São Paulo, domingo, 26 de março de 2000


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JANIO DE FREITAS Quando um país vai bem

"Lucro de bancos estrangeiros subiu 852%" em 99, dizia um título interno da Folha na quinta-feira, segundo levantamento da consultoria Austin Asis. Só com os títulos de dívida do governo corrigidos pelo dólar, os bancos estrangeiros no Brasil ganharam mais de US$ 8 bilhões, ou uns R$ 15 bilhões. Saídos dos cofres públicos, onde chegaram depois de sair dos bolsos dos cidadãos. Na mesma quinta-feira, e em página ainda mais remota, lia-se que "salários tiveram (em 99) a maior redução no Real", com perda de 4% calculada pelo IBGE. No dia seguinte, o "Globo" abria um caderno informando que o mês passado registrou "o maior desemprego do Real", equivalente aos 8,2% constatados em 1982, nos dias dramáticos em que se sobrepuseram a crise da dívida externa e a do petróleo. Na mesma página, a queda da renda de todos os tipos de trabalhadores em janeiro, comparada a dezembro: menos 7,2%, acumulando-se àquela perda anual de 4%. O Brasil vai bem. Como o governo que tem.
Nas enfermarias "Duas senhoras foram tratadas na Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza. A primeira, chamada Joventina, passou 10 dias na enfermaria e 38 na UTI. A Santa Casa gastou R$ 15.858,19, sendo R$ 3.133 em remédios. Com a segunda paciente, Maria, foram gastos R$ 8.103,65, sendo R$ 2.146,68 com remédios. O total gasto com essas duas brasileiras foi de R$ 23.961,64. E o SUS pagou a importância de R$ 3.639,54, que não paga (nem) o gasto com os remédios. O interessante é que são 2.600 Santas Casas no Brasil e quase todas falidas". O texto acima é de um fax motivado pelo artigo "Um caso brasileiro" sobre a situação da Associação Brasileira Beneficente Reabilitação (ABBR). Com o título "Um caso cearense", foi mandado pelo provedor da Santa Casa de Fortaleza, Francisco Batista de Melo, que diz em outro trecho igualmente ilustrativo: "A nossa dívida, que era de R$ 1 milhão em 96, passou para quase R$ 4 milhões em 99. Tudo tem sido feito para melhorar a entrada de dinheiro. Só que tudo aumenta, menos o SUS. No campo da saúde não houve inflação desde 95, o real não se desvalorizou perante o dólar e o povo brasileiro, graças ao bom Deus, não fica doente. É a nossa salvação". O Brasil vai bem. Como o governo que tem.
Nos salões

Depois da recepção gigantesca, na semana passada, para comemorar mais uma homenagem ao escritor Paulo Coelho na França, o embaixador Marcos Azambuja "abriu a residência na Rue d l'Admiral d'Estaing" anteontem para mais uma recepção aos amigos, aos conhecidos e aos nem tanto. E no dia 12 dá uma recepção para 500, porque um amigo seu que trabalhava na França está de volta. É o que se lê na correspondência social de Paris.
O Brasil, vê-se, vai bem. Como o governo e os que o representam com tanta perfeição, aqui e pelo mundo afora. Demonstração a ser logo enriquecida, nos vários sentidos dessa palavra, com mais uma viagem inútil do presidente da República com a farta e habitual comitiva.


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