São Paulo, domingo, 26 de março de 2000


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DIPLOMACIA
Evento, que ocorrerá em Brasília, será o 1º da região e começa em 31 de agosto
Brasil terá cúpula sul-americana


CLÓVIS ROSSI
do Conselho Editorial

O presidente Fernando Henrique Cardoso convidou pessoalmente seus pares dos outros 11 países sul-americanos para a primeira reunião de cúpula da região. Será nos dias 31 de agosto e 1º de setembro em Brasília.
Quatro blocos temáticos comporão a agenda do encontro: reforço da democracia, comércio, integração física e combate ao crime organizado.
"A realização da reunião, no ano das comemorações do quinto centenário do Descobrimento, marca, de forma emblemática, a alta prioridade que o Brasil atribui a seu relacionamento com os países sul-americanos", diz a nota oficial com a qual o Itamaraty anunciou a realização da cúpula.
Na realidade, trata-se de um passo político para dar conteúdo prático ao que o presidente gosta de referir-se como "espaço sul-americano". Ou, como diz o chanceler Luiz Felipe Lampreia, trata-se de criar em cima da realidade física que é a América do Sul "um invólucro político capaz de otimizar um pouco a vizinhança".
O Itamaraty nega que se trate de somar forças, na América do Sul, para negociar em melhores condições com os Estados Unidos no âmbito da Alca (Área de Livre Comércio das Américas, prevista para abranger todos os 34 países americanos, exceto Cuba).
Mas a própria nota oficial diz que a cúpula de presidentes "oferece a oportunidade ideal para que a experiência já adquirida com os esquemas de integração possa ser estendida para o nível regional, gerando as condições necessárias para a organização do espaço sul-americano de acordo com as características, necessidades e potencialidades que singularizam nossa região".
Traduzindo: a América do Sul já tem um bloco regional, embora em crise (o Mercosul). Esse bloco já negocia, ainda que penosamente, um acordo de integração com os cinco países da Comunidade Andina (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela).
Dessas negociações, poderia nascer a Alcsa (Área de Livre Comércio Sul-Americano), projeto que o Itamaraty acalenta desde o governo Itamar Franco.
De todo modo, a diplomacia brasileira faz questão de ressaltar que comércio é apenas um dos quatro temas da cúpula.
O reforço da democracia tornou-se questão urgente a partir dos episódios do Paraguai e do Equador, no ano passado e neste ano. Embora tivesse sido evitada a ruptura democrática, em ambos os casos houve nítidos arranhões no processo, com a renúncia forçada de Raúl Cubas (Paraguai) e Jamil Mahuad (Equador).
Mas a diplomacia brasileira está igualmente preocupada com a zona norte da América do Sul (leia-se Colômbia e Venezuela), área em que a turbulência política também é forte.
A idéia de incluir o combate ao crime organizado no temário parte do princípio de que cada país isoladamente é incapaz de fazer frente às organizações criminosas que se internacionalizaram.
FHC primeiro telefonou e depois mandou cartas a cada um dos presidentes dos outros 11 países sul-americanos (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Equador e Venezuela). Fica de fora apenas a Guiana Francesa, por seu status de colônia.
De todos, recebeu resposta positiva, o que permitiu anunciar formalmente a data e local do encontro. Os 12 presidentes assinarão a "Declaração de Brasília", documento que refletirá os consensos obtidos bem como recomendações e linhas de ação a serem eventualmente sugeridas pelos participantes.


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