|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SOMBRA NO PLANALTO
Emendas, nomeações e criação de conselho fazem parte de pacote de concessão aos aliados para que apóiem a MP dos Bingos
Para conter crise, governo promete R$ 300 mi
DA SUCURSAL BRASÍLIA
Para tentar superar a rebelião
de sua base de apoio na Câmara e
votar a medida provisória que
proíbe os bingos no país, o governo prometeu liberar imediatamente R$ 300 milhões em emendas parlamentares (deputados e
senadores) e analisar com mais
agilidade os pedidos parados de
nomeações para cargos e de outros tipos de verbas públicas.
Essas medidas fazem parte de
um pacote de concessões aos aliados e são resultado de duas reuniões emergenciais na noite de
anteontem. O Palácio do Planalto
também prometeu cumprir a antiga promessa de criar um conselho com presidentes de partidos
governistas, além de determinar a
ministros uma atenção especial a
congressistas.
Lula está preocupado com o
preço de sua governabilidade.
Anteontem, ao reagir com contrariedade à rebelião, disse que os
aliados estavam cobrando caro
pela fatura de abafar o caso Waldomiro Diniz. Sentiu, segundo a
Folha apurou, que há enfraquecimento do governo e que o jogo
parlamentar ficará mais caro em
termos fisiológicos.
Dos sete principais partidos
aliados, quatro (PTB, PL, PP e
PMDB) impediram a votação da
MP que proíbe o funcionamento
dos bingos e exigiram benesses
em verbas e cargos. Com o pacote,
os aliados prometeram votar a
MP dos Bingos, resposta política
do governo ao caso Waldomiro,
na semana que vem.
"Migalhazinha"
Apesar disso, o "fogo amigo"
não acabou. "Não vão atender a
ninguém, vão fazer um afagozinho aqui, dar uma migalhazinha
ali, aí o sujeito abana o rabo por
uma semana, mas vai ficar nisso",
previu o presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), anfitrião de
uma das reuniões.
Nos encontros, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda)
prometeu liberar até o início de
julho as emendas parlamentares
de 2002, 2003 e parte das de 2004,
no total de R$ 300 milhões; os ministros José Dirceu (Casa Civil) e
Aldo Rebelo (Coordenação Política) se comprometeram a agilizar
a nomeação de pessoas indicadas
por partidos aliados.
De todo modo, a liberação apenas saciará temporariamente o
apetite dos deputados -a reivindicação no Congresso é de liberação de R$ 4,7 milhões por parlamentar, ou R$ 2,8 bilhões, algo fora do horizonte do governo.
O presidente do PT, José Genoino, levou o recado de Lula de que
ministros serão mais atenciosos e
de que o conselho político com os
caciques aliados sairá do papel.
"Vai acabar virando um conselho de convescote. O PT nos empurrou com a barriga por três meses, acho que vai empurrar por
mais três, até o fim do ano político
no Congresso", disse Jefferson,
referindo-se ao esvaziamento de
Brasília a partir de julho devido às
eleições municipais.
Os encontros
Os encontros para apagar o incêndio foram os seguintes: líderes
dos partidos aliados se reuniram
na casa do presidente da Câmara,
João Paulo Cunha (PT-SP), com
Palocci, Dirceu e Rebelo. Presidentes de partidos governistas se
encontraram no apartamento de
Jefferson.
As duas reuniões ocorreram no
dia em que os rumores sobre a
saída de Dirceu do governo atingiram níveis elevados em Brasília.
Aproveitando a fragilidade do
chefe da Casa Civil -que elevou,
com recentes críticas à oposição, a
temperatura em torno do caso
Waldomiro, seu ex-assessor-,
PMDB, PP, PTB e PL, que representam 60% da base de apoio do
governo na Câmara, jogaram duro com o governo.
Eufemisticamente, João Paulo
confirmou o motivo fisiológico da
rebelião ao descrever o clima da
reunião em sua casa: "Não prevaleceu muito o tom de cobrar
emendas e sim a falta de atenção
de ministros e presidentes de autarquias".
Em seu discurso, Palocci voltou
a defender a política econômica e
disse ser a favor da queda dos juros, mas de forma segura, sem
afobamento, já que uma precipitação levaria a taxa básica, hoje
em 16,25%, a subir novamente
um ou dois meses depois.
Segundo relatos de presentes, o
ministro disse que não cederá a
pressões para a adoção de pacotes
econômicos, que seriam "ilusórios". Ele e Dirceu teriam negado
estudos para a criação de novos
ministérios no governo, como o
da Administração.
Vários aliados fizeram discursos em defesa da permanência de
Dirceu na Casa Civil, dizendo que
sua saída representaria uma grande perda para o governo.
(RANIER BRAGON, FERNANDA KRAKOVICS, KENNEDY ALENCAR E RAYMUNDO
COSTA)
Texto Anterior: Lula afasta Dirceu da operação política Próximo Texto: Sombra no Planalto: Governo é acéfalo e apático, diz oposição Índice
|