São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 2002

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TELEVISÃO

Sem conseguir mudar intenção de voto do eleitor, programas deixam ataques pesados do início e acabam amenos

Horário eleitoral termina hoje sem efeito

CLÁUDIA CROITOR
DA REPORTAGEM LOCAL

Ataques, respostas que vinham antes mesmo dos ataques, especulações sobre ataques pesados, guerra de atrizes, jingles novos, formatos diferentes, pronunciamentos à nação. Nada disso parece ter surtido efeito no eleitor.
Depois de 12 dias ininterruptos, a campanha deste segundo turno na TV chega ao final, hoje à noite, sem ter conseguido alterar a intenção de voto dos eleitores.
Desde o começo da segunda etapa do horário eleitoral, no último dia 14, quase nada mudou nas pesquisas de opinião. Segundo o Datafolha, nesse período Lula oscilou de 64% para 66% dos votos válidos, e Serra foi de 36% para 34% -tudo dentro da margem de erro da pesquisa, que é de dois pontos percentuais.
Diante do quadro inalterado, as duas campanhas mostram sinais de que esgotaram seu estoque de novidades e parecem ter desistido de surpreender o eleitor. A última semana de propaganda gratuita foi recheada de programas repetidos, os ataques foram quase esquecidos, Regina Duarte e colegas, deixadas de lado.
A mudança mais notável ocorreu na propaganda de Serra. Nos primeiros dias do horário eleitoral, o tucano chegou a ocupar mais de 70% de seu programa com críticas a Lula e ao PT. Ontem, Lula foi mencionado só uma vez, no programa tucano da noite. À tarde, foi ignorado.
Já o petista, em um confortável e distante primeiro lugar nas pesquisas, procurou manter a linha "paz e amor". Assim como o adversário, reprisou vários programas, mas adotou um clima de "já ganhou", com discursos de "como será o meu governo".
Neste segundo turno, o horário tucano tentou ter um perfil mais sério do que tinha no primeiro. Saíram de cena Elba Ramalho, KLB e companhia, que dançavam ao som de um jingle sertanejo sobre emprego. Entraram apresentadores com ar grave, cobrando de Lula "por que ele evita os debates", "onde estão a CUT e o MST", acusando administrações petistas de incompetência.
Os apoios de Ciro Gomes e Anthony Garotinho, exibidos em clima de festa no programa petista, também foram alvo de ataques.
Lula voltou ao ar ainda mais festivo, com aplausos de petistas eleitos, sorrisos de aliados. Antes mesmo de ser atacado, começou se defendendo. Iniciou o primeiro programa apresentando os debates a que tinha ido no primeiro turno, mostrando pesquisas que o apontavam como o "vencedor" em todos eles. Avisou ainda, que, "apesar de o segundo turno ser curto", participaria ainda de mais um debate, na Globo, hoje.
Mais tarde, passou a responder às críticas às administrações do PT. "O povo está magoado", diziam os apresentadores.

O medo do medo
Mas o ponto marcante do horário eleitoral no segundo turno foi mesmo a guerra de atrizes. Exibido logo no primeiro dia, o depoimento em que Regina Duarte dizia ter "medo" de um eventual governo petista criou polêmica, dividiu as opiniões no meio artístico e deu início a um verdadeiro bombardeio à atriz.
O programa de Lula respondeu dois dias depois, com outra atriz, Paloma Duarte, dizendo-se "chocada e desrespeitada" com a fala de Regina. A tréplica não demorou a vir. Dessa vez, Beatriz Segall saiu em defesa de Regina no programa tucano. "Tenho medo de dizer que estou com medo", disse.
Os tucanos foram acusados de terrorismo eleitoral. Os petistas, de patrulhamento ideológico.
No final, tudo parece ter sido esquecido. Voltaram as propostas para agricultura, as cooperativas e os empregos. Depois do anunciado pronunciamento de Serra no último domingo -em que disse que a vitória do PT poderia ser um "estelionato eleitoral" ou a "ruína do país"- e do discurso de Lula, que aproveitou a idéia tucana, nada de novo foi mostrado.
Se os programas finais, hoje, seguirem o padrão, sem surpresas, os 480 minutos de horário eleitoral do segundo turno podem não ter influenciado em nada o eleitor.


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