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OPERAÇÃO CONDOR
Ministro quer ampliar abrangência de lei sobre desaparecidos; Câmara quer investigar morte de JK
Governo não acha fichas de argentinos
WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apenas uma única menção à
Operação Condor apareceu nos
arquivos oficiais brasileiros pesquisados a pedido da Justiça argentina, informou ontem o advogado-geral da União, Gilmar Ferreira Mendes. Mas ela não tem
nada a ver com os três argentinos
desaparecidos no Brasil entre
março e junho de 1980.
A menção apareceu em dados
pesquisados pela Agência Brasileira de Inteligência, herdeira dos
arquivos do extinto SNI (Serviço
Nacional de Informações). A
Abin disse que nada dispunha em
seus arquivos em relação a Monica Susana Pinus de Binstock, Horacio Domingo Campiglia e Lorenzo Ismael Vinãs, os argentinos
mencionados no pedido judicial.
A Polícia Federal, o Arquivo Público Nacional e o Comando do
Exército nada encontraram em
seus arquivos. O Comando da Aeronáutica informou que encontrou uma cópia de reportagem de
revista argentina em que consta o
nome de Horacio Campiglia.
O Comando da Marinha disse
que constava em seus arquivos
apenas um informe do governo
uruguaio, de setembro de 1977,
que fazia referência a subversão
no meio estudantil.
O presidente Fernando Henrique Cardoso encaminhou ao Supremo Tribunal Federal, na noite
de ontem, os documentos entregues à Advocacia Geral da União.
Segundo o documento que
constava dos arquivos do SNI, o
oficial da Marinha argentina Hector Ricardo Gulberti, foragido, foi
preso pela Polícia Federal no Brasil em 1985 por estar em situação
irregular, com visto vencido.
No depoimento prestado ao
SNI por vontade própria, Gulberti
disse que estava foragido porque
temia ser morto na Argentina por
ter sido oficial da inteligência e ter
participado da Operação Condor.
Segundo o depoimento, Gulberti tinha ingressado na Marinha
argentina em 1965 e, em 27 de
março de 1976, passou a compor
um grupo especial chefiado pelo
"coronel Mitche" e pelo "general
Paladino", e a participar de ações
no Uruguai e na Argentina.
Segundo ele, a Operação Condor "tinha a finalidade de eliminar focos de resistência no exterior, especialmente na Europa".
Do registro não consta a que focos
de resistência ele se referia. Gulberti disse que "conhecia o mecanismo de extermínio de "subversivos", mas que não participou
dessas ações" e que, no princípio
de 1979, ao constatar "que estavam ocorrendo eliminações de
pessoas partícipes da Operação
Condor, resolveu fugir para o
Brasil". Seu destino é ignorado.
O ministro José Gregori (Justiça) vai apresentar na próxima semana a versão final da proposta
que aumenta a abrangência da lei
que reconhece a existência de
mortos e desaparecidos no regime militar. Poderão ser beneficiados os familiares de três argentinos que teriam morrido no Brasil:
Horácio Campiglia, Monica Pinus
de Binstock e Lorenzo Viñas. A
viúva de Viñas, Cláudia, foi recebida por Gregori. A nova lei dará
outra chance aos familiares que
não conseguiram indenização.
Outros prováveis beneficiários
são Orlando Lovecchio e os pais
do soldado Mário Kosel Filho.
O presidente da Câmara, Michel
Temer (PMDB-SP), criou ontem
uma comissão externa para investigar a morte do ex-presidente
Juscelino Kubitschek, em 22 de
agosto de 1976, em acidente rodoviário ocorrido na rodovia Presidente Dutra, em Resende (RJ).
A comissão externa foi pedida
pelo deputado Paulo Octávio
(PFL-DF), casado com uma neta
de JK, e deverá ser instalada na
próxima semana.
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