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PÓS-ELEIÇÃO
Ex-governador do Ceará afirma que partido precisa mudar de cara; José Aníbal reage contra proposta delirante
Tasso convida Ciro para voltar ao PSDB
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Um jantar na casa do senador
eleito Tasso Jereissati (PSDB) reuniu na noite de anteontem Ciro
Gomes (PPS) e o governador eleito de Minas Gerais, o tucano Aécio Neves. No menu, a reformulação do PSDB, partido que governou o país nos últimos oito anos e
está na iminência de sair do poder. Como entrada, a eventual
volta de Ciro ao ninho tucano.
A discussão parece inevitável. O
próprio Tasso já havia dito que a
eleição marcaria o fim da hegemonia do grupo "paulista" que
controla o partido, a começar
com o presidente Fernando Henrique Cardoso e seu candidato,
José Serra. "O que o Ciro pensa diferente do (Geraldo) Alckmin, ou
do Aécio, ou de mim? Nada, as divergências dele eram pessoais.
Então, não tem sentido determinadas pessoas em partidos diferentes e determinadas pessoas em
partidos iguais", afirmou Tasso.
"Vou trabalhar no sentido de
voltar a agregar", disse. Ciro é afilhado político de Tasso e sempre
teve seu apoio, em especial depois
que Serra foi indicado candidato
do PSDB. Seus partidários consideram que deverá haver um reequilíbrio de forças, com um grupo
formado pelo PSDB de Minas, do
Ceará e de São Paulo, representado por Geraldo Alckmin. O principal nome do grupo seria o de
Aécio, considerado por muitos
analistas como o mais provável
presidenciável tucano em 2006.
"Tem que mudar um pouco a
cara do partido mesmo. Toda
eleição nacional, se a gente perde,
tem que mudar, para novas caras
aparecerem. Não podem ser as
mesmas que conduziram o processo nacional anterior. É um novo momento e, qualquer derrota,
se vier a acontecer, é um momento de reflexão, é um momento de
autocrítica", disse Tasso. "Nessa
reposição de lideranças, com certeza o Aécio é uma tendência."
Ciro, porém, manteve a postura
evasiva: "Agora quero sumir para
descansar um pouco, depois penso nisso." Anteontem, ao discursar no último comício de Lúcio
Alcântara (PSDB), candidato ao
governo do Ceará, em Fortaleza,
no qual também estavam presentes Aécio e Tasso, Ciro afirmou:
"Não sei se continuo, se vou parar. Não sei o que Deus guarda para mim no futuro". No mesmo
comício, Aécio o cumprimentou,
em público, por tê-lo ajudado a se
eleger governador de Minas.
Ciro diz que recebeu convite para voltar a dar palestras, "o que dá
um bom dinheiro", mas que tem
vontade de voltar a dar aulas. Entre alguns amigos, a certeza é que
seu retorno à vida pública é certo
e que ele deve voltar ao PSDB.
Irmão do presidenciável derrotado e uma das pessoas mais ligadas a Ciro, o prefeito de Sobral,
Cid Gomes, negou a possibilidade
de retorno do ex-governador cearense ao PSDB.
"Não acho bom, não. Prefiro
um [partido] pequeno, mas coerente, a um grandão, cheio de
problemas. Acho que o PSDB vai
tomar uma nova direção com Aécio, Alckmin, e vai ficar melhor.
Mas daí até voltarmos vai uma
grande distância", declarou ele,
que, assim como Ciro, trocou o
PSDB pelo PPS.
Ao falar de reestruturação partidária, num cenário em que o
PSDB deverá ser oposição, Tasso
acredita no fim do PPS. "É necessário um quadro partidário mais
definido. Dificilmente vejo espaço
para o PPS sozinho. Não há críticas, são todos grandes quadros,
mas tem só um senador, a Patrícia
(Gomes), e o que ela pensa diferente de mim? Porque vou estar
num partido e ela em outro, sendo que no fundo ideológico não
há diferença nenhuma?", disse.
Anteontem, Patrícia e Lúcio também estiveram com Tasso.
Aníbal
A possível reestruturação do
PSDB, num cenário em que o tucanato paulista tivesse menor influência sobre o partido, é uma
idéia classificada de "delirante"
pelo presidente nacional da sigla,
José Aníbal. Ocupado com a campanha de José Serra, ele disse não
ter tempo para discutir o tema.
O presidente paulista do PSDB,
deputado estadual Edson Aparecido, fez coro a Aníbal: "Dar cara
nova ao partido? Só se for a cara
da quinta-coluna. Tasso e Ciro
são a própria quinta-coluna". A
expressão "quinta-coluna" foi
criada pelo general espanhol
Francisco Franco (1892-1975) durante a Guerra Civil Espanhola
para designar aqueles que, dentro
de Madri, apoiavam as quatro colunas rebeldes que marchavam
sobre a capital. O termo acabou
virando sinônimo de traidor.
Segundo Aparecido, o partido
precisa de uma reestruturação,
mas não é o momento. "Ainda
não aconteceu o segundo turno
das eleições. Qualquer coisa agora
é extremamente prematura."
Para o deputado, Alckmin sairá
fortalecido da disputa estadual.
Caso Ciro demonstre interesse
em voltar para a sigla, segundo
Aparecido, deverá ser feita uma
análise política e não pessoal: "Ciro foi uma figura importante,
uma liderança forte. Mas isso precisaria ser melhor discutido."
Colaboraram LILIAN CHRISTOFOLETTI
e PATRICIA ZORZAN, da Reportagem
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