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PT pretende retomar ainda neste ano projeto de reforma tributária
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REPORTAGEM LOCAL
O PT planeja, na quase certeza
de vitória de Luiz Inácio Lula da
Silva no segundo turno, retomar,
ainda neste ano, o projeto de reforma tributária aprovado em
1999 por uma comissão especial
da Câmara e engavetado devido à
oposição da equipe econômica.
O objetivo petista, segundo a
Folha apurou, seria mais dar um
sinal ao empresariado de compromisso com o setor produtivo
do que propriamente trabalhar
pela aprovação rápida do projeto.
A proposta, que teve como relator o deputado Mussa Demes
(PFL-PI), recebeu grande apoio
do setor industrial representado
pela CNI (Confederação Nacional
da Indústria). Foi aprovada pela
comissão, em novembro de 1999,
por 35 votos a 1 -o único contrário foi o de Marcos Cintra (então
no PL e hoje no PFL-SP).
Na época, o ministro Pedro Malan (Fazenda) considerou o texto
"inviável", o que paralisou sua
tramitação. Os congressistas da
comissão acusaram o governo de
não querer a mudança no sistema
de impostos, mesmo defendo-a
em público, por temer perda de
arrecadação.
O eixo do projeto era aliviar a
tributação sobre a produção,
substituindo vários impostos e
contribuições existentes hoje pelo
IVA (Imposto sobre Valor Agregado), a ser cobrado no local de
consumo. Pretendia-se, também,
eliminar a guerra fiscal entre os
Estados -os governadores passariam a ter menor autonomia
para oferecer incentivos fiscais
destinados a atrair empresas.
Apesar da votação expressiva
obtida pelo projeto, o próprio PT
sabe que ele está longe de ser consensual -a aprovação quase
unânime foi um ato político da
comissão, que, irritada com o descaso do Planalto, desejava levar a
reforma adiante.
Ressuscitar a reforma implicará
novas e difíceis negociações com
governadores, prefeitos, empresários e trabalhadores. Por se tratar de uma mudança na Constituição, são precisos os votos de
três quintos da Câmara e do Senado, em dois turnos em cada Casa.
No período de transição, a prioridade da equipe petista será reformular o Orçamento de 2003,
seja para atender exigências do
FMI (Fundo Monetário Internacional), seja para incluir projetos
sociais do partido. E, como o risco
de perda de receita com a reforma
é real, a prudência manda não ter
pressa nas negociações.
PT
O secretário-geral do PT, Luiz
Dulci, declarou ontem o desejo do
partido de que algumas "medidas
de reforma tributária" sejam tomadas mesmo antes da posse do
novo presidente, prevista para janeiro de 2003.
"Medidas de reforma tributária
que desonerem a produção e favoreçam as exportações podem
ser tomadas mesmo parcialmente
nesse final de ano", disse.
O secretário petista disse ainda
não ter detalhes sobre as possíveis
medidas, mas indicou a possibilidade de negociação imediata de
taxas e impostos para favorecer as
exportações do país.
Com o cuidado de não tratar
seu candidato, Luiz Inácio Lula da
Silva, como presidente já eleito,
Dulci afirmou que, em caso de vitória, espera uma relação tranquila com o atual governo durante o
período de transição.
De acordo com Dulci, o encontro entre o presidente Fernando
Henrique Cardoso e o candidato
vitorioso na próxima segunda-feira será "muito importante para
assegurar uma transição serena,
de efetiva colaboração entre o
atual governo e o próximo".
O secretário-geral afirmou também que a coordenação política
da equipe de transição será definida por Lula nos próximos dias,
em caso de vitória. Os membros
da equipe, segundo Dulci, não fariam parte necessariamente do
eventual governo petista.
Câmara
Na mesma linha de pensamento
de seu companheiro de partido, o
líder do PT na Câmara, deputado
João Paulo Cunha (SP), disse ontem que a bancada petista tem
três grandes objetivos antes da
posse do novo presidente.
O primeiro seria "destrancar" a
pauta do Congresso com a votação das medidas provisórias pendentes, sobretudo a MP que "acaba com a cumulatividade do PIS e
do Cofins sobre a cadeia produtiva do país".
Em seguida, Cunha disse ser necessário regulamentar o art. 192
da Constituição, que trata do sistema financeiro. Segundo ele, a
regulamentação dará condições
ao novo presidente de conceder
autonomia ao Banco Central, se
isso fizer parte dos seus planos de
governo. Por último, Cunha disse
ser "fundamental" discutir o Orçamento para 2003, a fim de criar
melhores condições de investimento no primeiro ano de governo do presidente eleito.
(GUSTAVO PATÚ e CÉSAR GUERRA CHEVRAND)
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