São Paulo, quarta-feira, 26 de abril de 2000


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GOVERNO
No início da noite, ministro viajou para Santa Cruz Cabrália, na região de Porto Seguro, para missa
PFL pressiona Greca para que deixe cargo

da Sucursal de Brasília


A cúpula do PFL convocou ontem a Brasília o ministro Rafael Greca (Esporte e Turismo) para convencê-lo a deixar logo o cargo. Greca mudou a agenda, interrompeu mais cedo sua viagem ao Rio, mas negou várias vezes durante o dia que estivesse demissionário.
O ministro embarcou ontem no início da noite para Santa Cruz Cabrália, na região de Porto Seguro (BA), onde serão celebrados hoje os 500 anos da primeira missa rezada no Brasil. Deixou seu gabinete na Esplanada dos Ministérios dizendo que continuaria no cargo. Não se sabe até quando.
A substituição de Greca é dada como certa no Palácio do Planalto. É tratada como uma questão de horas. FHC espera que o ministro tome a iniciativa de pedir demissão, mas Greca resiste.
A cúpula do PFL, partido ao qual o ministro é filiado, entrou em campo anteontem apoiando FHC na operação de troca de Greca. Na avaliação dos pefelistas, o ministro deveria aproveitar a oportunidade de caracterizar sua saída como um ato político e não como consequência de denúncias de corrupção no ministério e no Indesp, que é vinculado à pasta.
O partido também negociou com FHC a indicação de outro pefelista para o cargo, que disporá de um orçamento de quase R$ 500 mil neste ano.
O futuro ministro deverá sair dos quadros do PFL de Minas Gerais ou de Pernambuco, embora o Paraná reivindique previamente uma compensação pela perda de Greca. A escolha deverá fortalecer a ala do partido independente do senador Antonio Carlos Magalhães (BA), que registra dois ministros em sua cota pessoal.
O Ministério do Esporte foi o que contou com o maior aumento proporcional de verbas durante a votação do Orçamento da União no Congresso. Parte do dinheiro será investida na construção de quadras esportivas no país, um projeto de grande apelo, principalmente em ano de eleições municipais.
Ontem à tarde, o ministro conversou pessoalmente com o vice-presidente Marco Maciel no gabinete do anexo do Palácio do Planalto. Por telefone, Greca falou com o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), que à noite se reuniu com Maciel.
Bornhausen e Maciel evitaram comentar publicamente a situação de Greca. Ao justificar sua volta a Brasília -era previsto que o ministro fosse direto para a Bahia-, Greca disse que teria vindo para assinar a minuta de uma regulamentação que transfere para a Caixa Econômica Federal o controle e a fiscalização dos bingos, antes sob responsabilidade do ministério.
A permanência do ministro no cargo está ameaçada desde o ano passado. Foi abalada por denúncias de corrupção no Indesp (Instituto Nacional do Desenvolvimento do Desporto), órgão responsável pelo controle dos bingos e de máquinas caça-níqueis.
A Justiça também suspendeu, por meio de liminar, a construção de mais de 600 quadras poliesportivas, cujos convênios foram assinados em dezembro do ano passado de forma irregular, segundo o Ministério Público.
No início do ano, depois de ter vários auxiliares envolvidos em ""indícios veementíssimos de corrupção", segundo o Ministério Público Federal, Greca abriu seu sigilo bancário e mudou a equipe.
As providências não foram consideradas suficientes para lhe garantir sobrevida após o término das comemorações dos 500 anos do Descobrimento. O desgaste continuou e se agravou com a repercussão negativa dos festejos.


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