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CONFLITO AGRÁRIO
Integrante da direção nacional diz que movimento pedirá a Lula que "cumpra o que prometeu na campanha"
"Não existe a palavra trégua", diz Stedile
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O economista João Pedro Stedile, 49, da direção nacional do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra), disse ontem
que a entidade não vai suspender
as invasões de terra no país como
parte de uma negociação com o
Palácio do Planalto.
"Para nós não existe essa palavra, trégua. As ocupações são a
forma natural de o movimento
funcionar. E o governo nunca nos
pediu isso", declarou Stedile, que
atribuiu a divulgação da idéia à
"mídia" e à "direita".
Anteontem, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva pediu "paciência" à "gente afobada" que
cobra uma reforma agrária mais
rápida do governo federal.
Stedile procurou não estimular
polêmica com o presidente, ao
afirmar que há "muitos pontos"
de acordo entre a entidade e o
programa de governo de Lula.
O líder do MST apontou três explicações para o aumento do número de invasões no país nos seis primeiros meses do ano.
A primeira seria uma "demanda reprimida nos últimos quatros
anos pelo governo Fernando
Henrique". A segunda seria o
"aumento da miséria, da pobreza
e do desemprego no campo".
O terceiro fator apontado por
Stedile foi a expectativa criada entre os acampados do MST pela
eleição de Lula: "Não podemos
negar que a nossa base percebe
que mudou o governo e que há
um compromisso histórico de
Lula com a reforma agrária".
O líder do MST afirmou que os
acampados "estão animados",
mas a ordem para invasões de terra durante o governo Lula "nunca
partiu" da direção do MST.
"Se fosse por nossa vontade, tínhamos enchido o país de ocupações ainda em 1986, no governo de José Sarney", ironizou Stedile.
Ao comentar a possibilidade de
uma suspensão das invasões para
não comprometer o diálogo com
o governo de Lula, Stedile disse
que elas são a própria razão de
existir da entidade.
"Nós vamos continuar, sempre,
organizando os pobres do campo
para que lutem por seus direitos",
afirmou Stedile.
O líder do MST afirmou que no
encontro agendado para o próximo dia 7 com Lula, em Brasília, a
entidade vai pedir que o presidente coloque em prática o programa
de governo para a agricultura.
"Nós vamos dizer: "Aplique o
que você prometeu na campanha'", disse Stedile.
O documento "Vida Digna no
Campo", divulgado durante a
campanha presidencial, não estabelece número de famílias a serem assentadas. Promete o confisco das propriedades onde ocorrer trabalho escravo, a retomada,
pela União, de áreas griladas e
"programa de fortalecimento da
agricultura familiar e do assentamentos de reforma agrária".
Stedile disse que o governo precisa "transformar as linhas políticas em linhas de ação".
"Casar a reforma agrária com a
agroindústria nos assentamentos,
como o Lula disse querer fazer,
por exemplo, é ponto em que
concordamos", disse Stedile.
Indagado sobre a situação de José Rainha Júnior, líder do MST no
Pontal do Paranapanema (SP),
Stedile disse que em 2002 a direção regional da entidade no Pontal decidiu puni-lo, afastando-o
das instâncias deliberativas. A punição foi confirmada pela direção
estadual do MST. Stedile afirmou
que houve "um processo interno", após alegações de que Rainha teria infringido "normas de
convivência" da entidade, as
quais ele preferiu não mencionar,
por serem "assunto interno". Segundo Stedile, a entidade decidiu
que Rainha "tem o direito" de falar "com quem quiser", mas "não
em nome do MST".
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