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SOMBRA NO PLANALTO
Propriedade arrendada por consultor envolvido no caso Waldomiro sofre ação do Ministério Público, que apreende documentos
Promotoria faz blitz em fazenda de Buratti
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A PEDREGULHO (SP)
ROGÉRIO PAGNAN
JOEL SILVA
DA FOLHA RIBEIRÃO
O Ministério Público de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, fez uma blitz ontem em Pedregulho para apreender documentos numa fazenda usada pelo consultor de empresas Rogério Tadeu Buratti, envolvido no escândalo Waldomiro Diniz, para criação de gado e plantação de café.
Com um mandado de busca e
apreensão expedido pela juíza
Ana Maria Fontes e acompanhados de oito policiais militares,
quatro promotores apreenderam
documentos e ouviram os funcionários da fazenda, que fica a cerca
de 130 km de Ribeirão.
Os promotores apuram se a Fazenda Indaiá, de 62 alqueires, 158
cabeças de gado e 52 mil pés de
café, pertence a Buratti -o que
poderia caracterizar lavagem de
dinheiro. Ele e sua família ocupam o local há pelo menos quatro
meses, segundo os funcionários.
Não há propriedades rurais registradas em nome de Buratti ou
de seus familiares em Pedregulho,
segundo levantamento feito pela
Folha no cartório do município.
Rogério Buratti é investigado
por suposto envolvimento com o
caso Waldomiro Diniz. A contratação de uma empresa sua, a BBS
Consultores Associados, teria sido imposta pelo ex-assessor parlamentar do ministro José Dirceu
(Casa Civil) como condição para
que a empresa de informática
GTech Brasil conseguisse renovar
um contrato de R$ 650 milhões
por um prazo de 25 meses com a
CEF (Caixa Econômica Federal).
Buratti foi assessor parlamentar
de José Dirceu na década de 80 e
foi secretário de Governo do hoje
ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda). Em 94, saiu após uma
denúncia de favorecimento.
Na fazenda, os promotores
apreenderam notas fiscais de
compras de suplementos agrícolas em nome de Buratti, no valor
aproximado de R$ 100 mil, canhotos de talões de cheques e um
papel sobre gastos de US$ 200 em
Las Vegas (EUA). Esse gasto teria
sido feito por meio de uma conta
CC5 (para residentes no exterior).
A propriedade está sendo tocada pelo cunhado de Buratti, Jorge
Gonçalves, 38. Um Santana registrado em nome do consultor estava estacionado na fazenda.
Primeiro, Gonçalves disse aos
promotores que a propriedade
era arrendada. Depois, não soube
dizer à reportagem se a fazenda
estava registrada em nome de Buratti ou qual seu valor estimado.
Localizado ontem pela Folha,
Ivo Coutinho Elias, empresário de
Franca (SP), disse que arrendou a
propriedade para Buratti, mas
não soube afirmar o valor do negócio. Argumentou que precisava
ter o contrato em mãos para isso.
Elias explicou que Buratti o procurou para discutir arrendamento ou compra da área, que, para o
empresário, está avaliada em R$
500 mil. Para o Ministério Público, ela pode passar de R$ 1 milhão.
O caseiro Eurípedes Alves, 45,
contou que o ex-secretário de Palocci assumiu a propriedade há
cerca de quatro meses. Ele recebe
R$ 450 mensais, sempre em dinheiro, da mulher de Buratti, Elza
Siqueira Gonçalves.
Buratti, segundo levantamento
feito em cartórios e dados do Ministério Público, tem um patrimônio declarado de pelo menos
R$ 1,4 milhão -sem contar a fazenda. Em 1994, na comissão de
sindicância que investigava suposto tráfico de influência na Prefeitura de Ribeirão, ele declarou
ter patrimônio de R$ 13 mil no dia
1º de janeiro de 1993, quando o
prefeito Antonio Palocci assumiu.
Desde sua saída da prefeitura,
em outubro de 94, Buratti trabalhou cinco anos como consultor
da empreiteira Leão Leão. Pediu
afastamento do cargo de vice-presidente na semana passada.
É a segunda blitz que o Ministério Público realiza em endereços
ligados a Buratti.
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