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SOMBRA NO PLANALTO
Estratégia é endurecer contra bingos e priorizar ações no Executivo e no Legislativo
Governo usa "pauta positiva" para abafar caso Waldomiro
EDUARDO SCOLESE
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva acertou ontem com os principais ministros do governo a estratégia para tentar afastar cada
vez mais do centro das atenções o
caso Waldomiro Diniz. A idéia é
intensificar ações no Executivo e
no Legislativo consideradas "positivas" pelo Planalto e endurecer
a ofensiva contra os bingos.
O presidente pediu aos ministros a "intensificação" e "o máximo empenho" no fechamento de
casas de bingos e de máquinas caça-níqueis em cumprimento à
medida provisória editada na última sexta-feira.
Lula e os ministros avaliaram
que a proibição do jogo foi uma
resposta rápida e contundente à
crise deflagrada pela gravação em
que Waldomiro Diniz, ex-homem de confiança de José Dirceu
(Casa Civil), pede doação de campanha e propina a um empresário
do bingo. Segundo o porta-voz da
Presidência, André Singer, o governo federal está ciente de que
todas as ações de fechamento devem ser feitas de acordo com a lei,
com o apoio da AGU (Advocacia
Geral da União).
"O governo está seguro de que
estas medidas, para banir do Brasil atividades ilícitas e de contravenção, contam com o respaldo
da sociedade e do Congresso",
disse o porta-voz.
Singer negou que o caso Waldomiro Diniz tenha sido tratado,
mas pessoas presentes à reunião,
ocorrida no Palácio do Planalto,
confirmaram que o assunto, como não poderia deixar de ser, foi
tema das discussões.
A reunião durou cerca de quatro horas e contou com as presenças dos ministros Dirceu, Antonio
Palocci Filho (Fazenda), Luiz Dulci (Secretaria Geral), Aldo Rebelo
(Coordenação Política) e Jaques
Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social).
Na linha de tentar arrefecer o
impacto do escândalo, foi considerada uma "loucura", um "equívoco" e uma "bobagem" a idéia
anunciada pelo presidente nacional do PT, José Genoino, de fazer
um ato de desagravo a Dirceu, na
semana que vem, em Brasília.
A avaliação era a de que o PT colocaria novamente em pauta um
assunto que o governo federal trabalha nos bastidores para ver sepultado. Genoino voltou atrás ontem e anunciou o cancelamento
do desagravo.
O governo acredita que até o
momento não apareceram fatos
que liguem Dirceu a possíveis
desvios de conduta de Waldomiro durante o tempo em que assessorou o ministro e que, portanto,
não há conversa sobre um eventual afastamento do ministro.
Dirceu chegou a levar a proposta
a Lula quando o caso veio à tona.
Singer confirmou que "não há
nenhuma cogitação" sobre uma
possível demissão ou afastamento
de Dirceu. Segundo ele, o governo
federal já tomou, de forma "rápida" e "eficiente", todas as medidas necessárias a respeito do caso,
como a exoneração de Waldomiro da Subchefia de Assuntos Parlamentares, a abertura de inquérito na Polícia Federal e a instalação
de uma comissão de sindicância
sob o comando de Rebelo.
Na reunião de ontem, segundo
Singer, Rebelo não apresentou
nenhum resultado prévio acerca
das investigações.
A "agenda positiva" que o governo pretende deflagrar em resposta ao caso Waldomiro inclui a
aprovação, no Congresso, da Lei
de Falências, do Projeto de Parcerias Público-Privadas, da regulamentação do setor elétrico, entre
outras matérias, além do início da
discussão das reformas sindical e
política. Outra medida deverá ser
o acerto para o pagamento de parte da correção de benefícios dos
aposentados da Previdência.
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