São Paulo, terça, 26 de maio de 1998

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Restrições ainda dividem historiadores

da Reportagem Local

Historiadores e representantes da comunidade judaica divergem sobre o significado das medidas que, procurando atingir os "súditos do Eixo", afetaram também os refugiados israelitas.
Para uns, as restrições impostas por Getúlio Vargas demonstram que, mesmo depois de o Brasil se posicionar contra o nazi-fascismo, o braço anti-semita do Estado Novo continuou agindo. Para outros, tudo não passou de mera burocracia. Confira:

Maria Luiza Tucci Carneiro, historiadora da USP e autora do livro "Anti-Semitismo na Era Vargas" - "Caso o governo brasileiro quisesse realmente estabelecer distinções entre judeus e "súditos do Eixo', poderia fazê-lo com relativa facilidade. Inúmeros refugiados israelitas possuíam passaportes de apátridas, indicando que o Reich lhes tirara a nacionalidade de origem. Se o Estado Novo preferiu desprezar tal condição e abarcar todos sob o mesmo rótulo, é porque não havia vontade política de marcar as diferenças. Fatos assim permaneceram desconhecidos por muito tempo. Somente de uns anos para cá, com o acesso à documentação secreta do Deops e do Itamaraty, se tornou possível dimensionar o anti-semitismo no país."

Boris Fausto, historiador e professor aposentado do departa mento de ciência política da USP
- "As medidas restritivas daquele período permitem duas interpretações. Eram mera burocracia simplificadora ou de fato refletiam o anti-semitismo de setores da polícia Äum preconceito camuflado e tragicômico que punia as vítimas pelo comportamento dos carrascos. Faltam-me, porém, informações para optar por uma ou outra possibilidade."

Esther Carvalho, economista e uma das fundadoras do Instituto Histórico Israelita Mineiro - "O cerceamento à comunidade judaica decorreu mais de uma confusão do que propriamente de preconceito. Reinava uma grande ignorância na época. Poucos entendiam o que significava ser judeu. O equívoco, no entanto, acabou trazendo consequências práticas, que a maioria dos refugiados encarou com estoicismo e discrição, talvez por causa do inferno que já havia atravessado na Europa."

Mario Adler, presidente da Congregação Israelita Paulista (CIP) - "Poucos países receberam tão bem os judeus quanto o Brasil. O controle por parte do governo tinha um caráter burocrático anti-semita."

Henry I. Sobel, presidente do rabinato da CIP - "O anti-semitismo institucional da era Vargas terminou em 1942, quando o Brasil se tornou aliado dos EUA. Os problemas que os judeus do Eixo enfrentaram decorriam do cenário de guerra, e não da sua condição de judeu." (AA)



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