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Herdeira diz que não reivindica terra
DA AGÊNCIA FOLHA, NO PIAUÍ
O comerciante Manoel Rodrigues de Souza, tido como um dos
maiores doadores de terras para
são Francisco de Assis em Morro
do Chapéu do Piauí, morreu em
1966, em um quarto de hotel, sem
ter uma casa para morar.
Parte de sua família reside em
Esperantina, a 18 km das glebas
doadas ao santo. Apesar de viverem com simplicidade, todos afirmam que não vão reivindicar na
Justiça o direito às propriedades.
Ninguém sabe ao certo quanta
terra foi doada por Silva, que era
conhecido por "Manduca". Moradores mais antigos da cidade,
como Raimundo Nonato de Oliveira, 72, o guardião da igreja local, dizem que o comerciante
doou cerca de 100 hectares.
Ninguém sabe quem ficou com
o termo de doação, lavrado à mão
por volta de 1930. Segundo a sobrinha de Manduca Maria do Socorro Souza, 73, criada por ele, a
família não tem interesse no caso
porque não quer contrariar o desejo do "pai", como ela chama o
tio. Mas ela lembra que, quando
ficou mais velha e tomou consciência do ato de Manduca, foi
contra a doação: "O que é dado
ninguém no mundo valoriza".
A neta do comerciante Deusmarina Alves de Souza, 52, concorda com Maria e diz que é favorável à venda dos terrenos aos
moradores. Contudo, não aceita a
versão da igreja, de que terras
doadas a um santo pertencem
sempre à instituição religiosa.
"Meu avô doou para são Francisco, não à paróquia, que nem
existia na época", declarou. A paróquia de Nossa Senhora da Boa
Esperança, de Esperantina, foi
criada em 1948, mas assumiu legalmente a posse dos terrenos ao
registrar em cartório o nome do
santo associado ao dela.
Deusmarina lembra que Manduca decidiu doar suas terras a
são Francisco, "e não à igreja",
porque havia brigado com o padre Uchôa, já morto, do município de Barras de Guabiraba.
O pivô da discussão foi a construção da capela de são Francisco,
em Morro do Chapéu do Piauí,
pelo comerciante. Segundo a neta, o avô não aceitava as críticas
do padre, que condenava a utilização de recursos particulares na
obra. "Ele ficou chateado, doou as
terras e foi com a família para Caxias, no Maranhão." Cerca de cinco anos depois, o grupo retornou
ao Piauí, para a mesma região.
Foi nessa época que outros dois
devotos de são Francisco, João da
Costa Lima, e um homem lembrado hoje apenas como "José
Mamão", seguiram o exemplo de
Manduca e doaram terras para o
santo, padroeiro da cidade.
Uma das filhas de Lima, Neuza
Costa Aguiar, 65, ainda mora em
Morro do Chapéu do Piauí. Ela se
lembra que, ainda criança, ouviu
o pai dizer que havia doado suas
glebas a são Francisco. "Eu disse
para ele: para que isso, meu pai?",
conta Neuza: "Eu não aceitava".
Hoje ela mora em uma casa simples à beira da rodovia PI-112 e vive com uma aposentadoria de R$
200. Assim como a maioria dos
habitantes, Neuza é contra a venda dos terrenos pela igreja aos
moradores. "Aqui ninguém tem
registro de propriedade porque a
terra é de são Francisco", diz.
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