São Paulo, Quarta-feira, 26 de Maio de 1999
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MISTÉRIO EM ALAGOAS
Se tivesse feito os disparos, mãos teriam ficado com elementos químicos que não foram encontrados
Laudo conclui que Suzana não matou PC

MÁRIO MAGALHÃES
da Sucursal do Rio


Um laudo inédito que será apresentado no mês que vem à Polícia Civil, ao Ministério Público e à Justiça de Alagoas conclui ser impossível que Suzana Marcolino da Silva tenha assassinado seu namorado, o empresário Paulo César Farias, o PC.
Com o apoio de um equipamento de informática que exibe imagens com altíssima resolução, o perito Domingos Tochetto sustentará que, se Suzana tivesse dado pelo menos um tiro na madrugada de 23 de junho de 1996, teria de haver vestígios de chumbo, bário, antimônio, cobre ou zinco em suas mãos, o que não existia.
Se aceito pelos delegados Antônio Carlos Lessa e Alcides Andrade, pelo promotor Luiz Vasconcelos e o juiz Alberto Jorge Correia, o que é muito provável, as conclusões do trabalho de Tochetto serão decisivas para derrubar a versão oficial do caso PC.
Professor da Escola Superior de Magistratura do Rio Grande do Sul, Domingos Tochetto é especialista em balística. O seu laudo específico sobre a possibilidade de Suzana ter matado PC foi pedido pelo Ministério Público.
Tochetto se baseou em três exames residuográficos. O primeiro recolhimento de material das mãos de Suzana ocorreu na casa onde ela e PC morreram, o segundo no Instituto Médico Legal de Maceió, horas após as mortes, e um terceiro na necropsia feita dez dias depois.
Nas três vezes, não foram encontrados os elementos que deveriam ter ficado em pelo menos uma das mãos caso ela tivesse disparado.
Quando o revólver projeta a bala, são expelidos chumbo, bário e antimônio. A "camisa" que envolve a bala tem cobre e zinco.
Em 1997, Tochetto co-assinou um contralaudo do caso PC que chamava a atenção para a ausência dessas substâncias.
Só com o teste feito agora, porém, foi possível obter uma conclusão definitiva de que Suzana Marcolino não atirou.
Na simulação, uma mulher atirou com arma igual à que matou PC. Uma câmara gravou, e o computador mostrou em câmara lenta uma nuvem de pó indo em direção à mão da atiradora.
A seguir, recolheu-se material das mãos da atiradora com método igual ao que os peritos usaram em Alagoas. Em laboratório, se comprovou, em várias situações, que pelo menos uma das cinco substâncias foi encontrada.
Como não havia nenhuma das cinco nas mãos de Suzana, ela não teria nem matado PC nem se suicidado, na opinião do perito.
A presença de pólvora nas mãos de Suzana não quer dizer, diz Tochetto, que ela atirou, mas que manipulou um revólver -ou alguém passou suas mãos sobre a arma.
Depois de ter acesso à síntese do trabalho, a Folha procurou Tochetto, que não quis se pronunciar -disse guardar a apresentação dos resultados para o confronto com os autores do laudo oficial do caso PC, em junho.
De acordo com laudo coordenado pelo legista Fortunato Badan Palhares que serviu de base ao inquérito policial em 1996, Suzana matou PC num crime passional e em seguida se suicidou.
A versão do suicídio caiu depois que a Folha obteve fotografias de Suzana com sua irmã, Ana Luiza Marcolino Noaro, e PC.
A pedido do Ministério Público, o jornal cedeu dez fotos à Unicamp. O chefe do laboratório de processamento de imagens da universidade, Ricardo Molina, divulgou anteontem parecer segundo o qual, com base nas fotos publicadas pela Folha, Suzana media de 1,53 m a 1,57 m.
O laudo oficial afirmava que Suzana tinha 1,67 m. Com a altura real, a bala a teria atingido no rosto ou passado sobre um ombro, e não penetrado no peito, como de fato ocorreu.
Os delegados Lessa e Andrade já concluíram que Suzana não se suicidou. Investigam agora a morte de PC. Dois seguranças do empresário, José Geraldo da Silva e Adeildo Costa dos Santos, são os principais suspeitos.


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