São Paulo, domingo, 26 de abril de 1998

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RELIGIÃO
Pela primeira vez na história, CNBB deixa de apresentar diretrizes para os católicos em um ano de eleições
Orientação eleitoral para fiel divide bispos

LUIS HENRIQUE AMARAL
enviado especial a Itaici

As eleições estão dividindo os bispos reunidos na 36ª Assembléia Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Os problemas começaram no primeiro dia, quando foi proposto, como é de praxe na CNBB, que fosse preparado um texto com diretrizes éticas para orientar os católicos na escolha dos candidatos. A proposta caiu em plenário por pequena margem de votos.
Com a decisão, será a primeira vez na história da entidade em que os bispos deixarão de apresentar um texto sobre as eleições em um ano eleitoral.
Ficou decidido que o assunto será abordado de passagem no documento final do encontro.
Sem um documento definido sobre as eleições, cada bispo tem apresentado uma proposta própria para a atuação dos católicos na votação.
A proposta que causou mais polêmica, até agora, foi do conservador bispo de Jundiaí (SP), d. Amaury Castanho. Ele defende a reedição da LEC (Liga Eleitoral Católica), que existiu entre 1930 e 45 e costumava apresentar listas com nomes de candidatos identificados com a igreja.
A proposta caiu como uma bomba na assembléia, composta por bispos que nos últimos anos têm enfrentando a acusação de se preocuparem mais com política que com o aspecto religioso.
Em sua defesa, d. Amaury argumentou que, com a LEC, a igreja obteve vitórias na Constituinte de 1934, como a inclusão do ensino religioso na rede pública e o casamento religioso com validade civil. "Depois que a LEC acabou, só tivemos derrotas, como a aprovação do divórcio", afirmou.
Entre os candidatos da sua lista de recomendações, d. Amaury citou os deputados federais (SP) Hélio Bicudo (PT) e os tucanos Salvador Zimbaldi e Franco Montoro.
Houve reações rápidas à proposta de d. Amaury. Para o arcebispo da Paraíba, d. Marcelo Carvalheira, a idéia é "complicada". "Seria como criar um partido", disse.
O bispo-auxiliar de Vila Brasilândia (zona norte de São Paulo), d. Angélico Bernardino, defende a adoção de critérios. "Indicar nomes pressupõe que o cidadão é incapaz de discernir", afirmou.
Dom Moacyr Grechi, de Rio Branco (AC) disse: "Indicar nomes significa que não temos capacidade para educar os fiéis".



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