São Paulo, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Estratégia é endurecer contra bingos e priorizar ações no Executivo e no Legislativo

Governo usa "pauta positiva" para abafar caso Waldomiro

EDUARDO SCOLESE
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva acertou ontem com os principais ministros do governo a estratégia para tentar afastar cada vez mais do centro das atenções o caso Waldomiro Diniz. A idéia é intensificar ações no Executivo e no Legislativo consideradas "positivas" pelo Planalto e endurecer a ofensiva contra os bingos.
O presidente pediu aos ministros a "intensificação" e "o máximo empenho" no fechamento de casas de bingos e de máquinas caça-níqueis em cumprimento à medida provisória editada na última sexta-feira.
Lula e os ministros avaliaram que a proibição do jogo foi uma resposta rápida e contundente à crise deflagrada pela gravação em que Waldomiro Diniz, ex-homem de confiança de José Dirceu (Casa Civil), pede doação de campanha e propina a um empresário do bingo. Segundo o porta-voz da Presidência, André Singer, o governo federal está ciente de que todas as ações de fechamento devem ser feitas de acordo com a lei, com o apoio da AGU (Advocacia Geral da União).
"O governo está seguro de que estas medidas, para banir do Brasil atividades ilícitas e de contravenção, contam com o respaldo da sociedade e do Congresso", disse o porta-voz.
Singer negou que o caso Waldomiro Diniz tenha sido tratado, mas pessoas presentes à reunião, ocorrida no Palácio do Planalto, confirmaram que o assunto, como não poderia deixar de ser, foi tema das discussões.
A reunião durou cerca de quatro horas e contou com as presenças dos ministros Dirceu, Antonio Palocci Filho (Fazenda), Luiz Dulci (Secretaria Geral), Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social).
Na linha de tentar arrefecer o impacto do escândalo, foi considerada uma "loucura", um "equívoco" e uma "bobagem" a idéia anunciada pelo presidente nacional do PT, José Genoino, de fazer um ato de desagravo a Dirceu, na semana que vem, em Brasília.
A avaliação era a de que o PT colocaria novamente em pauta um assunto que o governo federal trabalha nos bastidores para ver sepultado. Genoino voltou atrás ontem e anunciou o cancelamento do desagravo.
O governo acredita que até o momento não apareceram fatos que liguem Dirceu a possíveis desvios de conduta de Waldomiro durante o tempo em que assessorou o ministro e que, portanto, não há conversa sobre um eventual afastamento do ministro. Dirceu chegou a levar a proposta a Lula quando o caso veio à tona.
Singer confirmou que "não há nenhuma cogitação" sobre uma possível demissão ou afastamento de Dirceu. Segundo ele, o governo federal já tomou, de forma "rápida" e "eficiente", todas as medidas necessárias a respeito do caso, como a exoneração de Waldomiro da Subchefia de Assuntos Parlamentares, a abertura de inquérito na Polícia Federal e a instalação de uma comissão de sindicância sob o comando de Rebelo.
Na reunião de ontem, segundo Singer, Rebelo não apresentou nenhum resultado prévio acerca das investigações.
A "agenda positiva" que o governo pretende deflagrar em resposta ao caso Waldomiro inclui a aprovação, no Congresso, da Lei de Falências, do Projeto de Parcerias Público-Privadas, da regulamentação do setor elétrico, entre outras matérias, além do início da discussão das reformas sindical e política. Outra medida deverá ser o acerto para o pagamento de parte da correção de benefícios dos aposentados da Previdência.


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