São Paulo, quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ ACORDÃO NO AR?

Pepista relata pressão de presidente do partido; votação de parecer contra pefelista deve ser hoje

PP pressiona por absolvição de Brant e votação é adiada

SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em uma sessão marcada por denúncias abertas de pressão de partidos para livrar deputados da cassação, o Conselho de Ética da Câmara adiou ontem pela segunda vez a votação do parecer que recomenda a perda do mandato de Roberto Brant (PFL-MG).
A polêmica sobre a costura de um "acordão" no conselho para salvar o mandato de Brant começou logo pela manhã, quando o relator do processo, Nelson Trad (PMDB-MS), anunciou que fora procurado por Pedro Canedo (PP-GO), considerado um dos votos em aberto.
Trad disse ter recebido um telefonema de Canedo, 20 minutos antes do início da sessão, no qual o pepista relatava "com a voz embargada" que faltaria à sessão porque estava sob "pressão quase invencível" da direção do PP para que não votasse pela cassação.
Abatido, Canedo só apareceu após a primeira suspensão da sessão. Disse ter assistido ao debate pela TV e que não compareceu porque foi orientado pelo presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), que também enfrenta processo de cassação, a "aguardar" o término da reunião da bancada da sigla para se posicionar. "Esta é uma casa política e não se faz política sem partidos. Pela primeira vez o presidente do meu partido perguntou qual seria o meu voto."
O presidente do PP confirmou a consulta, mas negou ter cerceado o correligionário.
Mais tarde, após a sessão ser retomada, Canedo minimizou o tom. Afirmou que recebeu apenas "sugestões" sobre como votar e que o líder interino do PP na Casa, Mário Negromonte (BA), o havia autorizado a votar "de acordo com sua consciência".
Além de Corrêa, o PP tem outros três deputados ameaçados de perda de mandato por envolvimento no escândalo do "mensalão": Pedro Henry (MT), Vadão Gomes (SP) e José Janene (PR). O outro representante do partido no conselho, Benedito de Lira (AL), defendeu a absolvição de Brant durante a sessão.
Após as sucessivas interrupções da sessão, o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), marcou para hoje a nova data da votação. Na seqüência, também será votado o parecer que pede a cassação do deputado Professor Luizinho (PT-SP).

Pressão
O anúncio de uma possível interferência do PP no placar da votação, considerado o mais apertado até agora, gerou protesto da ala que defende a aprovação do relatório. "Essa pressão espúria autoriza a opinião pública a imaginar mil coisas, os tais "acordões", pizza", diz Chico Alencar (PSOL-RJ).
Líderes do PFL e integrantes do partido na CPI dos Correios, que compareceram em peso à sessão, rechaçaram a articulação de um acordo. "Não vou fazer juízo das denúncias do relator. O deputado Canedo tem suas próprias pernas para se locomover. (...) Não fizemos acordo com ninguém", disse Rodrigo Maia, líder do PFL.
Pelas contas dos pefelistas, Brant terá sete votos a seu favor: três do PFL, dois do PSDB, além do apoio de Benedito de Lira e da petista Ângela Guadagnin (SP).
A avaliação dos membros do conselho é que a ausência de Canedo acarretaria derrota do parecer de Trad, que necessita de maioria absoluta -ou seja, oito dos 14 votos. O voto do pepista pela cassação geraria um empate em 7 a 7, o que forçaria o presidente do conselho a desempatar. Nos bastidores, Izar admitiu que acompanhará o voto do relator.


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