São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Empresário disse a procuradores que interpretou como "ordem" pedido de ex-presidente da Loterj para contratar publicitário

Cachoeira afirma que Waldomiro o coagiu

FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO

O empresário do jogo Carlos Augusto Pereira Ramos, o Carlinhos Cachoeira, disse, em depoimento ao Ministério Público Federal, ter se sentido coagido pelo então presidente da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro), Waldomiro Diniz, a contratar o publicitário Armado Dile para trabalhar na Combralog -consórcio formado pela Capital Construtora e Limpeza e pela Boldt S/A, do qual Cachoeira era um dos sócios.
A declaração faz parte da investigação sigilosa do Ministério Público Federal no Rio sobre uma suposta organização criminosa de lavagem de dinheiro do tráfico internacional de drogas, por meio da venda e instalação de máquinas eletrônicas de jogos.
Cachoeira disse que interpretou com uma ordem o pedido de contratação de Dile feito por Waldomiro. A Combralog acabava de vencer a licitação da Loterj para operar loterias on-line.
Segundo o empresário, Dile foi indicado por Waldomiro porque havia sido executivo da GTech, multinacional que monopoliza as loterias on-line da CEF (Caixa Econômica Federal).
De acordo com os depoimentos de ex-funcionários da Loterj à CPI da Assembléia do Rio, Dile tinha na Loterj um cargo de consultor informal. José Luís Quintães, ex-gerente de loterias da CEF e ex-consultor da Loterj, em depoimento ontem à CPI, disse que Dile era "o sargentão" da Combralog, representando os interesses do consórcio na Loterj.
No depoimento ao Ministério Público, Cachoeira disse que Dile lhe pediu propina e doações para campanhas eleitorais para facilitar sua entrada e ampliar sua participação no mercado do Rio.
Como não teria atendido aos pedidos de Dile, Cachoeira teria sido visitado por Waldomiro. O empresário disse ter achado estranho recebê-lo em seu escritório.
Esse teria sido o motivo de ter gravado a fita que registra a reunião em que Waldomiro lhe pede propina e dinheiro para as campanhas eleitorais de Benedita da Silva (PT) e Rosinha Matheus (então no PSB), no Rio, e de Geraldo Magela (PT), no Distrito Federal.
O empresário disse que tinha a intenção de instalar máquinas de videoloteria dentro dos bingos. Esse objetivo sofria forte resistência dos fabricantes das máquinas eletrônicas dos bingos do Rio, que temiam que ele conseguisse o monopólio, como ocorre no Paraná.
Por não ter pago os valores pedidos por Waldomiro, Cachoeira afirmou ter sido "boicotado".
Quando a revista "Época" divulgou o conteúdo das fitas, no dia 13 de fevereiro, Waldomiro disse que a propina de 1% era para pagar a comissão de Dile, que morreu num acidente de carro em dezembro de 2002.
A Folha teve acesso aos autos do processo da 5ª Vara Federal Criminal do Rio.


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