|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ministros articularam ação para abafar CPI
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a discutir seriamente a conveniência de permitir a criação da
CPI (Comissão Parlamentar de
Inquérito) para investigar o caso
Waldomiro Diniz no Senado. Lula se mostrou favorável à CPI.
Mas seus principais ministros,
José Dirceu (Casa Civil), Antonio
Palocci Filho (Fazenda), Luiz
Gushiken (Comunicação de Governo), Luiz Dulci (Secretaria Geral), Aldo Rebelo (Coordenação
Política) e Jaques Wagner (Conselho), por serem contra ou por
terem dúvidas, convenceram Lula
a optar pela operação abafa.
Numa reunião do núcleo de comunicação do governo, na tarde
do dia 16, no Planalto, Lula repetiu a pergunta que fizera pela manhã, em reunião com ministros:
"Por que não a CPI?". O secretário
de Imprensa, Ricardo Kotscho, e
o marqueteiro Duda Mendonça
manifestaram-se a favor da CPI.
Julgavam que seria coerente com
o discurso histórico do PT. Outros defensores da CPI lembram o
caso Banestado, que teve CPI instalada em 2003 e não gerou danos.
Por que, então, o governo agiu
contra a CPI? Uma das razões é
que Dirceu já havia entrado em
campo para abafar a iniciativa,
conversando com dois aliados, os
senadores José Sarney (PMDB-AP) e Antonio Carlos Magalhães
(PFL-BA), nos dias 14 e 15 de fevereiro. A revista "Época" com a reportagem que desencadeou a crise havia circulado no dia 13.
A revista trouxe a transcrição de
um vídeo em que Waldomiro Diniz negociava com o empresário
Carlinhos Cachoeira o favorecimento em licitações em troca de
propinas ("quero 1% pra mim") e
contribuições para campanhas.
A avaliação de Dirceu, de alguns
ministros e de aliados é que a CPI
afetaria a economia, seria voltada
contra o Planalto e serviria de palco para a oposição em ano eleitoral. Foi com tal cenário que Lula
fez uma reunião com ministros
na manhã do dia 16. Quando indagou "por que não a CPI?", ouviu os argumentos contrários.
A articulação anti-CPI foi reforçada quando Dirceu pôs o cargo à
disposição de Lula duas vezes na
semana passada. Ele cogitou deixar o posto para responder à CPI
como deputado federal. Esse movimento de Dirceu, que ouvia
conselhos diretos de ACM para se
segurar no posto, inibiu os membros do governo, entre eles Lula,
que viam na CPI uma alternativa.
No meio da confusão, Lula optou por abafar a CPI. Mas, reservadamente, ele não descarta duas
coisas, apesar de hoje elas serem
menos prováveis: criar a CPI, ainda que não seja específica sobre
Waldomiro, e afastar Dirceu temporariamente, para preservar o
governo. As divergências sobre a
CPI explicam por que o governo
tem opinião dúbia sobre a CPI
dos Bingos, pedida pelo senador
Magno Malta (PL-ES). Uns se dizem a favor. Outros, contra.
Texto Anterior: Governo usa "pauta positiva" para abafar caso Waldomiro Próximo Texto: Proibidos, bingos cobram coerência de Lula Índice
|