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CELSO PINTO
As espertezas e o novo mínimo
A solução para o salário mínimo fechou com uma esperteza política, a de repassar a pressão por
aumentos para governos estaduais, uma discussão que havia
começado com uma esperteza política do PFL: tentar repassar para o presidente o ônus de vetar
um aumento irreal. Mais uma
vez, contudo, perdeu-se uma boa
oportunidade de discutir a questão social ligada ao mínimo.
O ministro da Fazenda, Pedro
Malan, ficou satisfeito com a solução. Para o governo federal, o
custo fiscal adicional, de R$ 1 bilhão, é facilmente absorvível.
Os Estados, por sua vez, lembra
Malan, terão quatro freios sobre
tentações de aumentos excessivos:
1) a Lei de Responsabilidade Fiscal; 2) a Lei Camata (que fixa um
teto para gastos com salários); 3)
os compromissos dos acordos de
renegociação das dívidas com o
governo federal; e 4) a pressão dos
municípios (em seis Estados, por
exemplo, mais de 40% dos funcionários municipais ganham o mínimo e um aumento mais forte
seria desastroso).
Existe, contudo, um lado social
que continuou intocado. Uma
grande parcela dos gastos federais
atrelados ao salário mínimo,
classificados como pagamentos
de inativos, na verdade tem um
caráter de renda mínima ou assistência social. É o caso dos 6 milhões de aposentados rurais, que
consomem R$ 10 bilhões do déficit
de R$ 11 bilhões do INSS. É também o caso do 1,7 milhão de beneficiários do Loas (Lei Orgânica de
Assistência Social), que levam R$
1 bilhão. E os quase 1 milhão que
estão no programa de renda
mensal vitalícia (R$ 870 milhões).
Quer dizer, para quase 8 milhões de brasileiros, que vivem na
franja da pobreza absoluta, aumentos no mínimo têm um impacto direto e positivo. Atingem o
público-alvo sem desvios e não
desperdiçam dinheiro na intermediação. Malan questiona se
programas desse tipo são os mais
eficazes na área social. Lembra o
argumento de economistas de
que faz muito mais sentido dirigir
os gastos sociais para programas
como a bolsa-escola, que geram
soluções a longo prazo, via educação. Para que uma discussão desse tipo decolasse, contudo, seria
preciso, primeiro, que o governo
deixasse de engordar o déficit indevido dos inativos do INSS e
chamasse os gastos pelo novo devido, como o ministro Waldeck
Ornélas, da Previdência, prometeu, no ano passado, que faria.
Além disso, seria preciso ter vontade política, no Congresso, para
discutir fontes fiscais permanentes para cobrir estes gastos.
Sobras fiscais
O que menos preocupa a Fazenda é descobrir como financiar o
R$ 1 bilhão adicional com o mínimo a R$ 151,00. A proposta do
Congresso para o Orçamento se
apropria de ganhos reais e outros
irreais, mas a verdade é que um
simples decreto do Executivo pode mudar o que tiver sido aprovado pelo Legislativo.
De outro lado, não faltam margens de manobra. Um exemplo: o
fato de o PIB ter sido calculado,
provisoriamente, usando o IGP-DI, maior do que será o deflator
implícito (calcula-se a diferença
em 3 pontos percentuais) vai reduzir o PIB nominal de 99.
Como a meta no orçamento da
União deste ano é ter um superávit primário de 2,65% do PIB,
mas supondo um PIB nominal
maior (a partir de uma base nominal maior), pode-se chegar ao
mesmo resultado relativo com
um gasto menor. Só aí, a Fazenda estima um ganho de R$ 1 bilhão em relação ao estimado.
A Fazenda está cada vez mais
convencida, também, de que o
PIB pode crescer mais perto de
5% do que de 4% este ano, o que
ajudaria pelo lado das receitas.
Não se quer mudar a previsão
oficial, por enquanto, porque isso
implicaria em rediscutir metas
nominais de superávit com o
FMI. Por falar em FMI, acertou-se com a missão deixar as metas
trimestrais de inflação como estão. Com a queda recente da inflação, considerando as previsões
de mercado, sumiu o risco de um
estouro no segundo trimestre. No
terceiro trimestre, o risco é de um
estouro de 1,2%, apenas 0,2% acima do limite que exigiria uma
conversa com o FMI. Os dois lados concluíram que não valia a
pena mexer nas metas por tão
pouco.
Para o ano que vem, além das
metas trimestrais de inflação
passada, serão levados em consideração indicadores antecedentes de inflação futura, dando
uma pitada a mais de racionalidade para as metas.
Fazenda X BC
Não fez nenhum sucesso na Fazenda o superconservadorismo
do Banco Central no Copom ao
não mexer nos juros. Com um
enorme superávit primário de R$
4 bilhões em janeiro; déficit nominal anual caindo para 4,6%
do PIB; deflação; petróleo a US$
26 o barril; câmbio querendo bater em R$ 1,70; nenhuma ameaça
no mínimo (o presidente sempre
pode vetar qualquer solução indesejada); e nenhum sinal de vida na demanda; por que não baixar os juros? Um corte de 0,5% no
juro, se mantido por 12 meses, daria uma economia de R$ 2,5 bilhões, ou 2,5 vezes a conta adicional do mínimo.
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