São Paulo, quarta-feira, 26 de junho de 2002

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PT SOB SUSPEITA

Rodvias, cujo sócio trabalha na Prefeitura de SP, ganhou 7 contratos

Santo André pagou R$ 6,8 milhões a empresa de petista

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

A Rodvias Engenharia Municipal manteve pelo menos sete contratos com a Prefeitura de Santo André, que somaram cerca de R$ 6,8 milhões entre 1997 e o ano passado.
Em um dos contratos, assinado em 25 de setembro de 1998, a empresa foi contratada para fazer o gerenciamento da reforma do Pronto-Socorro do Hospital Municipal três meses depois que a obra já havia sido iniciada. Além disso, de acordo com as planilhas de pagamento, o valor destinado à reforma, de R$ 719 mil, já havia sido totalmente liberado.
Como a Folha publicou no último domingo, a história da companhia é um exemplo da interligação que existe entre petistas, suas empresas e as administrações controladas pelo partido.
A Rodvias tem como sócio Ricardo Pereira da Silva, que hoje trabalha na Secretaria de Governo da Prefeitura de São Paulo, chefiada por Rui Falcão, membro da Executiva Nacional do PT.
Entre 93 e 96, Silva foi secretário de Obras Públicas da Prefeitura de Santos, na gestão do também petista David Capistrano (93-96). Lá, ele foi chefe de Klinger Luiz de Oliveira Souza, que então ocupava a chefia do Departamento de Vias Públicas.
Em 97, após o final da gestão petista em Santos, Silva decidiu abrir a empresa Rodvias. Já Klinger -denunciado pelo Ministério Público Estadual sob acusação de participar de esquema de extorsão- se tornou secretário de Serviços Municipais da Prefeitura de Santo André, também administrada pelo PT. A mesma prefeitura que fechou contratos com a Rodvias.

Especialidade
A especialidade da Rodvias é prestar serviços de assessoria nas áreas de arquitetura e engenharia. Na Prefeitura de Santo André, Klinger tem sob seu comando os contratos com empreiteiras de lixo, pavimentação e obras em geral. A Empresa Pública de Transporte e Trânsito (EPT) lhe é subordinada.
Apesar de um dos contratos com a Rodvias ter sido assinado em 25 de setembro, uma ordem de serviço para início do trabalho já havia sido emitida 15 dias antes, ou seja, em 10 de setembro. Pelo serviço, a Rodvias receberia R$ 148 mil -que acabou se transformando em R$ 185 mil, por causa de dois aditamentos.
A Rodvias foi a única empresa habilitada. Outras três foram convidadas a participar da concorrência, mas foram desclassificadas. A Rodvias recebeu o convite no mesmo dia da publicação do edital, em 12 de agosto. As outras três, cinco dias depois. Até a contratação da Rodvias, os responsáveis pela fiscalização dessa reforma foram engenheiros da própria prefeitura.

Projeção
A empresa que venceu a concorrência para fazer as obras de reforma no pronto-socorro foi a Projeção Engenharia, que pertence a Humberto Tarcísio de Castro. Essa empresa teve como sócio Ronan Maria Pinto. Os dois, juntamente com Klinger e outras três pessoas, foram denunciados na semana passada pelo Ministério Público por suposta participação um esquema de arrecadação de propina para campanhas políticas do PT. Desde 1997, a Projeção manteve 44 contratos com a Prefeitura de Santo André, que totalizaram R$ 18 milhões.
O valor do contrato com a Projeção para a reforma do pronto-socorro foi de R$ 719 mil, para um período de cinco meses.
Mas a obra levou oito meses para ser concluída e a prefeitura gastou R$ 1,078 milhão -um acréscimo de 49%.
Esse contrato da Rodvias para administração de obras no Pronto-Socorro do Hospital Municipal sucedeu um outro, de fevereiro do mesmo ano, também com a mesma empresa, para gerenciamento de obras no próprio hospital. O prazo para a conclusão do serviço foi de quatro meses e meio e o valor do contrato, R$ 122 mil.

Serviços gerais
Em fevereiro de 1998, quando completou um ano de existência, a Rodvias obteve mais um contrato com a prefeitura, no valor de R$ 1,228 milhão, com duração de quatro meses. O objeto foi "serviços de gerenciamento, assessoria e prestação de serviços gerais".
Um outro trabalho prestado à Prefeitura de Santo André aconteceu em outubro de 98. A empresa foi encarregada de fazer o gerenciamento e controle tecnológico parcial das obras de remodelação viária e reurbanização no calçadão em três bairros da cidade. Valor do contrato: R$ 1,006 milhão.
No ano passado, a empresa venceu uma licitação de R$ 4 milhões para a execução de projetos e gerenciamento de obras viárias e de drenagem. A seu favor, pesaram a nota técnica (ela obteve 10, enquanto a outra concorrente, 9) e R$ 16 mil de diferença da oferta da segunda colocada.
O capital social da empresa na época de sua criação era de R$ 5.000. Atualmente, é de R$ 350 mil -um aumento de 6.900% entre 1997 e 2002. O aumento do capital social pode se dá por reinvestimento dos lucros ou entrada de sócios. No caso da Rodvias, os sócios são os mesmos desde o início.



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