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JANIO DE FREITAS
Pelegos outra vez
Sindicalistas do governo nos trouxeram um peleguismo disfarçado na forma e idêntico aos fins do predecessor
OS SINDICALISTAS AGRACIADOS
no atual governo com a oportunidade, em ministérios e
outros postos influentes, de fazer alguma coisa coerente com o sentido
do sindicalismo mostraram-se, todos, omissos ou desleais para com
sua origem de classe.
Sindicalistas mais apegados ao poder e a políticos do que aos seus
princípios declarados constituíram
-conhecidos como pelegos- uma
praga que contribuiu muito para a
derrocada do regime democrático
em 1963/64, até o golpe. Com os modos de operação e peculiaridades determinados pelas circunstâncias
atuais, bastante diferentes daquele
passado, o que nos trouxeram os
sindicalistas do governo é um peleguismo disfarçado na forma e idêntico aos fins do predecessor. Digamos, em homenagem à moda palavrosa, um neopeleguismo.
A proposta com que o sindicalista
Luiz Marinho, ex-presidente da
CUT, inaugura sua estada como ministro da Previdência é de um reacionarismo imoral. Quer esse sindicalista a redução das pensões por
morte à sua metade, com o eventual
acréscimo de 10% se houver, além
da viúva, dependente menor. Isso,
neste país que ostenta a mais indecente aposentadoria dos assalariados, assistência social que é uma humilhação e salários que não permitem ao trabalhador se prover nem sequer minimamente para os males
da velhice. (Não incluídos, é claro, os
privilegiados metalúrgicos das montadoras automobilísticas e outras
indústrias do ABC paulista.)
Luiz Marinho passou pelo Ministério do Trabalho e lá não deixou
mais que o registro contábil dos seus
vencimentos e das mordomias generosas. Alguém se lembra que Jaques Wagner foi ministro de alguma
coisa, fez ou disse alguma coisa
aproveitável pelos sindicalizados
que o elevaram a figura política? Ricardo Berzoini, que até empurra
bem o PT para as aparências da sobrevida, só será ministro lembrado
como precursor da investida de Luiz
Marinho contra a viuvez desvalida e
os idosos sem auto-suficiência. Três
casos que valem por tantos outros.
Manchete distraidamente ultradireitista, no caderno Dinheiro
da Folha de domingo, decretava:
"Benefício social é bomba-relógio
fiscal". Referia-se ao que é gasto
com portadores de deficiência e
com idosos. A explicação da diretora de Benefícios do Ministério de
Desenvolvimento Social (sic), Maria José Freitas (sic), "há sempre
entrada de pessoas", no "estoque
de benefícios" (sic) e a "saída não
ocorre na mesma proporção". Um
dia talvez o estoque de informação
da tecnocrata inclua as notícias de
que a população brasileira cresce e
envelhece, adoece mais porque são
mais pessoas com menos assistência, e o crescimento econômico é
insuficiente para gerar os empregos que aumentem a arrecadação
da Previdência.
Bomba-relógio é o neopeleguismo que pratica as receitas neoliberais e recheia uma bomba-relógio
que não é a da manchete.
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