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REFORMA AOS PEDAÇOS
Acordo adia votação do novo ICMS e permite que reivindicações dos Estados sejam incluídas no texto
Governo cede e enterra miolo da tributária
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Palácio do Planalto cedeu à
pressão dos Estados e praticamente enterrou a possibilidade de
concluir neste ano a votação da
proposta central de seu projeto de
reforma tributária: a unificação
da legislação do ICMS, principal
fonte das receitas estaduais.
Em acordo fechado pela manhã,
o governo concordou em não votar ontem o projeto na comissão
da Câmara que analisa a reforma,
para a inclusão de alterações no
texto reivindicadas pelos governadores. Com isso, as mudanças
no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) terão de ser examinadas pelo Senado de novo -e só deverão entrar
em vigor em 2006.
Embora justificado com detalhes técnicos, o entendimento
atendeu à principal preocupação
dos governadores, que era evitar
uma aprovação rápida do novo
ICMS. A proposta, que substitui
as atuais legislações estaduais do
imposto por uma única lei federal, tira, na prática, a autonomia
dos Estados para conceder benefícios a determinados setores e
elevar a tributação sobre outros.
O governo aceitou mudar o projeto ao avaliar, numa reunião dos
líderes dos partidos aliados, que
seria quase impossível obter no
plenário da Câmara os votos de
308 dos 513 deputados, número
mínimo para a aprovação de uma
emenda constitucional.
Em vez de enfrentar os governadores, o Planalto optou por uma
meta intermediária: aprovar pelo
menos uma parte da nova legislação do ICMS neste ano, o que autorizará o discurso de que houve
avanços. Além de uma das principais promessas de campanha de
Lula, a reforma tributária faz parte da agenda econômica acertada
com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.
Fundo de R$ 2 bilhões
A alteração mais importante no
texto será a criação de um fundo
destinado a cobrir eventuais perdas dos Estados com o novo
ICMS. As negociações em torno
do fundo envolveram dois dias de
discussão entre secretários estaduais da Fazenda, representantes
do Ministério da Fazenda e deputados aliados e de oposição.
Os governadores Geraldo Alckmin (PSDB-SP), Rosinha Matheus (PMDB-RJ) e Aécio Neves
(PSDB-MG) lideraram o bloco
dos Estados resistentes. Segundo
o deputado Walter Feldman
(PSDB-SP), foi acertado que o novo fundo terá R$ 2 bilhões anuais.
O relator da reforma, Virgílio
Guimarães (PT-MG), se comprometeu a acolher outros pleitos dos
Estados: regras mais flexíveis para
a transição rumo ao novo ICMS,
fixação das novas alíquotas condicionada à unanimidade entre os
governadores e redução da lista
de produtos beneficiados com alíquotas mais baixas.
Apesar de correr o risco de ser
adiada, uma nova versão do texto
pode ser apresentada hoje à comissão da reforma tributária.
Depois, o projeto precisa passar
por duas votações na Câmara, o
que precisa ser feito neste semestre. Os pontos modificados voltarão para o Senado; mesmo se os
senadores concordarem em aprová-los, o novo ICMS ainda dependerá, para entrar em vigor, de
uma lei posterior, cujo exame deverá se arrastar ao longo de 2005.
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