São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Emendas, nomeações e criação de conselho fazem parte de pacote de concessão aos aliados para que apóiem a MP dos Bingos

Para conter crise, governo promete R$ 300 mi

DA SUCURSAL BRASÍLIA

Para tentar superar a rebelião de sua base de apoio na Câmara e votar a medida provisória que proíbe os bingos no país, o governo prometeu liberar imediatamente R$ 300 milhões em emendas parlamentares (deputados e senadores) e analisar com mais agilidade os pedidos parados de nomeações para cargos e de outros tipos de verbas públicas.
Essas medidas fazem parte de um pacote de concessões aos aliados e são resultado de duas reuniões emergenciais na noite de anteontem. O Palácio do Planalto também prometeu cumprir a antiga promessa de criar um conselho com presidentes de partidos governistas, além de determinar a ministros uma atenção especial a congressistas.
Lula está preocupado com o preço de sua governabilidade. Anteontem, ao reagir com contrariedade à rebelião, disse que os aliados estavam cobrando caro pela fatura de abafar o caso Waldomiro Diniz. Sentiu, segundo a Folha apurou, que há enfraquecimento do governo e que o jogo parlamentar ficará mais caro em termos fisiológicos.
Dos sete principais partidos aliados, quatro (PTB, PL, PP e PMDB) impediram a votação da MP que proíbe o funcionamento dos bingos e exigiram benesses em verbas e cargos. Com o pacote, os aliados prometeram votar a MP dos Bingos, resposta política do governo ao caso Waldomiro, na semana que vem.

"Migalhazinha"
Apesar disso, o "fogo amigo" não acabou. "Não vão atender a ninguém, vão fazer um afagozinho aqui, dar uma migalhazinha ali, aí o sujeito abana o rabo por uma semana, mas vai ficar nisso", previu o presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), anfitrião de uma das reuniões.
Nos encontros, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) prometeu liberar até o início de julho as emendas parlamentares de 2002, 2003 e parte das de 2004, no total de R$ 300 milhões; os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Coordenação Política) se comprometeram a agilizar a nomeação de pessoas indicadas por partidos aliados.
De todo modo, a liberação apenas saciará temporariamente o apetite dos deputados -a reivindicação no Congresso é de liberação de R$ 4,7 milhões por parlamentar, ou R$ 2,8 bilhões, algo fora do horizonte do governo.
O presidente do PT, José Genoino, levou o recado de Lula de que ministros serão mais atenciosos e de que o conselho político com os caciques aliados sairá do papel.
"Vai acabar virando um conselho de convescote. O PT nos empurrou com a barriga por três meses, acho que vai empurrar por mais três, até o fim do ano político no Congresso", disse Jefferson, referindo-se ao esvaziamento de Brasília a partir de julho devido às eleições municipais.

Os encontros
Os encontros para apagar o incêndio foram os seguintes: líderes dos partidos aliados se reuniram na casa do presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), com Palocci, Dirceu e Rebelo. Presidentes de partidos governistas se encontraram no apartamento de Jefferson.
As duas reuniões ocorreram no dia em que os rumores sobre a saída de Dirceu do governo atingiram níveis elevados em Brasília. Aproveitando a fragilidade do chefe da Casa Civil -que elevou, com recentes críticas à oposição, a temperatura em torno do caso Waldomiro, seu ex-assessor-, PMDB, PP, PTB e PL, que representam 60% da base de apoio do governo na Câmara, jogaram duro com o governo.
Eufemisticamente, João Paulo confirmou o motivo fisiológico da rebelião ao descrever o clima da reunião em sua casa: "Não prevaleceu muito o tom de cobrar emendas e sim a falta de atenção de ministros e presidentes de autarquias".
Em seu discurso, Palocci voltou a defender a política econômica e disse ser a favor da queda dos juros, mas de forma segura, sem afobamento, já que uma precipitação levaria a taxa básica, hoje em 16,25%, a subir novamente um ou dois meses depois.
Segundo relatos de presentes, o ministro disse que não cederá a pressões para a adoção de pacotes econômicos, que seriam "ilusórios". Ele e Dirceu teriam negado estudos para a criação de novos ministérios no governo, como o da Administração.
Vários aliados fizeram discursos em defesa da permanência de Dirceu na Casa Civil, dizendo que sua saída representaria uma grande perda para o governo.
(RANIER BRAGON, FERNANDA KRAKOVICS, KENNEDY ALENCAR E RAYMUNDO COSTA)


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