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CONFLITO AGRÁRIO
Desde conflito no Pará, em 96, governos têm sido cautelosos
Estados deixam de cumprir 338 reintegrações de posse
EDUARDO SCOLESE
EDUARDO DE OLIVEIRA
JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA
Existem hoje, em 22 Estados do
país, pelo menos 338 mandados
de reintegração de posse de propriedades rurais não cumpridos
pelos governos estaduais. Pará
(161), Mato Grosso (68), Alagoas
(20) e Minas Gerais (12) são os Estados que lideram o ranking.
Os dados representam o resultado do cruzamento de informações de levantamento feito pela Agência Folha em secretarias estaduais de Segurança Pública com
pesquisa da Ouvidoria Agrária
Nacional. Os números não levam
em consideração áreas federais,
como terras indígenas.
Pelo rito jurídico, o dono ou arrendatário de terra invadida pleiteia junto à Justiça a reintegração
da posse. Caso concedida, cabe a
um oficial de Justiça fazer com
que a ordem seja cumprida. A Polícia Militar, em geral, garante o
cumprimento do mandado.
Em março passado, a ouvidoria
solicitou os números a todos os
governos estaduais. Apenas 14
responderam. Ontem, a reportagem solicitou os dados a todas as
secretarias estaduais da Segurança Pública. AP, ES, RJ, RR e SP não
responderam à Agência Folha.
"Pode haver casos em que os
sem-terra já abandonaram a área
ou a própria PM cumpriu a determinação da Justiça. Mas todos os
números enviados foram na condição de não-cumpridos", disse o
ouvidor agrário nacional, Gercino
José da Silva Filho.
A ouvidoria solicita os números
para analisar cada um deles. Se a
área invadida for improdutiva ou
grilada, o órgão relata tal informação ao juiz, na expectativa de que
ele retire a ordem de reintegração.
Mas, caso a propriedade seja produtiva, a ouvidoria negocia a saída dos trabalhadores rurais.
Cautela
As ações de reintegração de posse passaram a ser revistas a partir
de 1996, quando 19 sem-terra
morreram num confronto com
policiais militares durante a desobstrução de uma estrada, em
Eldorado do Carajás (PA).
Atualmente, os governos estaduais têm preferido estender ao
máximo as negociações entre
proprietários e trabalhadores rurais, fato que tem gerado indignação entre as entidades ruralistas.
Em Alagoas, por exemplo, existe
um grupo da PM exclusivo para
intermediar conflitos agrários.
"A lei existe para ser cumprida.
Se o Judiciário manda reintegrar,
isso tem de ser obedecido pela Polícia Militar", afirmou Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente
nacional da UDR (União Democrática Ruralista).
Na opinião do advogado Diamantino Silva Filho, 60, especialista em direito agrário, a "omissão" dos governos estaduais diante das determinações do Poder Judiciário pode ser explicada de outra maneira: "Como não existe
um programa de reforma agrária,
os governadores não sabem o que
fazer com as famílias que vierem a
ser retiradas da terra".
Um dos focos da atual tensão no
campo, o Paraná coleciona um total de 13 mandados de reintegração não cumpridos. O próprio governador Roberto Requião
(PMDB) tem polemizado a questão: "Não queremos mortes ou
conflitos no campo. Vamos cumprir qualquer ordem judicial, mas
a posse de Lula criou uma expectativa nacional em torno da reforma agrária. Vamos negociar e trabalhar com a persuasão até o limite do possível".
Em Mato Grosso, a ouvidoria
informou que 42 mandados estão
pendentes. Segundo a Secretaria
Estadual da Segurança Pública,
"seriam 68 ao longo dos últimos
cinco ou seis anos".
A assessoria de imprensa da secretaria informou que se trata de
pedidos de força policial para o
cumprimento do mandado, o que
não significa necessariamente ordens expedidas pelo Judiciário. E
que os dados são provisórios e estão passando por uma atualização.
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