São Paulo, segunda-feira, 25 de novembro de 2002

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TRANSIÇÃO

Reunião com presidente eleito joga Executiva do partido contra Aécio

Encontro de governadores com Lula gera crise no PSDB

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A reunião marcada para hoje de Luiz Inácio Lula da Silva com sete atuais e futuros governadores tucanos, em Araxá (MG), desencadeou a primeira crise pós-eleitoral do PSDB e jogou a Executiva Nacional do partido contra o presidente da Câmara e governador eleito de Minas, Aécio Neves.
Foi Aécio quem convidou Lula, decisão tomada sem consulta prévia à cúpula tucana e aos governadores. Em reunião sigilosa na terça-feira passada, a Executiva Nacional do PSDB classificou de "inadmissível" a iniciativa do deputado e de "inconveniente" a reunião com o presidente eleito.
Entre os críticos mais duros, na reunião, estiveram o presidente do PSDB, José Aníbal, e o deputado Alberto Goldman, integrantes do "grupo paulista", que detém o comando da legenda e começa a ser contestado por líderes emergentes como o próprio Aécio.
Dos governadores que hoje estarão com Lula, o de Goiás, Marconi Perillo, era o único presente. Ele endossou a avaliação da cúpula: as decisões importantes do PSDB, a partir de janeiro um partido na oposição, devem ser respaldadas pela Executiva e não tomadas de forma isolada.
Procurado, Aécio admitiu que fizera o convite a Lula. Mas justificou-se: pretendia combinar com os colegas tucanos antes de anunciar a presença do presidente eleito no Grande Hotel de Araxá, quando foi surpreendido pelo vazamento da notícia. Para a Executiva tucana, o encontro servirá só para Lula posar para fotos com os governadores eleitos do PSDB -interessaria, portanto, apenas ao PT. Melhor seria se os governadores fizessem uma reunião de trabalho e depois levassem o resultado ao futuro presidente.
Apesar de considerar "inconveniente" a reunião dos governadores com Lula, a cúpula do PSDB optou por não recomendar que ela fosse desmarcada, como chegou a ser cogitado. Isso só agravaria uma crise que os tucanos tentam contornar sem fazer barulho.
Passado o primeiro momento, os tucanos até tentaram encontrar justificativas para Aécio. A mais comum reza que ele receberá do governador Itamar Franco (PMDB) um Estado quebrado e, por isso, precisará manter boas relações com o governo federal.
O próprio Aníbal tenta contemporizar ao dizer que os desencontros refletiriam apenas os "atropelos de início" do papel dos tucanos na oposição. Aécio, por sua vez, julga-se vítima de "patrulhamento" e é pouco provável que deixe de continuar alçando vôos próprios. Já na eleição mostrava-se ambíguo em relação à candidatura presidencial do PSDB.
No ninho tucano, há quem apóie a desenvoltura do deputado mineiro. O governador eleito do Ceará, Lúcio Alcântara, por exemplo, considera que Lula está sendo "atencioso" ao ir à reunião, quando poderia só recebê-los.


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