São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 2000


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JANIO DE FREITAS
Incitação e repressão

Como nem todos se submetem ao indecente pedido da Presidência da República a jornais e TVs, para minimizarem o noticiário sobre a violência da repressão em Porto Seguro -sonegação já ontem constatável-, notemos algumas outras indecências que o governo está extravasando no mesmo caso.
A pretensa justificativa de Fernando Henrique Cardoso para a brutalidade da repressão é simples e velha conhecida, desde o tempo em que ele se punha entre as vítimas nominais, embora nunca estivesse entre as vítimas de fato: deu-se para ""evitar que manifestantes impedissem outra manifestação", o que "seria contra a democracia".
Note-se, para começar, que o governo não conseguiu invocar nem um só gesto de agressividade, nem mesmo potencial, na marcha de índios que apenas se iniciava quando a PM baiana, obediente a instruções do general Alberto Cardoso, interrompeu-a com cassetetes e granadas. Os propósitos agressivos das delegações indígenas não passaram, confrontados com os fatos, da presunção paranóica e acovardada sempre presente na mentalidade dos elementos, militares e paisanos, metidos com "segurança".
Fernando Henrique Cardoso adotou a presunção e, com declarações ridículas sobre o MST e a manifestação das delegações indígenas, dias antes da solenidade de Porto Seguro incitou a repressão pela força bruta e deu-lhe aparente justificativa. Essa atitude se reproduz, agora, quando "lamenta a repercussão ruim para a imagem do país", a repercussão mas não a ferocidade repressora. É melhor nem qualificar essa atitude, que já diz tudo de si e de quem a formula. A atitude e a desqualificação que a inspiram são aquelas mesmas que se seguiam a iguais acessos de repressão na ditadura.
Entre as outras imagens deixadas pelo festival de repressão, uma não recebeu o devido destaque: a antropóloga Ruth Cardoso sentada em pose de primeira-dama ao lado do seu (?) sociólogo, enquanto os cassetetes e granadas descem, mais adiante, sobre os índios indefesos.


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