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Procuradoria quer abrir inquérito sobre a Telebrás
Ministério Público diz que acordo feito pela estatal causou perda de R$ 254 mi e pede que ministro das Comunicações seja ouvido
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Procuradoria Geral da República pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) abertura
de inquérito para investigar um
acordo feito pela Telebrás com
a empresa VT UM, que resultou
numa perda de R$ 254 milhões
para a estatal. Entre outros, a
Procuradoria pede que seja ouvido o ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB-MG),
amigo do dono da VT UM, Uajdi Menezes Moreira.
Em 1994, a VT UM e Embratel (então estatal) assinaram
contrato para prestação do serviço 0900, também conhecido
como TV Interativa. Pelo serviço, os telespectadores de determinado programa ligavam, por
meio de um número 0900, opinavam sobre algum assunto,
pagavam certo valor pela chamada e concorriam a prêmios,
de responsabilidade da VT UM.
A pendência judicial entre a
VT UM e a Telebrás (então controladora da Embratel) começou porque a empresa alegou
ter dificuldade de receber recursos das concessionárias de
telefonia, como Telerj e Telesp,
também subordinadas à Telebrás. O problema acabou levando ao fim do contrato entre a
VT UM e a Embratel. Com o
fim do contrato, a empresa entrou na Justiça alegando "lucros cessantes".
A demanda da VT UM chegou a ser fixada em aproximadamente R$ 1 bilhão. Durante a
tramitação do processo no STJ
(Superior Tribunal de Justiça),
o valor caiu para aproximadamente R$ 500 milhões. O acordo fechado em junho do ano
passado pela Telebrás reduziu
o débito para R$ 254 milhões.
Desse total, R$ 95,5 milhões foram pagos em dinheiro e o restante em créditos tributários.
De acordo com a petição da
Procuradoria da República, o
objetivo do pedido de abertura
de inquérito é "melhor investigar os fatos noticiados, que, se
verdadeiros, podem configurar,
em tese, o crime do artigo 321
do Código Penal".
O artigo 321 trata de quem
"patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública,
valendo-se da qualidade de
funcionário". O artigo prevê
penas de "detenção, de um a
três meses, ou multa". Se o interesse é considerado ilegítimo,
a pena aumenta para "detenção, de três meses a um ano,
além da multa".
Além do ministro das Comunicações, a Procuradoria da República pede que sejam ouvidos
Uajdi Menezes Moreira, dono
da VT UM, Tito Cardoso, então
secretário-executivo do Ministério das Comunicações, e Jorge da Motta e Silva, presidente
da Telebrás.
Outro lado
Procurado ontem por meio
de sua assessoria de imprensa,
o Ministério das Comunicações
remeteu sua defesa a um despacho do procurador-geral do
TCU (Tribunal de Contas da
União), Lucas Rocha Furtado.
Em seu parecer, o procurador-geral informa que "o acordo celebrado pela Telebrás durante o curso da ação de execução em tela não resultou em
prejuízo aos cofres da entidade,
mas em economia de recursos".
Ainda de acordo com o procurador-geral, "foram esgotados todos os recursos judiciais
apropriados para reverter a decisão judicial contrária à Telebrás". De acordo com o ministério, para recorrer da decisão,
a Telebrás teria que depositar
em juízo aproximadamente R$
500 milhões, conforme já tinha
declarado o próprio Hélio Costa à Folha em julho de 2006: "A
ação transitou em julgado, não
havia possibilidade [de recorrer]. Para recorrer, tinha que
depositar o valor total [R$ 506
milhões]. A Telebrás não tem
esse dinheiro e o governo não
pode fazer isso", disse Costa.
O ministro também afirmou
na época que a pendência não
era responsabilidade do ministério, mas da estatal. "A responsabilidade é exclusiva da
Telebrás, empresa de economia mista", disse. À revista "IstoÉ", o ministro disse "Se havia
um, dois, três recursos a serem
feitos, que a Telebrás os fizesse.
A empresa tem seu próprio departamento jurídico e poderia
ter feito isso diretamente."
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