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São Paulo, quinta-feira, 26 de junho de 2003

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CONFLITO AGRÁRIO

Integrante da direção nacional diz que movimento pedirá a Lula que "cumpra o que prometeu na campanha"

"Não existe a palavra trégua", diz Stedile

RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL

O economista João Pedro Stedile, 49, da direção nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), disse ontem que a entidade não vai suspender as invasões de terra no país como parte de uma negociação com o Palácio do Planalto.
"Para nós não existe essa palavra, trégua. As ocupações são a forma natural de o movimento funcionar. E o governo nunca nos pediu isso", declarou Stedile, que atribuiu a divulgação da idéia à "mídia" e à "direita".
Anteontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu "paciência" à "gente afobada" que cobra uma reforma agrária mais rápida do governo federal.
Stedile procurou não estimular polêmica com o presidente, ao afirmar que há "muitos pontos" de acordo entre a entidade e o programa de governo de Lula.
O líder do MST apontou três explicações para o aumento do número de invasões no país nos seis primeiros meses do ano.
A primeira seria uma "demanda reprimida nos últimos quatros anos pelo governo Fernando Henrique". A segunda seria o "aumento da miséria, da pobreza e do desemprego no campo".
O terceiro fator apontado por Stedile foi a expectativa criada entre os acampados do MST pela eleição de Lula: "Não podemos negar que a nossa base percebe que mudou o governo e que há um compromisso histórico de Lula com a reforma agrária".
O líder do MST afirmou que os acampados "estão animados", mas a ordem para invasões de terra durante o governo Lula "nunca partiu" da direção do MST.
"Se fosse por nossa vontade, tínhamos enchido o país de ocupações ainda em 1986, no governo de José Sarney", ironizou Stedile.
Ao comentar a possibilidade de uma suspensão das invasões para não comprometer o diálogo com o governo de Lula, Stedile disse que elas são a própria razão de existir da entidade.
"Nós vamos continuar, sempre, organizando os pobres do campo para que lutem por seus direitos", afirmou Stedile.
O líder do MST afirmou que no encontro agendado para o próximo dia 7 com Lula, em Brasília, a entidade vai pedir que o presidente coloque em prática o programa de governo para a agricultura.
"Nós vamos dizer: "Aplique o que você prometeu na campanha'", disse Stedile.
O documento "Vida Digna no Campo", divulgado durante a campanha presidencial, não estabelece número de famílias a serem assentadas. Promete o confisco das propriedades onde ocorrer trabalho escravo, a retomada, pela União, de áreas griladas e "programa de fortalecimento da agricultura familiar e do assentamentos de reforma agrária".
Stedile disse que o governo precisa "transformar as linhas políticas em linhas de ação".
"Casar a reforma agrária com a agroindústria nos assentamentos, como o Lula disse querer fazer, por exemplo, é ponto em que concordamos", disse Stedile.
Indagado sobre a situação de José Rainha Júnior, líder do MST no Pontal do Paranapanema (SP), Stedile disse que em 2002 a direção regional da entidade no Pontal decidiu puni-lo, afastando-o das instâncias deliberativas. A punição foi confirmada pela direção estadual do MST. Stedile afirmou que houve "um processo interno", após alegações de que Rainha teria infringido "normas de convivência" da entidade, as quais ele preferiu não mencionar, por serem "assunto interno". Segundo Stedile, a entidade decidiu que Rainha "tem o direito" de falar "com quem quiser", mas "não em nome do MST".


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