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"Derrotados de 64 querem se vingar", diz coronel Ustra
Acusado de tortura e processado, militar aposentado se diz vítima de "revanchistas"
Após almoço de apoio, no Rio, oficial afirmou que um grupo de civis estuda propor ação contra militantes que lutaram contra a ditadura
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
O coronel reformado do
Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra classificou como
"revanchistas derrotados" os
autores do processo que o
aponta como torturador na ditadura militar (1964-85).
A ação é movida em São Paulo por cinco integrantes de uma
mesma família. Para o ex-comandante do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna) de São
Paulo, os acusadores colocam
"no banco dos réus aqueles que
venceram".
Todos os 500 lugares do salão nobre do Clube Militar, no
centro do Rio, estavam ocupados ontem para o almoço em
apoio ao oficial. Havia ao menos dois ex-ministros militares: Zenildo Zoroastro de Lucena (governos Itamar Franco e
Fernando Henrique Cardoso) e
Bayma Dennis (governos José
Sarney e Itamar Franco).
"Viemos aqui apoiar o nosso
amigo Ustra", disse Zoroastro
de Lucena. Também estava
presente o deputado federal
Jair Bolsonaro (PP-RJ).
Após o discurso, Ustra afirmou que um grupo de civis estuda a possibilidade de propor
uma ação declaratória contra
militantes que lutaram contra a
ditadura e "praticaram atos terroristas". Segundo ele, a ação
serviria "para aqueles que comprovadamente cometeram atos
de terrorismo serem declarados terroristas. Eles não querem que eu seja chamado de
torturador?".
Citou como exemplo de "terroristas" o chefe da Casa Civil
de São Paulo, Aloysio Nunes
Ferreira, e o deputado federal
Fernando Gabeira (PV-RJ).
O coronel não apontou os integrantes do grupo que pensa
processar ex-militantes de esquerda. Afirmou que a proposta "está em andamento ainda".
O processo seria semelhante
ao movido pelo casal Maria
Amélia e César Teles, os filhos
Janaína e Edson, e Criméia de
Almeida, irmã de Amélia: uma
ação declaratória, sem visar indenização pecuniária ou punição ao réu.
No discurso, Ustra pediu que
os interlocutores não se "iludissem": "Sou o primeiro! Mas
não se iludam. Amanhã serão
outros. É a vingança dos derrotados de 1964, muitos dos quais
hoje se encontram no poder".
Para o militar, a intenção dos
militantes de esquerda é revogar a Lei de Anistia (1979). "Estou sendo julgado, apesar da
Lei de Anistia, que penso muito
em breve será revogada, mas
que ainda está em vigor. (...) Assim aconteceu na Argentina, no
Chile, no Uruguai."
Narrando o dia em que prendeu a família que agora o processa, em dezembro de 1972,
Ustra afirmou que, enquanto
manteve preso os pais, deixou
os filhos Janaína e Édson na casa de uma policial militar com o
consentimento do casal.
"Movido mais pelo coração
do que pela razão, achei que essa era a melhor solução", disse.
"As crianças foram levadas para a casa da agente. Para que
não sentissem a falta dos pais,
diariamente eram conduzidos
ao DOI para ficar algum tempo,
aproximadamente duas horas,
com eles".
Em nenhum momento de
seu discurso Ustra se referiu ao
que aconteceu nos dias em que
Amélia, César e Criméia permaneceram presos.
Levantamento da Arquidiocese de São Paulo apontou a
unidade militar, na época em
que era comandada por Ustra,
como um dos principais centros de tortura e morte de opositores do regime militar.
De 1967 a 1974, grupos de esquerda se engajaram na luta armada contra a ditadura -praticaram ações e atentados a bomba, que resultaram em mortes.
Nesse período também se concentram as vítimas do regime
militar. Ao todo, 376 pessoas
teriam sido mortas pela ditadura, somando-se os nomes apontados pelo Dossiê dos Mortos e
Desaparecidos Políticos e pela
Comissão Especial de Reconhecimento dos Mortos e Desaparecidos Políticos.
Colaborou a Redação
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