São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

PSDB, PFL e PDT criticam política econômica em nota conjunta, descartam crise institucional e negam fazer "o jogo do quanto-pior-melhor"

Governo é acéfalo e apático, diz oposição

Lula Marques/Folha Imagem
O presidente do PSDB, José Serra, e o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), na reunião da oposição


RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os principais partidos de oposição, que ontem se reuniram em Brasília para definir estratégias de atuação, divulgaram uma nota avaliando o governo de Luiz Inácio Lula da Silva como "apático, confuso, sem liderança, imaginação nem projetos".
PSDB, PFL e PDT, além de dissidentes do PMDB e do PP, que são aliados do Planalto, formaram um fórum para cobrar soluções para problemas como desemprego e falta de ética.
O encontro reuniu os presidentes do PSDB, José Serra, e do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC). Com problemas de saúde, o presidente do PDT, Leonel Brizola, foi representado pelo senador Jefferson Péres (PDT-AM), que presidiu o ato. Também participaram os deputados Geddel Vieira Lima (BA) e Eliseu Padilha (RS), do PMDB, e Ricardo Barros (PR) e Francisco Turra (RS), do PP.
O local do encontro, o plenário da comissão do Senado, ficou lotado. Apesar dos discursos contundentes, apontando erros na política econômica, falta de programas governamentais e o desgaste por conta do caso Waldomiro, a nota diz não haver razão para "discursos alarmistas", "ameaças de golpe nem conspirações".
Waldomiro Diniz, ex-assessor do Planalto, foi flagrado em vídeo de 2002 pedindo propina e contribuição de campanha a um empresário de jogos. À época, atuava na gestão Benedita da Silva (PT-RJ).
"Há uma crise de governo. Está em tempo de evitar que ela se transforme em crise de confiança na democracia. Não queremos nem saberíamos fazer o jogo do quanto-pior-melhor. Interessa-nos, acima de tudo, evitar que a decepção se transforme em desespero, canalizando-a para a ação política regular, legítima e aberta", diz a nota, intitulada "União pela Ética e pelo Emprego".
O governo também encara críticas contundentes na própria base. Anteontem, Lula enfrentou sua primeira rebelião pós-caso Waldomiro na Câmara. PTB, PP, PL e setores do PMDB impediram a votação da medida provisória que proíbe o funcionamento dos bingos e exigiram cargos e verbas para aprová-la. O governo precisou, anteontem à noite, convocar dois jantares e lançar um "pacote" para agradar aos aliados.

"Oposição responsável"
A preocupação com a governabilidade marcou as conversas das cúpulas do PSDB e do PFL com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na semana passada.
"Se há uma crise, é de autoridade, e, se podemos dar nome à crise, ela se chama Lula. O que queremos é que o presidente governe, exerça o seu mandato, não delegue tudo, participe, escute, atue", afirmou ontem Bornhausen.
O pefelista apontou uma sucessão de erros do governo -como aumento da taxa de juros e elevação da carga tributária, que agravaram o problema do desemprego- e defendeu uma "oposição responsável". "Não somos radicais, não gritamos "fora" para ninguém", afirmou.
Serra, derrotado por Lula nas eleições de 2002, disse que a situação do país é tensa, mas negou suposta crise institucional. "Não há enfrentamento de poderes, nenhuma força que proponha abalar o regime e o sistema democrático, não há perturbações nem remotamente parecidas às que dominam o cenário de outros países, como a Venezuela", disse.
Jefferson Péres afirmou que o fórum que foi criado não significa um "pacto com vistas às eleições deste ano nem às de 2006". Defendeu a unidade das oposições, apesar das diferenças partidárias, e disse que o objetivo não é desestabilizar o governo.
"Queremos que a oposição não seja tão leniente, que pareça frouxidão adesista, nem tão radical, que pareça aventureira e golpista", afirmou.
O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (pré-candidato a prefeito paulistano pelo PDT), lembrou o apoio da central a Lula na eleição de 2002 e a frustração com o não cumprimento das promessas, principalmente de criação de empregos.
"Se eu soubesse, teria apoiado você, Serra. Para fazer uma desgraça dessa, com certeza você faria melhor", disse.
O peemedebista Geddel defendeu a "legitimidade" do seu comportamento de oposição ao governo Lula, lembrando que o PMDB apoiou a candidatura de Serra. "Foi na oposição que a eleição nos colocou", disse.


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