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São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2003

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Dirceu defende "reação rápida" a deslizes no governo

DO ENVIADO ESPECIAL A OVIEDO

Com três ministros de Estado e um ex-secretário ministerial do governo Luiz Inácio Lula da Silva sob críticas e pressão por supostos desvios de conduta administrativa, o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, defendeu uma reação rápida do governo: "Isso tem de resolver na hora. Quando não resolve, sangra".
Dirceu não quis dizer de qual caso especificamente falava nem se o verbo "resolver" poderia significar demissão de algum dos membros do governo.
A ministra Benedita da Silva (Assistência e Promoção Social) teve de devolver o dinheiro das passagens de uma viagem que fez à Argentina, para uma reunião evangélica, no final de setembro.
O ministro Agnelo Queiroz (Esportes) fez o mesmo em relação a diárias para hospedagem nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo que já estavam pagas.
O ministro Anderson Adauto (Transportes) recebeu mais de R$ 2 milhões de vencimentos quando foi presidente da Assembléia Legislativa de Minas Gerais.
Por fim, o secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Eduardo Soares, deixou o posto depois de contratar a mulher e a ex-mulher para prestar serviços ao governo.
Dirceu afirmou não acreditar que a série de acusações que membros do governo sofrem resulte de luta interna pela manutenção de cargos na reforma ministerial que se aproxima. "Desentendimentos e confrontos políticos ocorrem mesmo e temos de ir resolvendo. Mas é perda de tempo acreditar que vai levar alguém a sair ou ficar no governo."
Em conversa que manteve na viagem de nove horas do Brasil até a Espanha, Lula se manifestou preocupado com o que chamou de intensidade de cobrança da imprensa sobre os ministros.
Segundo integrantes da comitiva, Lula disse ter cogitado fazer uma defesa pública de Benedita.
Dirceu confirmou que o governo começa a discutir a reforma ministerial em novembro. "Após as reformas e até o final do ano, Lula decidirá como acomodar o PMDB e quem fica e quem sai."
Não descartou a possibilidade de redução no número de pastas.

Dulci
O secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, disse ontem que Agnelo Queiroz e Benedita "falharam" em suas respectivas viagens para o exterior pagas com verba oficial. "Mas, nesses dois casos, os erros foram corrigidos." Em São Paulo para uma reunião na Amcham (Câmara Americana de Comércio), Dulci defendeu Benedita. "Seus méritos são muito superiores a seus eventuais erros."
Para ele, os erros fazem parte de qualquer governo democrático, mas a diferença está na proporção do erro. "Não há precedente na história do país de um governo que tenha sofrido tão poucas denúncias de irregularidades como o do presidente Lula. Não estamos falando de privatizações de US$ 5 bilhões, mas de falhas localizadas", disse Dulci, em referência às denúncias de privatizações fraudulentas na gestão de Fernando Henrique Cardoso.
O secretário-geral sorriu ao ser questionado se os dois ministros se credenciaram como fortes candidatos a deixar seus postos na reforma ministerial prevista para o fim do ano. "Isso é da alçada do presidente", respondeu.
Sobre os gastos do atual gabinete da Presidência com viagem, Dulci afirmou considerar os números "normais". Até agora, o gabinete de Lula gastou R$ 9,9 milhões com passagens e despesas com locomoção. Em 2002, no mesmo período, o gabinete de FHC gastou R$ 4 milhões. "Com certeza, o governo FHC tinha menos diálogo com a sociedade civil. Outro ponto é que hoje o gabinete concentra mais órgãos."
O presidente do Conselho da Amcham, Sérgio Haberfeld, saiu em defesa do PT. Disse que membros de governos anteriores cometeram as mesmas irregularidades no quesito viagem, sem, no entanto, serem cobrados por isso.


Colaborou LILIAN CHRISTOFOLETTI, da Reportagem Local


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