São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Brasileiro gasta menos com cultura

IVAN FINOTTI
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

O gasto com a cultura perdeu espaço no orçamento das famílias brasileiras durante os anos FHC. Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar realizada pelo IBGE, o gasto com recreação e cultura já havia caído de 3,18% em 1987 para 2,51% em 1996.
Não há pesquisa desde então -a nova fica pronta em julho de 2003-, mas deve-se levar em conta que essa diminuição havia acontecido após a estabilização do Real, a partir de quando houve aumento da renda familiar. Com a queda da renda nos últimos anos, o provável é que o gasto com cultura esteja ainda menor.

Discos
Os números de vendas de CDs, livros e ingressos de cinema confirmam os dados mais antigos. No caso dos CDs, por exemplo, houve aumento palpável de consumo.
Mas, segundo estimativa da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), um terço das cópias vendidas no país em 2001 já eram piratas, ao custo de R$ 3 contra os até R$ 30 praticados pela indústria oficial.
Numa primeira etapa, o boom de consumo de CDs iniciado no governo Collor se ampliou nos anos FHC, pulando das 44,2 milhões de unidades de 1994 para um auge de 107,9 milhões de unidades em 1997.
Naquele mesmo ano, no entanto, a indústria fonográfica começou a computar a pirataria, que aparecia então com 3 milhões de cópias vendidas.
Em 2001, a estimativa de CDs pirateados havia pulado para 40 milhões. Oscilando inversamente, a fatia oficial caiu gradativamente e atingiu em 2001 seu pior resultado desde 1995. Foram 80 milhões este ano, contra 75 milhões de CDs oficiais e nada de pirataria no primeiro ano do governo FHC.
Ou seja, o acesso aos CDs cresceu, mas porque foi em grande parte transferido do mercado oficial para o crime organizado.
Como efeito colateral, a discrepância de preços abala a credibilidade das gravadoras junto ao consumidor médio de CDs.
A ABPD culpa o governo pela inoperância na repressão policial à pirataria -um comitê interministerial de combate à prática foi criado no ano passado, constantemente criticado pela entidade como ineficaz.

Livros
Quanto aos livros, houve alta na metade da década, mas a venda voltou a cair nos últimos anos. Em 1992, venderam-se 159,7 milhões de exemplares no país. Em 95, foram 374,6 milhões. Já no ano passado, o número foi de 299,4 milhões.
O aumento, entretanto, não significa que os brasileiros passaram a comprar mais livros. Quem colocou a mão no bolso foi o governo, cujas aquisições quase triplicaram em dez anos. Foram 44,4 milhões de livros em 92 contra 116,5 milhões em 2001.
Para Raul Wassermann, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), o aumento de compras do governo é positivo, mas tem seu lado ruim. "O mercado dobrou, mas muitas editoras que não são de didáticos estão morrendo na praia, descapitalizadas."
Wassermann considera satisfatórias as aquisições do Ministério da Educação (MEC) durante os anos FHC, diferentemente da política do Ministério da Cultura (MinC). "O MEC, com acertos e erros, conseguiu levar o livro ao estudante. Quanto às bibliotecas públicas, que garantem no mundo todo o acesso à leitura depois da escola, não aconteceu nada. O MinC foi tão inoperante que pode ser considerado irrelevante."

Cinema
Já o setor cinematográfico amargou uma queda de bilheteria. De 95,1 milhões de ingressos vendidos no país em 1990, chegamos em 2001 com 74,9 milhões.
A boa notícia na área é a recuperação do mercado de filmes nacionais, essa sim uma das bandeiras do MinC. Com o fechamento da Embrafilme, em 90, o cinema brasileiro foi ao fundo do poço. O pior momento foi em 92, quando vendeu míseros 36.113 bilhetes, ou 0,05% do mercado.
No primeiro ano do governo FHC, em 1995, a fatia das fitas nacionais já correspondia a 3,15 milhões de ingressos, contabilizando 3,7% do total.
No ano passado, foram vendidos 7 milhões de bilhetes para filmes nacionais num mercado de 74,9 milhões, uma porcentagem de 9,3% do total de ingressos comercializados no país.
Na opinião de Paulo Sérgio Almeida, proprietário da empresa de consultoria cinematográfica Filme B, a política governamental nos anos FHC foi correta, mas insuficiente.
"O governo alavancou, deu transparência, democratizou e resgatou a auto-estima do cinema nacional", afirma o especialista. "Mas infelizmente ficou devendo uma política de investimentos diretos para a criação de uma indústria cinematográfica brasileira. Só com incentivos fiscais, não chegaremos lá."



Texto Anterior: Agenda da Transição/Consumo: Renda cai, e classe média vai atrás de produto pirata
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.