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EXUBERÂNCIA ELEITORAL
O PT começa a assumir o governo
VINICIUS TORRES FREIRE
Deve-se ao PT a instável,
suspeita e pequena calmaria
no mercado financeiro dos últimos dois dias. Segundo a piada
que corre, como o mercado passa
o tempo inteiro a especular sobre
a formação do governo de Luiz
Inácio Lula da Silva, os operadores financeiro ficaram com menos
tempo de mandar o dólar à lua a
fim de arrancar mais dinheiro do
Banco Central (meu, seu, nosso).
Como cada nome que sobe na
Bolsa de ministros parece apenas
balão de ensaio, que logo cai com
cheiro de breu queimado, cogita-se o seguinte a respeito do ministério do PT: a) O PT solta balões
para testar a aceitação das figuras cotadas para os cargos; b) Não
há balões de ensaio. É tudo fofoca
de mercado e de jornalista. O comitê central do PT já sabe quem
vai chamar e deixa nomes inventados circularem como cortina de
fumaça; c) Ninguém, nem na cúpula do PT, sabe nada mesmo.
A julgar pela percepção de bons
quadros do PT, até ontem pelo
menos, ninguém sabe nada mesmo. De resto, um ou outro ministeriável que algum grupo julga
mais certo é, numa conversa seguinte, logo desmoralizado por
uma outra roda de petistas. Tais
grupos ironizam uns aos outros e
mais ainda as especulações da
praça financeira e jornalística.
Pior, como o governo está à mão,
tais rodas e personagens petistas
enviesam todas as informações a
fim de fazer política para garantir
seu lugar ao sol.
Uma unanimidade crescente no
partido é Antônio Palocci, coordenador do programa do PT. Mas
nem os petistas estão certos se a
ascendência de Palocci se deve já
a algum mandato mais poderoso
concedido pelo comitê central de
Lula ou se o prefeito licenciado de
Ribeirão Preto teve mais é competência de impor sua liderança.
Palocci por ora é o ministro dos
panos quentes no PT. Encarregou-se ou foi encarregado de dar
todas as declarações tranquilizadoras e sensatas a respeito do futuro da administração da economia. Sublinhe-se que, embora
nunca desimportante no PT, Palocci não era o titular da coordenação do programa do partido,
cargo que assumiu com o assassinato de Celso Daniel.
Mas torna-se cada vez mais vivo o contraste entre a eminência
do médico Palocci em assuntos
econômicos e as atitudes de Guido Mantega, sempre citado como
o principal assessor econômico de
Lula, e do senador eleito e deputado federal Aloizio Mercadante,
por anos uma espécie de líder do
PT para assuntos de propaganda
econômica no Congresso.
Não se sabe bem o que fazer de
Mantega no PT. O assessor de Lula dá entrevistas à matroca e diz
disparates, como aquele sobre o
quanto o governo petista poderia
economizar com gastos correntes.
Não tinha credibilidade no mercado e entre os economistas de peso do país. Está queimando o resto de seu filme.
Mercadante submergiu. Continua a fazer o trabalho de pesquisa de recursos humanos e de relações públicas no mercado, recolhendo opiniões e nomes para o
governo Lula. Deve ficar no Congresso, contra a sua vontade.
Mas a indefinição de nomes
não tem impedido o PT de cada
vez mais assumir o governo. Administra expectativas de mercado, articula a regulação do mercado financeiro, aceitando inclusive antigos pleitos dos bancos e
do mercado de capitais. Acena
com alguma institucionalização
da autonomia do BC na política
monetária. Dá como favas contadas o superávit fiscal que for necessário para conter o aumento
da dívida pública. Revê sua antiga conversa sobre salário mínimo. O governo Lula começou.
VINICIUS TORRES FREIRE, editor de
Dinheiro, escreve às sextas-feiras
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