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NORDESTE
Relatório contraria tese do governo de que haveria motivação política em ações realizadas na região
MST agiu em 9 de 46 saques do NE, diz PF
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
Relatório da Coordenação de Inteligência da Polícia Federal contraria a tese do governo Fernando
Henrique Cardoso que atribui ao
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) a autoria
da maioria dos saques ocorridos
no Nordeste.
O relatório -levado ao ministro
da Justiça, Renan Calheiros, no final de semana, e obtido pela Folha- relaciona 46 saques em oito
Estados no período de pouco mais
de dez semanas, entre 10 de março
e 22 de maio. Apenas 9 deles aparecem vinculados a líderes do
MST.
No Ceará, Estado em que foi
computado o maior número de
ocorrências, a inteligência da Polícia Federal atribui os saques a
"agricultores famintos", "homens", "agricultores", "pessoas", "flagelados".
Apenas num dos saques, ocorrido no dia 12 de maio no município
de Santa Quitéria, aparece a participação de um membro do MST: o
petista Hermelino Paiva Paulino.
Junto com Paulino, teriam sido
presas outras cinco pessoas. O
grupo, acusado de liderar 1.000
agricultores que promoviam saques na cidade, incluiu um vereador do PSDB , Raimundo Nonato
Araújo Moura. A Folha não conseguiu localizar o vereador.
Em outro dos 17 saques ocorridos no Ceará, a Polícia Federal relata que 300 flagelados levaram
cinco toneladas de alimentos de
um depósito municipal em Cedros. "Segundo a polícia, não
houve a participação do MST",
afirma o relatório.
Os termos "agricultores famintos" se repetem na autoria de 3 dos
12 saques ocorridos na Paraíba.
Uma coincidência: todos os saques no Estado atingiram depósitos de alimentos destinados à merenda escolar. Não há nenhuma
menção ao MST nesse capítulo.
Entre os responsáveis por um
dos saques, aparece no relatório o
nome de dom Marcelo Pinto Carvalheira, arcebispo da Paraíba, ao
lado dos nomes de frei Anastácio
Ribeiro, coordenador da Pastoral
da Terra, e do padre Luiz Albuquerque Couto, deputado estadual pelo PT.
Pernambuco, o Estado que mais
preocupa as autoridades federais,
aparece em terceiro lugar em número de ocorrências registradas
pela Polícia Federal. A autoria de 3
dos 10 saques é atribuída diretamente a líderes locais do MST.
A ação do movimento dos trabalhadores sem terra se mostra mais
forte, proporcionalmente, na Bahia e no Rio Grande do Norte.
Os dois saques registrados na
Bahia são atribuídos à ação do
MST. Esse capítulo do relatório da
Polícia Federal afirma que novos
saques a supermercados, armazéns e depósitos do governo vão
ocorrer na Bahia, segundo teria sido combinado em reunião com
dirigentes do MST presidida por
Ademar Bogo, membro da coordenação nacional do movimento.
No Rio Grande do Norte, 2 dos 3
saques teriam sido coordenados
pelo MST.
Ministério
Ouvido pela Folha no início da
noite de ontem, o ministro Renan
Calheiros disse que, apesar do relatório da Polícia Federal, o governo mantém a avaliação de que todos os saques foram organizados
"pelo MST ou por sindicatos instrumentalizados pelo MST".
O ministro disse que não pode
revelar a origem da informação
sobre a motivação política dos saques, que contraria o relatório feito por um órgão vinculado ao próprio Ministério da Justiça.
Os relatórios da PF são assinados pelo coordenador de inteligência, delegado Bernardino Ayer
Fortes de Matos.
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