São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PÓS-ELEIÇÃO

Ex-governador do Ceará afirma que partido precisa mudar de cara; José Aníbal reage contra proposta delirante

Tasso convida Ciro para voltar ao PSDB

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Um jantar na casa do senador eleito Tasso Jereissati (PSDB) reuniu na noite de anteontem Ciro Gomes (PPS) e o governador eleito de Minas Gerais, o tucano Aécio Neves. No menu, a reformulação do PSDB, partido que governou o país nos últimos oito anos e está na iminência de sair do poder. Como entrada, a eventual volta de Ciro ao ninho tucano.
A discussão parece inevitável. O próprio Tasso já havia dito que a eleição marcaria o fim da hegemonia do grupo "paulista" que controla o partido, a começar com o presidente Fernando Henrique Cardoso e seu candidato, José Serra. "O que o Ciro pensa diferente do (Geraldo) Alckmin, ou do Aécio, ou de mim? Nada, as divergências dele eram pessoais. Então, não tem sentido determinadas pessoas em partidos diferentes e determinadas pessoas em partidos iguais", afirmou Tasso.
"Vou trabalhar no sentido de voltar a agregar", disse. Ciro é afilhado político de Tasso e sempre teve seu apoio, em especial depois que Serra foi indicado candidato do PSDB. Seus partidários consideram que deverá haver um reequilíbrio de forças, com um grupo formado pelo PSDB de Minas, do Ceará e de São Paulo, representado por Geraldo Alckmin. O principal nome do grupo seria o de Aécio, considerado por muitos analistas como o mais provável presidenciável tucano em 2006.
"Tem que mudar um pouco a cara do partido mesmo. Toda eleição nacional, se a gente perde, tem que mudar, para novas caras aparecerem. Não podem ser as mesmas que conduziram o processo nacional anterior. É um novo momento e, qualquer derrota, se vier a acontecer, é um momento de reflexão, é um momento de autocrítica", disse Tasso. "Nessa reposição de lideranças, com certeza o Aécio é uma tendência."
Ciro, porém, manteve a postura evasiva: "Agora quero sumir para descansar um pouco, depois penso nisso." Anteontem, ao discursar no último comício de Lúcio Alcântara (PSDB), candidato ao governo do Ceará, em Fortaleza, no qual também estavam presentes Aécio e Tasso, Ciro afirmou: "Não sei se continuo, se vou parar. Não sei o que Deus guarda para mim no futuro". No mesmo comício, Aécio o cumprimentou, em público, por tê-lo ajudado a se eleger governador de Minas.
Ciro diz que recebeu convite para voltar a dar palestras, "o que dá um bom dinheiro", mas que tem vontade de voltar a dar aulas. Entre alguns amigos, a certeza é que seu retorno à vida pública é certo e que ele deve voltar ao PSDB.
Irmão do presidenciável derrotado e uma das pessoas mais ligadas a Ciro, o prefeito de Sobral, Cid Gomes, negou a possibilidade de retorno do ex-governador cearense ao PSDB.
"Não acho bom, não. Prefiro um [partido] pequeno, mas coerente, a um grandão, cheio de problemas. Acho que o PSDB vai tomar uma nova direção com Aécio, Alckmin, e vai ficar melhor. Mas daí até voltarmos vai uma grande distância", declarou ele, que, assim como Ciro, trocou o PSDB pelo PPS.
Ao falar de reestruturação partidária, num cenário em que o PSDB deverá ser oposição, Tasso acredita no fim do PPS. "É necessário um quadro partidário mais definido. Dificilmente vejo espaço para o PPS sozinho. Não há críticas, são todos grandes quadros, mas tem só um senador, a Patrícia (Gomes), e o que ela pensa diferente de mim? Porque vou estar num partido e ela em outro, sendo que no fundo ideológico não há diferença nenhuma?", disse. Anteontem, Patrícia e Lúcio também estiveram com Tasso.

Aníbal
A possível reestruturação do PSDB, num cenário em que o tucanato paulista tivesse menor influência sobre o partido, é uma idéia classificada de "delirante" pelo presidente nacional da sigla, José Aníbal. Ocupado com a campanha de José Serra, ele disse não ter tempo para discutir o tema.
O presidente paulista do PSDB, deputado estadual Edson Aparecido, fez coro a Aníbal: "Dar cara nova ao partido? Só se for a cara da quinta-coluna. Tasso e Ciro são a própria quinta-coluna". A expressão "quinta-coluna" foi criada pelo general espanhol Francisco Franco (1892-1975) durante a Guerra Civil Espanhola para designar aqueles que, dentro de Madri, apoiavam as quatro colunas rebeldes que marchavam sobre a capital. O termo acabou virando sinônimo de traidor.
Segundo Aparecido, o partido precisa de uma reestruturação, mas não é o momento. "Ainda não aconteceu o segundo turno das eleições. Qualquer coisa agora é extremamente prematura."
Para o deputado, Alckmin sairá fortalecido da disputa estadual.
Caso Ciro demonstre interesse em voltar para a sigla, segundo Aparecido, deverá ser feita uma análise política e não pessoal: "Ciro foi uma figura importante, uma liderança forte. Mas isso precisaria ser melhor discutido."


Colaboraram LILIAN CHRISTOFOLETTI e PATRICIA ZORZAN, da Reportagem Local


Texto Anterior: Televisão: Horário eleitoral termina hoje sem efeito
Próximo Texto: Agenda da Transição/Consumo: Renda cai, e classe média vai atrás de produto pirata
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.