São Paulo, quinta-feira, 26 de fevereiro de 2004

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IGREJA

D. Geraldo Majella, presidente da entidade, cobrou ações urgentes do governo e cumprimento de promessas de campanha

"Jeitinho" impede explosão social, diz CNBB

Sérgio Lima/Folha Imagem
Marina Silva e d. Odilo Pedro Scherer, da CNBB, no lançamento da Campanha da Fraternidade


LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Ao lançar ontem em Salvador a Campanha da Fraternidade 2004, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) cobrou do presidente Luiz Inácio Lula da Silva o cumprimento das promessas sociais feitas durante a campanha eleitoral. "A CNBB esperava mais do governo Lula. Se o próprio presidente diz que não cumpriu nem 1% das promessas, quem sou eu para dizer o contrário?", questionou o presidente da entidade, dom Geraldo Majella Agnelo.
Segundo o cardeal, o "jeitinho" brasileiro contribui para evitar uma explosão social no país. "Em outros países, já tinha acontecido [a explosão]. Veja o caso da Argentina, onde o povo foi às ruas e exigiu mudanças radicais." Em setembro de 2003, o cardeal comparou o Brasil a uma panela de pressão, "prestes a explodir".
Ontem, ao ser indagado se a panela de pressão estava em fogo brando, o cardeal respondeu: "Tem certas coisas que a gente não pode marcar hora para acontecer". No momento em que cobrava "urgentes" ações sociais do governo, dom Geraldo ressaltou os lucros dos principais bancos brasileiros no ano passado.
"Quem realmente dá lucro para os bancos são os pobres, as desordens e as catástrofes. O que nós estamos vendo é uma inversão total dos valores", disse. O cardeal primaz do Brasil disse que não foi surpresa para a CNBB a primeira grande denúncia de corrupção no governo Lula, com a divulgação das fitas envolvendo o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência Waldomiro Diniz.
"Não foi nenhuma surpresa. Num país onde 29% da população vive abaixo da linha de pobreza e onde o desemprego, o analfabetismo e as distorções salariais são muito grandes, ainda existe muita gente que busca na política o enriquecimento pessoal ou de grupos." Ele defendeu a proibição dos bingos e de jogos eletrônicos: "A corrupção tem uma capacidade criativa muito grande. Moralmente, não seria adequado o governo patrocinar os jogos de azar". Para o cardeal, o jogo empobrece ainda mais as pessoas.
Ele isentou o presidente no caso: "O governo é muito complexo e o presidente nem sempre sabe tudo o que acontece ao seu redor. No Palácio do Planalto existem quatro andares, muitas salas e muitas pessoas trabalhando. É evidente que, como em qualquer outra atividade, existem também pessoas no Palácio do Planalto que não exercem as suas funções com responsabilidade". Mas o Planalto precisa dar uma resposta à sociedade, punindo os culpados: "Onde existe o homem, sempre vai existir a possibilidade do erro. Então, o que nós queremos é o total esclarecimento das acusações e a punição dos culpados".


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