São Paulo, sexta-feira, 26 de março de 2004

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TODA MÍDIA

Todo mundo vai elogiar

NELSON DE SÁ

Lula escolheu seu porta-voz, literalmente.
O Jornal Nacional deu manchete e "entrevistou" Franklin Martins, para este falar de seu "encontro" com o presidente.
As palavras do jornalista da Globo se confundiam, no relato, com as do presidente.
Lula/Franklin Martins produziu até uma nova metáfora para justificar o desemprego, da "dona-de-casa que está preparando a ceia de Natal":
- Como a comida sai tarde, as crianças começam a reclamar. O que ela deve fazer? Ficar nervosa, largar a cozinha, deixar o peru queimar? Não, deve fazer bem feita a ceia. Depois, na mesa, todo mundo vai elogiar.
O tom foi todo assim, entre supostas perguntas de William Bonner e Fátima Bernardes. Mais Martins/Lula, agora sobre a crise Waldomiro, que "foi inchada pela oposição":
- Li a reportagem com a denúncia às 10h30 e ao meio-dia o sujeito estava demitido e a investigação aberta. O que o governo tinha de fazer fez. O resto é com o Congresso.
Dirceu fica, diz Lula/Martins:
- Ele fez um trabalho extraordinário na articulação política e foi decisivo para o governo no primeiro ano. Mas ele sentiu o caso Waldomiro. É compreensível. Para uma pessoa honesta é uma situação terrível. Ainda mais porque atingiu o filho dele.
Está tudo bem, não há crise, diz Martins/Lula. Por exemplo:
- No núcleo do governo não existe esse negócio de um jogar contra o outro, de Dirceu puxar o tapete de Palocci ou vice-versa. É um pessoal que está junto há 25 anos.
Por fim, Franklin Martins, ele sozinho, para descrever:
- O presidente está tranqüilo. Fisicamente está bem, faz esteira 45 minutos por dia e a pressão dele é de 11 por 7. O problema é a cigarrilha. Fumou duas em uma hora e meia de conversa. Mas garante que vai largar.
Uma graça, esse Lula.

CAIXA-PRETA

"The Economist"/Reprodução


A revista britânica "The Economist", com a modéstia de sempre, dá reportagem para mostrar "como reformar o sistema judiciário do Brasil". Opõe as visões de Lula e do presidente do Supremo, Maurício Corrêa. Apresenta uma Justiça cheia de "casos frívolos" e "morosidade", com juízes "antiquados e distantes dos cidadãos que eles servem" -e que "drena de dinheiro e moral o país". Mas não chega a apoiar a reforma de Lula, até elogia os juízes. Diz que quando se abrir a caixa-preta (acima) vão achar uma instituição "tão complexa quanto uma civilização".

Azeite

Lula não foi, mas segundo a Globo ele se viu "obrigado a ficar de plantão durante todo o dia, de noite... e de madrugada".
Ficou esperando o resultado dos jantares convocados para resolver a crise. E resolvida ela foi, do jeito de sempre. Com os eufemismos de sempre. Do presidente do PT, José Genoino:
- Vamos azeitar o diálogo.

Orçamento

O que querem os aliados? Do presidente do PP, Pedro Corrêa:
- Queremos que o governo promova os investimentos.
Para traduzir, Cristiana Lôbo, na Globo News e Globo On Line:
- Os aliados voltaram a cobrar a liberação de emendas, porque em ano eleitoral os empenhos têm que sair até junho.

Pesquisas

A quinta foi de esforços para adiantar o que vem aí, para Lula.
Em "O Globo", falou-se em queda de 20 pontos em três meses, no Vox Populi. No "Jornal do Brasil", falou-se que bom/ótimo perde para ruim/péssimo, num certo Instituto CPP.
Até Dirceu e os "aliados" falaram em pesquisa, com esta avaliação, segundo a Globo News:
- O desgaste de Lula acontece entre os formadores de opinião, não nas classes C, D e E.

O pior momento

Mas este é "o pior momento" de Lula, afirma o jornal conservador argentino "La Nacion":
- Acumula críticas, pressões e ameaças de setores sindicais, políticos, empresariais e sociais.
Todo o mundo.

Crise Lula

O "pior momento" de Lula seria o melhor de José Serra, no encontro da frente de oposição.
Mas foi o melhor de Jorge Bornhausen, que dominou a cobertura com o "mais contundente ataque contra o governo", para Cristiana Lôbo. Do pefelista:
- A crise se chama Lula.

Só pensa no poder

O melhor que Serra conseguiu foi dizer, nos telejornais:
- Que o governo governe.
Nem no site do PSDB o nome de seu presidente foi ao título. Curiosamente, no do PFL ele foi:
- Para José Serra, governo do PT só pensa no poder.
Ah, e Leonel Brizola não deu as caras para a "photo-op".

Energia

Mais Argentina. O jornal "Clarín" destacou a crise energética em seu país. E o "Wall Street Journal" noticiou que o Brasil pós-apagão vai exportar eletricidade para o colega do sul.

STAND-UP

Rede Globo/Reprodução


O jantar anual dos jornalistas de Washington sempre traz um comediante "stand-up". Este ano, foi o próprio George W. Bush, com dez minutos de piadas -escritas para ele. Todas as redes americanas cobriram, bem como a Globo.
A certa altura, durante a apresentação de um "álbum de fotos do ano na Casa Branca", ele mostrou uma cena de si mesmo procurando sob uma mesa (acima) e disse estar atrás das armas de destruição em massa.

ENDEREÇOS

"The Economist" - economist.com/printedition ; Globo On Line - oglobo.globo.com/online; "O Globo" - oglobo.globo.com/jornal; "Jornal do Brasil" - jbonline.terra.com.br; "La Nacion" - lanacion.com.ar; PSDB - psdb.org.br; PFL - pfl.org.br; Clarín - clarin.com; "The Wall Street Journal" - wsj.com


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