São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2004

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RUMO AO CENTRÃO

Presidente pediu que sigla não "jogue fora" 2 anos de relacionamento

"PT precisa do PMDB para governar", afirma Lula

Alan Marques/Folha Imagem
O presidente Lula na casa de Eunício Oliveira, onde almoçou com deputados federais do PMDB, lideranças governistas e ministros


RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em almoço de duas horas com 64 dos 76 deputados federais do PMDB, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apelou ao partido para que não "jogue fora" dois anos de relacionamento, afirmando que o "PT precisa do PMDB para governar".
De acordo com presentes ao almoço -além dos deputados, lideranças governistas no Congresso e três ministros-, Lula não fez objeções à convenção peemedebista do dia 12, quando a legenda pode decidir deixar o governo, mas deixou claro que conta com o partido, mesmo fora do governo.
Além disso, o presidente afirmou que não é contra uma candidatura própria do PMDB em 2006, mas que não é hora de "jogar oportunidades fora" na condução do país. Lula contestou, com números, a avaliação de que as eleições municipais foram polarizadas entre PT e PSDB.
O presidente do PMDB, Michel Temer, havia dito antes que o partido sempre foi ambíguo, que se beneficiou disso algumas vezes, mas que agora é a hora de decidir se fica ou sai do governo.
Lula chegou ao almoço com os deputados às 13h30. Questionado se estava pessimista, disse aos jornalistas: "Vocês já me viram pessimista algum dia. Nem o Corinthians me deixa pessimista". Embora o encontro fosse para discutir a relação entre governo e PMDB, o presidente falou sobre vários outros assuntos. Criticou o PSDB, o seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), o Congresso e o presidente de seu próprio partido, José Genoino.
Segundo Lula, "Genoino errou" ao não promover uma intervenção no PT de Fortaleza e impedir a candidatura de Luizianne Lins, que acabou sendo vitoriosa, mas que contrariou acordo da cúpula do PT com o PC do B, que tinha outro candidato na cidade. Disse ainda que a prioridade para o próximo ano será a reforma política. Lula chegou mesmo a dar uma receita aos peemedebistas sobre como alcançar a Presidência: "Parar de ser provocador".
A ala do partido que prega a saída do governo também foi ao encontro, à exceção do grupo de deputados ligados ao ex-secretário de Segurança do Rio Anthony Garotinho. O almoço ocorreu cinco dias após um jantar com os senadores da legenda.
O PMDB é a maior bancada do Senado e a segunda maior na Câmara. A ala que defende a saída do PMDB da base de sustentação do governo disse que a convenção do dia 12 continua de pé. A ala contrária afirmou que trabalha para que ela seja adiada.
Novamente foi dado o recado aos peemedebistas de que está sepultado o projeto de reeleição das Mesas da Câmara e do Senado.

PMDB
Lula abriu sua fala dizendo que jamais estaria ali para espalhar a cizânia. "O PT precisa do PMDB para governar", disse, acrescentando: "Não teríamos chegado aonde estamos sem o PMDB". Segundo o presidente, o partido é livre para ter candidato próprio à Presidência em 2006. "Mas tem que ter maturidade, vocês não podem jogar fora dois anos de relacionamento com o governo."
Lula contestou a avaliação de que PT e PSDB polarizaram a disputa municipal e disse que PT e PMDB estão mais próximos do que se pensa. "PMDB e PT se aliaram em 954 cidades nas eleições municipais, tendo vencido em 443. Isso dá a demonstração de que estamos muito mais próximos do que parece", afirmou.

ALIANÇAS PARA 2006
"Esse não é o momento de discutir 2006", disse. Ele ressaltou a necessidade de que as alianças nacionais sejam feitas após amplo debate com as bases, para não haver o risco de que as bases "atropelem" as decisões de cúpula. Disse que Genoino terá de rodar o país em 2006 para conversar com as bases e evitar candidaturas "oportunistas, de última hora".

CONGRESSO
Lula criticou a tramitação da Lei de Biossegurança, segundo ele um assunto que seria resolvido em 40 dias, mas que está em discussão há quatro meses. Ele disse que a edição da medida provisória sobre o assunto o colocou no centro de uma briga entre os governadores peemedebistas Germano Rigotto (RS) e Roberto Requião (PR). Fez um apelo ainda para a votação do projeto das PPPs (Parcerias Público-Privada) e dos pontos pendentes da reforma tributária. Segundo ele, sua prioridade no Congresso, daqui em diante, é a reforma política. "O Brasil tem pressa, não pode fazer casuísmo a cada eleição", disse, detalhando apenas ser contra a reeleição, que muitas vezes seria "perniciosa e permissiva". Lula lembrou ainda que será necessária uma nova reforma da Previdência daqui a 20 ou 30 anos.

LUIZIANNE LINS
"O Genoino errou no Ceará. Ele deixou uma candidatura rebelde se eleger e o coitado do Aldo [Rebelo, do PC do B, ministro da Coordenação Política] ficou rifado. Qual foi o erro? Não ter feito uma intervenção no diretório de Fortaleza e acabado com a candidatura dela, ou ter descoberto que o PT teria candidatura forte, o que nos possibilitaria dizer ao Aldo que não seria possível fazer o acordo com o PC do B", afirmou.

COMO SER PRESIDENTE
Segundo Lula, respondendo a um questionamento de Requião: "Parar de ser provocador e se tornar uma figura nacional".

PSDB e FHC
Lula disse que o governo não pode se prender a "preciosismos" do PSDB para não votar a reforma tributária e que FHC, mesmo tendo uma base de 450 deputados, não conseguiu fazer a reforma da Previdência. Ainda sobre FHC, disse que ele jogou fora o Plano Real na tentativa de se reeleger e que seu segundo mandato, por isso, foi inferior ao primeiro.

ECONOMIA
"A recuperação econômica só acontece quando a sociedade vê a solidez do sistema político."


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