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SOCIEDADE ALTERNATIVA
Gaúchos da capital se juntam a visitantes que participam do Fórum Social Mundial
Jovens de Porto Alegre trocam suas casas por
dias no acampamento
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
Um outro mundo é possível.
Às vezes a algumas quadras da
sua própria casa. É o caso para
jovens de Porto Alegre, que,
mesmo morando com os pais
na capital gaúcha, saem de casa
e armam suas barracas no
Acampamento Internacional da
Juventude durante os dias do
Fórum Social Mundial.
Fernanda Ely, 20, é estudante
de farmácia na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande
do Sul). Vai dividir até terça-feira uma tenda com seu namorado, também porto-alegrense,
Luís Fernando Martins,19.
A diferença entre eles e seus
milhares de vizinhos que ocupam o parque às margens do
Guaíba não está só na procedência -quase todos os "moradores" do acampamento vieram
de outros países ou de outras
partes do Brasil-, mas muitas
vezes também na rotina.
Questionados pela reportagem se poderiam tirar uma foto
para o jornal no dia seguinte à
entrevista, Fernanda respondeu:
"Mas amanhã cedo tenho que ir
para o trabalho".
Paulo Roberto e sua irmã gêmea, Milene Bobsin, 17, dividem
uma barraca com outros três
amigos porto-alegrenses. Todos
são alunos ou ex-alunos do colégio estadual Júlio de Castilhos.
Ele diz que, desde o dia 18,
quando chegou ao acampamento, já voltou "três ou quatro"
dias para casa. "Vou em casa de
tarde, almoço, tomo banho e
volto". Mora onde? "Jardim
Leopoldina. É um bairro de classe média baixa."
"Não é nada. É pobre", emenda Milene, que resolveu trabalhar como "facilitadora" para
não precisar pagar os R$ 10 do
credenciamento que permite a
permanência no parque -o
modo mais barato de se hospedar na cidade durante os dias do
fórum. Sua função é ajudar na
recepção e acomodação dos
mochileiros que chegam de outras partes.
Gestão popular
"Chegaram dois ônibus de Niterói ontem. Eu falei: "oi, sou a
Milene, vou ajudar vocês". Organizo como eles têm que entrar
aqui. Explico a gestão... como é
mesmo? A gestão popular. É o
negócio do fórum."
O motivo para ela estar ali é esse? Fazer amizade com "a galera" do Rio, de Mato Grosso e da
Alemanha" que conheceu?
Todos dizem que não. Antes
de estarem ali para namorar, tomar cerveja e outras coisas mais,
dizem que o que importa é o
"espírito do fórum".
"Aqui está rolando um negócio de solidariedade. É o primeiro fórum de que participo. É
mesmo tudo pela paz", afirma
Milene.
Fernanda Nascimento, 18, está
na rodinha em frente à barraca
do grupo de Milene. É porto-alegrense, mas não dorme lá. "Tenho outros amigos de Porto Alegre que também estão acampados aqui. Outro dia saí às seis da
manhã", disse.
Fome Zero
Companheira de barraca dos
irmãos gaúchos, Luiza Almeida,
17, diz que já pediram um pouco
de comida para integrantes do
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
acampados próximo dali. "Se a
gente está sem dinheiro, com
muita fome, a gente pede."
Para a cerveja, não precisa.
"Mulher bonita não paga pra
beber", diz Milene. As amigas
riem com o comentário.
O garçom Rafael Saraiva, 22,
especula sobre a relação do fórum com a contracultura dos
anos 60: "Comparam isso a
Woodstock. Aqui é uma questão sócio-política. Lá era cultural-social. Mas a galera sempre
lutou pelo mesmo ideal", diz.
Todos dizem não sentir falta
de nada que deixaram em casa.
"Um pouco de fome e frio a gente sente, porque está sem grana.
Mas da TV ninguém sente falta", diz Carolina Mansur, 16.
Rafael faz propaganda de Porto Alegre: "E aí, gostou? Ela é
bem organizada. Podia ser mais.
É que nós temos só dez anos de
governo do PT."
(RAFAEL CARIELLO)
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