São Paulo, sexta-feira, 26 de maio de 2000


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OPERAÇÃO CONDOR
Ministro quer ampliar abrangência de lei sobre desaparecidos; Câmara quer investigar morte de JK
Governo não acha fichas de argentinos

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apenas uma única menção à Operação Condor apareceu nos arquivos oficiais brasileiros pesquisados a pedido da Justiça argentina, informou ontem o advogado-geral da União, Gilmar Ferreira Mendes. Mas ela não tem nada a ver com os três argentinos desaparecidos no Brasil entre março e junho de 1980.
A menção apareceu em dados pesquisados pela Agência Brasileira de Inteligência, herdeira dos arquivos do extinto SNI (Serviço Nacional de Informações). A Abin disse que nada dispunha em seus arquivos em relação a Monica Susana Pinus de Binstock, Horacio Domingo Campiglia e Lorenzo Ismael Vinãs, os argentinos mencionados no pedido judicial.
A Polícia Federal, o Arquivo Público Nacional e o Comando do Exército nada encontraram em seus arquivos. O Comando da Aeronáutica informou que encontrou uma cópia de reportagem de revista argentina em que consta o nome de Horacio Campiglia.
O Comando da Marinha disse que constava em seus arquivos apenas um informe do governo uruguaio, de setembro de 1977, que fazia referência a subversão no meio estudantil.
O presidente Fernando Henrique Cardoso encaminhou ao Supremo Tribunal Federal, na noite de ontem, os documentos entregues à Advocacia Geral da União.
Segundo o documento que constava dos arquivos do SNI, o oficial da Marinha argentina Hector Ricardo Gulberti, foragido, foi preso pela Polícia Federal no Brasil em 1985 por estar em situação irregular, com visto vencido.
No depoimento prestado ao SNI por vontade própria, Gulberti disse que estava foragido porque temia ser morto na Argentina por ter sido oficial da inteligência e ter participado da Operação Condor.
Segundo o depoimento, Gulberti tinha ingressado na Marinha argentina em 1965 e, em 27 de março de 1976, passou a compor um grupo especial chefiado pelo "coronel Mitche" e pelo "general Paladino", e a participar de ações no Uruguai e na Argentina.
Segundo ele, a Operação Condor "tinha a finalidade de eliminar focos de resistência no exterior, especialmente na Europa". Do registro não consta a que focos de resistência ele se referia. Gulberti disse que "conhecia o mecanismo de extermínio de "subversivos", mas que não participou dessas ações" e que, no princípio de 1979, ao constatar "que estavam ocorrendo eliminações de pessoas partícipes da Operação Condor, resolveu fugir para o Brasil". Seu destino é ignorado.
O ministro José Gregori (Justiça) vai apresentar na próxima semana a versão final da proposta que aumenta a abrangência da lei que reconhece a existência de mortos e desaparecidos no regime militar. Poderão ser beneficiados os familiares de três argentinos que teriam morrido no Brasil: Horácio Campiglia, Monica Pinus de Binstock e Lorenzo Viñas. A viúva de Viñas, Cláudia, foi recebida por Gregori. A nova lei dará outra chance aos familiares que não conseguiram indenização. Outros prováveis beneficiários são Orlando Lovecchio e os pais do soldado Mário Kosel Filho.
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), criou ontem uma comissão externa para investigar a morte do ex-presidente Juscelino Kubitschek, em 22 de agosto de 1976, em acidente rodoviário ocorrido na rodovia Presidente Dutra, em Resende (RJ).
A comissão externa foi pedida pelo deputado Paulo Octávio (PFL-DF), casado com uma neta de JK, e deverá ser instalada na próxima semana.


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