São Paulo, domingo, 26 de abril de 1998

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Militar mantém 17 anos de silêncio

da Sucursal do Rio

Dezessete anos depois do atentado a bomba no Riocentro -um dos mais rumorosos casos do período militar-, o principal personagem da história vive protegido por uma barreira de silêncio, mas já alcançou o posto de coronel do Exército.
O coronel Wilson Luiz Chaves Machado, 50, funcionário do quartel-general do Exército em Brasília, é o homem que, em 30 de abril de 1981, dirigia o Puma em que explodiu a bomba no estacionamento do centro de exposições Riocentro, em Jacarepaguá (zona oeste do Rio).
Do lado de dentro do pavilhão, Elba Ramalho cantava para 10 mil pessoas. O show, em que também atuariam Chico Buarque, Alceu Valença, Paulinho da Viola e Gonzaguinha, entre outros, comemorava o 1º de Maio e fora organizado pelo Centro Brasil Democrático, uma entidade ligada ao Partido Comunista Brasileiro, então na ilegalidade.
Machado ficou com as vísceras à mostra, mas sobreviveu. O sargento Guilherme Pereira do Rosário, que estava no banco do carona, morreu com os intestinos e os órgãos genitais dilacerados.
Uma segunda bomba explodiu na casa de força do Riocentro e poderia ter causado uma tragédia: as saídas de emergência estavam trancadas.
Machado e o sargento Rosário eram do setor de informações do Exército. O capitão só falou durante o IPM (Inquérito Policial Militar) conduzido pelo Exército, para dizer que fora ao Riocentro em missão de informações e que a bomba fora colocada no carro.

Suspeitas
Apesar das suspeitas generalizadas de que Rosário morrera manipulando a bomba e de que Machado sabia mais do que contara, o IPM concluiu que o atentado partira de "grupos terroristas", inocentando os dois militares.
Anos depois, o ex-presidente João Baptista Figueiredo afirmou que o atentado fora obra de militares de baixa patente, que teriam agido por conta própria.
Como os autores do atentado nunca foram nomeados, o coronel Wilson Machado vive discretamente. Não fez uma carreira brilhante, mas também não está no ostracismo.
Em Brasília, é chefe de seção na DMov (Divisão de Movimentação), um setor que cuida de transferências de militares.
Procurado pela reportagem da Folha em cinco oportunidades ao longo de uma semana para uma entrevista, o coronel Machado deu a mesma resposta: "Não tenho mais nada a falar sobre isso. Vá ao Cecomcex (Centro de Comunicação Social do Exército)".
No Cecomcex, a resposta é automática: o coronel Machado não dá entrevistas.



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