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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ACORDÃO NO AR?
Pepista relata pressão de presidente do partido; votação de parecer contra pefelista deve ser hoje
PP pressiona por absolvição de Brant e votação é adiada
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em uma sessão marcada por denúncias abertas de pressão de
partidos para livrar deputados da
cassação, o Conselho de Ética da
Câmara adiou ontem pela segunda vez a votação do parecer que
recomenda a perda do mandato
de Roberto Brant (PFL-MG).
A polêmica sobre a costura de
um "acordão" no conselho para
salvar o mandato de Brant começou logo pela manhã, quando o
relator do processo, Nelson Trad
(PMDB-MS), anunciou que fora
procurado por Pedro Canedo
(PP-GO), considerado um dos
votos em aberto.
Trad disse ter recebido um telefonema de Canedo, 20 minutos
antes do início da sessão, no qual
o pepista relatava "com a voz embargada" que faltaria à sessão
porque estava sob "pressão quase
invencível" da direção do PP para
que não votasse pela cassação.
Abatido, Canedo só apareceu
após a primeira suspensão da sessão. Disse ter assistido ao debate
pela TV e que não compareceu
porque foi orientado pelo presidente do PP, Pedro Corrêa (PE),
que também enfrenta processo de
cassação, a "aguardar" o término
da reunião da bancada da sigla
para se posicionar. "Esta é uma
casa política e não se faz política
sem partidos. Pela primeira vez o
presidente do meu partido perguntou qual seria o meu voto."
O presidente do PP confirmou a
consulta, mas negou ter cerceado
o correligionário.
Mais tarde, após a sessão ser retomada, Canedo minimizou o
tom. Afirmou que recebeu apenas
"sugestões" sobre como votar e
que o líder interino do PP na Casa,
Mário Negromonte (BA), o havia
autorizado a votar "de acordo
com sua consciência".
Além de Corrêa, o PP tem outros três deputados ameaçados de
perda de mandato por envolvimento no escândalo do "mensalão": Pedro Henry (MT), Vadão
Gomes (SP) e José Janene (PR). O
outro representante do partido
no conselho, Benedito de Lira
(AL), defendeu a absolvição de
Brant durante a sessão.
Após as sucessivas interrupções
da sessão, o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), marcou para hoje a nova data
da votação. Na seqüência, também será votado o parecer que pede a cassação do deputado Professor Luizinho (PT-SP).
Pressão
O anúncio de uma possível interferência do PP no placar da votação, considerado o mais apertado até agora, gerou protesto da ala
que defende a aprovação do relatório. "Essa pressão espúria autoriza a opinião pública a imaginar
mil coisas, os tais "acordões", pizza", diz Chico Alencar (PSOL-RJ).
Líderes do PFL e integrantes do
partido na CPI dos Correios, que
compareceram em peso à sessão,
rechaçaram a articulação de um
acordo. "Não vou fazer juízo das
denúncias do relator. O deputado
Canedo tem suas próprias pernas
para se locomover. (...) Não fizemos acordo com ninguém", disse
Rodrigo Maia, líder do PFL.
Pelas contas dos pefelistas,
Brant terá sete votos a seu favor:
três do PFL, dois do PSDB, além
do apoio de Benedito de Lira e da
petista Ângela Guadagnin (SP).
A avaliação dos membros do
conselho é que a ausência de Canedo acarretaria derrota do parecer de Trad, que necessita de
maioria absoluta -ou seja, oito
dos 14 votos. O voto do pepista
pela cassação geraria um empate
em 7 a 7, o que forçaria o presidente do conselho a desempatar.
Nos bastidores, Izar admitiu que
acompanhará o voto do relator.
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