São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 2002

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AGENDA DA TRANSIÇÃO/CONSUMO

Renda cai, e classe média vai atrás de produto pirata


Para compensar perda do poder aquisitivo, consumidor opta pelo item pirateado, que custa menos; indústria brasileira tem prejuízo anual de US$ 12 bilhões, diz a CNI; Receita Federal perde US$ 1,5 bilhão por ano com a sonegação de impostos


DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 50 mil pessoas visitam nos finais de semana as ruas da região do Bom Retiro, centro de São Paulo, segundo a associação dos lojistas da região. Estão em busca de itens com preços populares. No início dos anos 90, não se atingia a metade desse número. Na região da 25 de Março, ambulantes e consumidores lotam as ruas todos os dias. CDs saem por R$ 5 cada um. Os DVDs custam de R$ 10 a R$ 15. São piratas, claro.
A disparada da pirataria no país nos anos FHC aconteceu no momento em que a classe média "descobriu" que seu poder de compra já não era mais o mesmo.
Como não queria abrir mão, no Brasil da era pós-Real, de sua nova posição sócio-econômica recém-conquistada, essa classe partiu para o consumo no mercado informal.
Ou seja, o aparelho de DVD estava comprado, mas tornou-se cada vez mais difícil pagar R$ 35 pelo filme original. Assim como R$ 25 pelo CD. Na crise, a saída foi optar pelos "maquiados", explicam economistas e sociólogos.
Essa situação cria um rombo na indústria brasileira. Os prejuízos anuais chegam a US$ 12 bilhões, segundo dados revelados no seminário da Confederação Nacional da Indústria (CNI), no mês de agosto, em Brasília.
A procura por produtos "maquiados" tem relação com o Plano Real, que foi um dos estopins para a venda acelerada de eletrônicos, eletrodomésticos e carros populares, segundo o sociólogo Marcos Agostinho.
Há exemplos: em 1997, no início do Plano Real, segundo a ABPD (Associação Brasileira dos Produtores de Discos), o Brasil era o sexto maior mercado de CDs (originais) do mundo.
Passada a bonança do Real e com a queda na renda -que tornou mais difícil o acesso ao produto-, o Brasil passou a ocupar a 12ª posição no ranking.
Pesquisa feita pela consultoria de segurança norte-americana Kroll com 148 executivos de 49 países -e divulgada no Brasil neste ano- mostra que os casos de fraude à propriedade intelectual aumentaram 50% no mundo nos últimos dois anos.

Toneladas ilegais
O Brasil recebe, todos os anos, 500 toneladas de itens falsificados de todos os tipos. Em impostos que deixam de ser pagos, o país perde US$ 1,5 bilhão a cada ano com a pirataria, segundo pesquisa da Receita Federal em 2001.
Estimativa realizada neste ano pelo Departamento de Comércio dos EUA revela que a venda de produtos falsificados, que representa hoje 9% de todo o comércio global, vai dobrar e atingir 18% nos próximos dois anos. Uma das questões abordadas pelos técnicos do departamento para o risco dessa elevação é a possibilidade de instabilidade econômica em países emergentes. Principalmente naqueles países sem forte repressão ao crime e que conquistaram avanços recentes na área sócio-econômica.
Sem a perspectiva de melhora na renda do trabalhador em países como o Brasil e a Argentina, cresce o espaço de atuação da pirataria, na avaliação de economistas da CNI, em estudo elaborado sobre o tema.


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