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Brasileiro gasta menos com cultura
IVAN FINOTTI
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
O gasto com a cultura perdeu
espaço no orçamento das famílias
brasileiras durante os anos FHC.
Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar realizada pelo IBGE, o
gasto com recreação e cultura já
havia caído de 3,18% em 1987 para 2,51% em 1996.
Não há pesquisa desde então
-a nova fica pronta em julho de
2003-, mas deve-se levar em
conta que essa diminuição havia
acontecido após a estabilização
do Real, a partir de quando houve
aumento da renda familiar. Com
a queda da renda nos últimos
anos, o provável é que o gasto
com cultura esteja ainda menor.
Discos
Os números de vendas de CDs,
livros e ingressos de cinema confirmam os dados mais antigos. No
caso dos CDs, por exemplo, houve aumento palpável de consumo.
Mas, segundo estimativa da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), um terço
das cópias vendidas no país em
2001 já eram piratas, ao custo de
R$ 3 contra os até R$ 30 praticados pela indústria oficial.
Numa primeira etapa, o boom
de consumo de CDs iniciado no
governo Collor se ampliou nos
anos FHC, pulando das 44,2 milhões de unidades de 1994 para
um auge de 107,9 milhões de unidades em 1997.
Naquele mesmo ano, no entanto, a indústria fonográfica começou a computar a pirataria, que
aparecia então com 3 milhões de
cópias vendidas.
Em 2001, a estimativa de CDs pirateados havia pulado para 40 milhões. Oscilando inversamente, a
fatia oficial caiu gradativamente e
atingiu em 2001 seu pior resultado
desde 1995. Foram 80 milhões este ano, contra 75 milhões de CDs
oficiais e nada de pirataria no primeiro ano do
governo
FHC.
Ou seja, o
acesso aos
CDs cresceu,
mas porque
foi em grande
parte transferido do mercado oficial
para o crime
organizado.
Como efeito colateral, a
discrepância
de preços
abala a credibilidade das
gravadoras
junto ao consumidor médio de CDs.
A ABPD culpa o governo pela
inoperância na repressão policial
à pirataria -um comitê interministerial de combate à prática foi
criado no ano passado, constantemente criticado pela entidade como ineficaz.
Livros
Quanto aos livros, houve alta na
metade da década, mas a venda
voltou a cair nos últimos anos.
Em 1992, venderam-se 159,7 milhões de exemplares no país. Em
95, foram 374,6 milhões. Já no ano
passado, o número foi de 299,4
milhões.
O aumento, entretanto, não significa que os brasileiros passaram
a comprar mais livros. Quem colocou a mão no bolso foi o governo, cujas aquisições quase triplicaram em dez
anos. Foram
44,4 milhões de
livros em 92
contra 116,5 milhões em 2001.
Para Raul
Wassermann,
presidente da
Câmara Brasileira do Livro
(CBL), o aumento de compras
do governo é positivo, mas tem
seu lado ruim.
"O mercado dobrou, mas muitas editoras que
não são de didáticos estão morrendo na praia,
descapitalizadas."
Wassermann considera satisfatórias as aquisições do Ministério
da Educação (MEC) durante os
anos FHC, diferentemente da política do Ministério da Cultura
(MinC). "O MEC, com acertos e
erros, conseguiu levar o livro ao
estudante. Quanto às bibliotecas
públicas, que garantem no mundo todo o acesso à leitura depois
da escola, não aconteceu nada. O
MinC foi tão inoperante que pode
ser considerado irrelevante."
Cinema
Já o setor cinematográfico
amargou uma queda de bilheteria. De 95,1 milhões de ingressos
vendidos no país em 1990, chegamos em 2001 com 74,9 milhões.
A boa notícia na área é a recuperação do mercado de filmes nacionais, essa sim uma das bandeiras do MinC. Com o fechamento
da Embrafilme, em 90, o cinema
brasileiro foi ao fundo do poço. O
pior momento foi em 92, quando
vendeu míseros 36.113 bilhetes,
ou 0,05% do mercado.
No primeiro ano do governo
FHC, em 1995, a fatia das fitas nacionais já correspondia a 3,15 milhões de ingressos, contabilizando 3,7% do total.
No ano passado, foram vendidos 7 milhões de bilhetes para filmes nacionais num mercado de
74,9 milhões, uma porcentagem
de 9,3% do total de ingressos comercializados no país.
Na opinião de Paulo Sérgio Almeida, proprietário da empresa
de consultoria cinematográfica
Filme B, a política governamental
nos anos FHC foi correta, mas insuficiente.
"O governo alavancou, deu
transparência, democratizou e
resgatou a auto-estima do cinema
nacional", afirma o especialista.
"Mas infelizmente ficou devendo
uma política de investimentos diretos para a criação de uma indústria cinematográfica brasileira. Só
com incentivos fiscais, não chegaremos lá."
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