São Paulo, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004

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Ministros articularam ação para abafar CPI

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a discutir seriamente a conveniência de permitir a criação da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o caso Waldomiro Diniz no Senado. Lula se mostrou favorável à CPI.
Mas seus principais ministros, José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci Filho (Fazenda), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), Luiz Dulci (Secretaria Geral), Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Jaques Wagner (Conselho), por serem contra ou por terem dúvidas, convenceram Lula a optar pela operação abafa.
Numa reunião do núcleo de comunicação do governo, na tarde do dia 16, no Planalto, Lula repetiu a pergunta que fizera pela manhã, em reunião com ministros: "Por que não a CPI?". O secretário de Imprensa, Ricardo Kotscho, e o marqueteiro Duda Mendonça manifestaram-se a favor da CPI. Julgavam que seria coerente com o discurso histórico do PT. Outros defensores da CPI lembram o caso Banestado, que teve CPI instalada em 2003 e não gerou danos.
Por que, então, o governo agiu contra a CPI? Uma das razões é que Dirceu já havia entrado em campo para abafar a iniciativa, conversando com dois aliados, os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), nos dias 14 e 15 de fevereiro. A revista "Época" com a reportagem que desencadeou a crise havia circulado no dia 13.
A revista trouxe a transcrição de um vídeo em que Waldomiro Diniz negociava com o empresário Carlinhos Cachoeira o favorecimento em licitações em troca de propinas ("quero 1% pra mim") e contribuições para campanhas.
A avaliação de Dirceu, de alguns ministros e de aliados é que a CPI afetaria a economia, seria voltada contra o Planalto e serviria de palco para a oposição em ano eleitoral. Foi com tal cenário que Lula fez uma reunião com ministros na manhã do dia 16. Quando indagou "por que não a CPI?", ouviu os argumentos contrários.
A articulação anti-CPI foi reforçada quando Dirceu pôs o cargo à disposição de Lula duas vezes na semana passada. Ele cogitou deixar o posto para responder à CPI como deputado federal. Esse movimento de Dirceu, que ouvia conselhos diretos de ACM para se segurar no posto, inibiu os membros do governo, entre eles Lula, que viam na CPI uma alternativa.
No meio da confusão, Lula optou por abafar a CPI. Mas, reservadamente, ele não descarta duas coisas, apesar de hoje elas serem menos prováveis: criar a CPI, ainda que não seja específica sobre Waldomiro, e afastar Dirceu temporariamente, para preservar o governo. As divergências sobre a CPI explicam por que o governo tem opinião dúbia sobre a CPI dos Bingos, pedida pelo senador Magno Malta (PL-ES). Uns se dizem a favor. Outros, contra.


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