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JANIO DE FREITAS
Incitação e repressão
Como nem todos se submetem ao indecente pedido da
Presidência da República a jornais e TVs, para minimizarem
o noticiário sobre a violência
da repressão em Porto Seguro
-sonegação já ontem constatável-, notemos algumas outras indecências que o governo
está extravasando no mesmo
caso.
A pretensa justificativa de
Fernando Henrique Cardoso
para a brutalidade da repressão é simples e velha conhecida, desde o tempo em que ele se
punha entre as vítimas nominais, embora nunca estivesse
entre as vítimas de fato: deu-se
para ""evitar que manifestantes
impedissem outra manifestação", o que "seria contra a democracia".
Note-se, para começar, que o
governo não conseguiu invocar nem um só gesto de agressividade, nem mesmo potencial,
na marcha de índios que apenas se iniciava quando a PM
baiana, obediente a instruções
do general Alberto Cardoso,
interrompeu-a com cassetetes e
granadas. Os propósitos agressivos das delegações indígenas
não passaram, confrontados
com os fatos, da presunção paranóica e acovardada sempre
presente na mentalidade dos
elementos, militares e paisanos, metidos com "segurança".
Fernando Henrique Cardoso
adotou a presunção e, com declarações ridículas sobre o
MST e a manifestação das delegações indígenas, dias antes
da solenidade de Porto Seguro
incitou a repressão pela força
bruta e deu-lhe aparente justificativa. Essa atitude se reproduz, agora, quando "lamenta
a repercussão ruim para a
imagem do país", a repercussão mas não a ferocidade repressora. É melhor nem qualificar essa atitude, que já diz tudo de si e de quem a formula. A
atitude e a desqualificação que
a inspiram são aquelas mesmas que se seguiam a iguais
acessos de repressão na ditadura.
Entre as outras imagens deixadas pelo festival de repressão, uma não recebeu o devido
destaque: a antropóloga Ruth
Cardoso sentada em pose de
primeira-dama ao lado do seu
(?) sociólogo, enquanto os cassetetes e granadas descem,
mais adiante, sobre os índios
indefesos.
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