São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

COMEMORAÇÃO
Versão original trazia referências a injustiças do presente
Vaticano censura cantos e trechos da celebração

Lula Marques/Folha Imagem
O presidente FHC e o cardeal Angelo Sodano, do Vaticano


ARMANDO ANTENORE
enviado especial a Porto Seguro


O Vaticano vetou cantos e trechos da missa que vai celebrar hoje os 500 anos de evangelização do Brasil. As partes excluídas dariam à cerimônia um tom de crítica social bem mais contundente do que aquele que os fiéis irão presenciar esta manhã no município baiano de Santa Cruz Cabrália.
Tanto os cantos quanto os trechos estavam em sintonia com as posições do clero progressista brasileiro, que costuma adicionar análises políticas à retórica religiosa. A Folhaapurou que os vetos partiram do próprio cardeal Angelo Sodano, secretário de Estado do Vaticano e segundo homem na hierarquia da Santa Sé. Ele quem presidirá a celebração.
Uma comissão criada pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) concebeu o primeiro roteiro da missa e o submeteu ao Vaticano. Teve de fazê-lo porque a cerimônia contará com a presença do cardeal Sodano, que chegou ontem ao país na condição de representante do papa João Paulo 2º. Diante dos vetos, a CNBB reelaborou o roteiro.
Muitos dos trechos cortados compunham o ato penitencial -o momento da missa em que o clero pedirá perdão pelos erros cometidos contra negros e índios. A versão original, mais longa, falava não apenas do passado, mas também das injustiças do presente, e trazia períodos que a Santa Sé considerou agressivos.
Na versão definitiva, apenas uma frase irá se referir aos indígenas: "Senhor, te pedimos perdão pelos pecados cometidos contra nossos irmãos e, em particular, contra os índios, cujos direitos nem sempre foram respeitados".
O mesmo acontecerá com a comunidade negra: "Senhor, te pedimos perdão por não termos sempre respeitado a dignidade de filhos de Deus de nossos irmãos e irmãs negros".
Entre os cantos excluídos, dois compunham a liturgia típica das missas de comunidades progressistas: "O Pão Sofrido da Terra" e "Pão em Todas as Mesas". Outro cântico vetado é conhecido como "Glória das Comunidades".
O bispo d. Geraldo Lyrio Rocha, responsável pela comissão da CNBB que organiza a missa dos 500 anos, confirmou, sem dar detalhes, que o Vaticano "deu contribuições" ao roteiro.
"A CNBB acolheu todas as indicações apresentadas pela Secretaria de Estado do Vaticano numa atitude de sintonia e comunhão", afirmou. Disse que a igreja brasileira reconhece o ""pleno direito" de Sodano fazer sugestões.


Texto Anterior: Assembléia da CNBB terá participação ecumênica
Próximo Texto: Cardeal celebrará missa
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.