal, já que não há
questionamento especializado,
nem confronto direto entre os adversários. Isso, para ele, evita que
os políticos sejam "questionados
em seus pontos fracos". "Um debate ideal seria uma uma mistura
de perguntas de jornalistas, entre
os candidatos, e dos cidadãos."
O formato, no entanto, tem a
"vantagem de dar voz ao cidadão
comum pela primeira vez", avalia.
Na opinião de Abrucio, a mudança do estilo do programa deverá atrair o telespectador, apesar
de a disputa não se mostrar acirrada. No debate do primeiro turno, na quinta-feira antes da votação, a Globo registrou 31 pontos
de média. Às quintas, no horário,
costuma dar 26 no Ibope (cada
ponto equivale a cerca de 47,5 mil
domicílios na Grande SP).
"Reality show"
Como faz nos preparativos de
"reality shows", a Globo mantém
isolados desde ontem, em um hotel do Rio, os eleitores que estarão
na platéia. Ontem, eles tiveram o
único contato com a emissora antes do programa. À tarde, num salão do hotel, reuniram-se com Ali
Kamel, diretor de jornalismo, para conhecer as regras e formular
as perguntas. Numa parede, foram colocados cartazes com 20 temas. Sobre esses assuntos, foram
elaboradas as perguntas, as últimas que serão respondidas por
Lula e Serra como candidatos à
Presidência. Em 2002, ao menos.
Colaboraram KENNEDY ALENCAR e RAYMUNDO COSTA, em São Paulo
Texto Anterior: Everardo e Armínio são escalados como interlocutores econômicos Próximo Texto: Memória: Após polêmica de 1989, Globo não fará edição Índice
|