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SOMBRA NO PLANALTO
Empresário disse a procuradores que interpretou como "ordem" pedido de ex-presidente da Loterj para contratar publicitário
Cachoeira afirma que Waldomiro o coagiu
FABIANA CIMIERI
DA SUCURSAL DO RIO
O empresário do jogo Carlos
Augusto Pereira Ramos, o Carlinhos Cachoeira, disse, em depoimento ao Ministério Público Federal, ter se sentido coagido pelo
então presidente da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro),
Waldomiro Diniz, a contratar o
publicitário Armado Dile para
trabalhar na Combralog -consórcio formado pela Capital
Construtora e Limpeza e pela
Boldt S/A, do qual Cachoeira era
um dos sócios.
A declaração faz parte da investigação sigilosa do Ministério Público Federal no Rio sobre uma
suposta organização criminosa de
lavagem de dinheiro do tráfico internacional de drogas, por meio
da venda e instalação de máquinas eletrônicas de jogos.
Cachoeira disse que interpretou
com uma ordem o pedido de contratação de Dile feito por Waldomiro. A Combralog acabava de
vencer a licitação da Loterj para
operar loterias on-line.
Segundo o empresário, Dile foi
indicado por Waldomiro porque
havia sido executivo da GTech,
multinacional que monopoliza as
loterias on-line da CEF (Caixa
Econômica Federal).
De acordo com os depoimentos
de ex-funcionários da Loterj à CPI
da Assembléia do Rio, Dile tinha
na Loterj um cargo de consultor
informal. José Luís Quintães, ex-gerente de loterias da CEF e ex-consultor da Loterj, em depoimento ontem à CPI, disse que Dile era "o sargentão" da Combralog, representando os interesses
do consórcio na Loterj.
No depoimento ao Ministério
Público, Cachoeira disse que Dile
lhe pediu propina e doações para
campanhas eleitorais para facilitar sua entrada e ampliar sua participação no mercado do Rio.
Como não teria atendido aos
pedidos de Dile, Cachoeira teria
sido visitado por Waldomiro. O
empresário disse ter achado estranho recebê-lo em seu escritório.
Esse teria sido o motivo de ter
gravado a fita que registra a reunião em que Waldomiro lhe pede
propina e dinheiro para as campanhas eleitorais de Benedita da
Silva (PT) e Rosinha Matheus (então no PSB), no Rio, e de Geraldo
Magela (PT), no Distrito Federal.
O empresário disse que tinha a
intenção de instalar máquinas de
videoloteria dentro dos bingos.
Esse objetivo sofria forte resistência dos fabricantes das máquinas
eletrônicas dos bingos do Rio, que
temiam que ele conseguisse o monopólio, como ocorre no Paraná.
Por não ter pago os valores pedidos por Waldomiro, Cachoeira
afirmou ter sido "boicotado".
Quando a revista "Época" divulgou o conteúdo das fitas, no
dia 13 de fevereiro, Waldomiro
disse que a propina de 1% era para
pagar a comissão de Dile, que
morreu num acidente de carro
em dezembro de 2002.
A Folha teve acesso aos autos do
processo da 5ª Vara Federal Criminal do Rio.
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