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MISTÉRIO EM ALAGOAS
Se tivesse feito os disparos, mãos teriam ficado com elementos químicos que não foram encontrados
Laudo conclui que Suzana não matou PC
MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio
Um laudo inédito que será
apresentado no
mês que vem à
Polícia Civil, ao
Ministério Público e à Justiça
de Alagoas conclui ser impossível que Suzana
Marcolino da Silva tenha assassinado seu namorado, o empresário
Paulo César Farias, o PC.
Com o apoio de um equipamento de informática que exibe imagens com altíssima resolução, o
perito Domingos Tochetto sustentará que, se Suzana tivesse dado
pelo menos um tiro na madrugada
de 23 de junho de 1996, teria de haver vestígios de chumbo, bário, antimônio, cobre ou zinco em suas
mãos, o que não existia.
Se aceito pelos delegados Antônio Carlos Lessa e Alcides Andrade, pelo promotor Luiz Vasconcelos e o juiz Alberto Jorge Correia, o
que é muito provável, as conclusões do trabalho de Tochetto serão
decisivas para derrubar a versão
oficial do caso PC.
Professor da Escola Superior de
Magistratura do Rio Grande do
Sul, Domingos Tochetto é especialista em balística. O seu laudo específico sobre a possibilidade de Suzana ter matado PC foi pedido pelo
Ministério Público.
Tochetto se baseou em três exames residuográficos. O primeiro
recolhimento de material das
mãos de Suzana ocorreu na casa
onde ela e PC morreram, o segundo no Instituto Médico Legal de
Maceió, horas após as mortes, e
um terceiro na necropsia feita dez
dias depois.
Nas três vezes, não foram encontrados os elementos que deveriam
ter ficado em pelo menos uma das
mãos caso ela tivesse disparado.
Quando o revólver projeta a bala,
são expelidos chumbo, bário e antimônio. A "camisa" que envolve a
bala tem cobre e zinco.
Em 1997, Tochetto co-assinou
um contralaudo do caso PC que
chamava a atenção para a ausência
dessas substâncias.
Só com o teste feito agora, porém, foi possível obter uma conclusão definitiva de que Suzana
Marcolino não atirou.
Na simulação, uma mulher atirou com arma igual à que matou
PC. Uma câmara gravou, e o computador mostrou em câmara lenta
uma nuvem de pó indo em direção
à mão da atiradora.
A seguir, recolheu-se material
das mãos da atiradora com método igual ao que os peritos usaram
em Alagoas. Em laboratório, se
comprovou, em várias situações,
que pelo menos uma das cinco
substâncias foi encontrada.
Como não havia nenhuma das
cinco nas mãos de Suzana, ela não
teria nem matado PC nem se suicidado, na opinião do perito.
A presença de pólvora nas mãos
de Suzana não quer dizer, diz Tochetto, que ela atirou, mas que manipulou um revólver -ou alguém
passou suas mãos sobre a arma.
Depois de ter acesso à síntese do
trabalho, a Folha procurou Tochetto, que não quis se pronunciar
-disse guardar a apresentação
dos resultados para o confronto
com os autores do laudo oficial do
caso PC, em junho.
De acordo com laudo coordenado pelo legista Fortunato Badan
Palhares que serviu de base ao inquérito policial em 1996, Suzana
matou PC num crime passional e
em seguida se suicidou.
A versão do suicídio caiu depois
que a Folha obteve fotografias de
Suzana com sua irmã, Ana Luiza
Marcolino Noaro, e PC.
A pedido do Ministério Público,
o jornal cedeu dez fotos à Unicamp. O chefe do laboratório de
processamento de imagens da universidade, Ricardo Molina, divulgou anteontem parecer segundo o
qual, com base nas fotos publicadas pela Folha, Suzana media de
1,53 m a 1,57 m.
O laudo oficial afirmava que Suzana tinha 1,67 m. Com a altura
real, a bala a teria atingido no rosto
ou passado sobre um ombro, e não
penetrado no peito, como de fato
ocorreu.
Os delegados Lessa e Andrade já
concluíram que Suzana não se suicidou. Investigam agora a morte
de PC. Dois seguranças do empresário, José Geraldo da Silva e
Adeildo Costa dos Santos, são os
principais suspeitos.
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